Fim das minivans? Por que até a Chevrolet Spin se rendeu à 'era dos SUVs'

A chegada do C3 Aircross fez a Chevrolet se mexer para renovar sua Spin, que até então era o único modelo de sete lugares entre os mais acessíveis. As atualizações deixaram claro que, além do público cativo e fiel do produto, a montadora almeja também mais clientes fora da modalidade de vendas diretas, que adquirem o carro nas concessionárias para uso pessoal.
Para isso, a Chevrolet aumentou o vão livre do solo da Spin em todas as versões e passou a chamar o produto de crossover, em vez de minivan. A Citroën já tinha feito isso com o C3 Aircross, classificado pela marca como SUV.
É importante ressaltar que crossover e SUV não são necessariamente a mesma coisa. Isso porque, tecnicamente, crossover é cruzamento de carrocerias. Ou seja: um sedã cupê como o Porsche Panamera ou um SUV cupê como o Fiat Fastback. Indo além, também pode ser um cruzamento de conceitos, a exemplo de um utilitário-esportivo em base de carro de passeio - como a maioria dos modelos do segmento.
Assim, ao aumentar o vão livre do solo da minivan Spin, a Chevrolet não está tecnicamente incorreta ao usar o termo crossover. No entanto, é sim uma jogada de marketing, já que não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, a definição técnica vale muito pouco, e SUV e crossover acabam sendo considerados praticamente sinônimos.
Para o público PJ, ser minivan ou crossover não faz grande diferença. Já no varejo, essa mudança de posicionamento é fundamental. Afinal, foi o desejo desse consumidor por SUVs que acabou levando à quase extinção da maioria dos demais segmentos. Assim, essa estratégia reforça a busca da Chevrolet para, com a nova Spin, por maior variedade de consumidores - além de mais armas para enfrentar o C3 Aircross.
Contudo, é preciso também cuidado para não perder o fiel consumidor do modelo que, de acordo com a própria Chevrolet, é o com maior índice de fidelidade de sua linha. Em 2020, 74,35% das vendas da Spin foram na modalidade venda direta - 15.105, do total de 20.314 unidades emplacadas.
Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A montadora, no entanto, acredita que, com o produto renovado, a tendência é que esse mix mude. Não que o varejo passe a representar a maioria dos negócios. Apenas deverá ter um percentual maior do que o atual na participação total.
Novo design agrada
Outra mudança está no visual: a Spin ficou mais bonita. E, conforme a Chevrolet, 42% de suas peças foram atualizadas - passando por renovação ou total modificação.
Assim, temos um produto com apelo visual mais interessante sem perder os atributos de antes. As versões de cinco lugares têm 756 litros no porta-malas. As de sete, 553 l, quando os bancos da terceira fileira não estão em uso. Além disso, o espaço interno agrada bastante.

Entretanto, atrasou e ficou para a Spin. Em breve, passará a equipar a renovada S10 e, depois, os outros carros brasileiros da Chevrolet - Onix, Onix Plus, Tracker e a própria Montana. O multimídia ficou mais rápido e teve sua usabilidade aprimorada. Além disso, pela primeira vez um produto nacional da marca tem painel digital - e configurável. A nova tecnologia, além de aumentar a praticidade, deixou a cabine mais bonita.
E o motor?
Houve algo fundamental que a Chevrolet não fez: trocar o bom e velho motor aspirado 1.8 por um turbo. Opções turbinadas a marca tem na linha: há o 1.0 e o 1.2 dos carros da plataforma do Onix (que inclui Onix Plus, Tracker e Montana). Então, por que não investir em um propulsor que garantiria desempenho melhor?

A Chevrolet poderia ter colocado motor turbo na Spin? Sim, mas não seria tão simples. O modelo usa uma plataforma antiga, que não é a mesma dos atuais Onix e seus derivados. A marca até considerou criar uma nova geração da Spin nessa base. Porém, chegou à conclusão de que teria um modelo bem mais caro - algo que levaria à perda de parte de seu fiel público.
Outra possibilidade era adaptar o motor turbo à atual plataforma da Spin. Mais uma vez, haveria um custo alto, que seria repassado ao produto. Então, em vez de fazer essa inovação, a montadora optou por retrabalhar o bom e velho 1.8 para deixá-lo mais econômico. E isso acabou gerando até uma perda de agilidade.
Mas, para o público fiel da Spin, que usa o modelo para o trabalho, é mais importante ser econômico do que ágil. E, nesse ponto, é o momento de falar algo que todos sabemos: trata-se de um dos modelos mais usados por taxistas. O que não é demérito.
Dois grandes "hits" do varejo, o sedã Corolla e a antiga geração do HR-V, são muito populares entre taxistas. A categoria é um ótimo termômetro, já que precisa de carros duráveis, de fácil manutenção e econômicos. Com o bom e velho 1.8, a Spin se enquadra em todos os quesitos.
Fidelidade é o mais importante
Esta não é uma tese de defesa da Spin, que sem nenhuma dúvida ficaria melhor com motor turbo. O desempenho da minivan (eu vou continuar chamando de minivan) não agrada. Ela é lenta em algumas situações, como em subidas, na estrada. Se o motorista deixar o conta-giros baixar de 2.000 rpm, o carro vai sofrer em retomadas.

Claro que novos consumidores são não apenas bem-vindos, mas também muito desejados, o que ficou claro em muitos aspectos do posicionamento do renovado produto. O alvo, no varejo, são os consumidores de perfil familiar, não necessariamente aqueles que vivem na estrada - situação em que motor forte fará mais diferença. A marca aposta naqueles que dão mais valor à usabilidade do que ao desempenho.
E, na Spin, a usabilidade é representada por coisas como multimídia moderno e intuitivo, várias opções de carregamento de smartphone, sistemas de segurança e facilidades como partida por botão. Fora a flexibilidade da cabine. Essa é a aposta, e também a escolha da marca. Para aqueles que querem desempenho, e estão dispostos a pagar mais, há o Tracker. O problema é que ele não tem porta-malas e espaço interno tão interessantes.
Preços da nova Spin
Cinco lugares
LT manual - R$ 119.990
LT automática - R$ 126.990
Sete lugares
LTZ automática - R$ 137.990
Premier automática - R$ 144.990
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