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Mercedes mais caro do Brasil é jipe 'velha guarda' que ainda cativa famosos

O Mercedes-Benz mais caro do Brasil não é elétrico, nem tem nenhum tipo de eletrificação. Não traz sistemas tecnológicos de outro planeta. O visual, para quem não conhece sua história, pode parecer para lá de datado. Além disso, nem multimídia sensível ao toque ele oferece. Ainda assim, custa R$ 1.932.900. São quase R$ 500 mil a mais que o segundo colocado da lista (o sedã a bateria EQS, um suprassumo da tecnologia).

Mas, afinal, qual é o Mercedes-Benz mais caro do Brasil? Ele atende popularmente pelo nome de G63 AMG, embora oficialmente seja o Mercedes-AMG G63. Trata-se da versão esportiva do Classe G, produto que é sonho de consumo de todo jipeiro e até de outros fãs de SUVs de luxo que não fazem nenhuma ideia sobre qual é a verdadeira essência desse modelo.

O Classe G está muito longe de ser um suprassumo da tecnologia, diferentemente de seus companheiros eletrificados de gama Mercedes. Além disso, tem grandes chances de desapontar aqueles que alegam ser o modelo seu sonho de consumo, mas estão muito distantes do perfil de cliente jipeiro. Isso porque, para um Mercedes convencional, é até muito desconfortável.

Algo que certamente vai surpreender - provavelmente de forma negativa - donos de X5, GLE, GLS, Cayenne, Q7 e até Range Rover que planejam fazer do Classe G seu próximo passo. Porque o modelo nada tem a ver com o conceito tradicional de SUV. E é isso que faz dele um produto tão peculiar e cheio de personalidade.

Tradição

Existem poucos modelos no mundo que nasceram há muitas décadas e, ao longo dos anos, sobreviveram fazendo adequações a seus tempos, mas sem perder a essência. Um deles é o Mustang. O outro, o 911. No segmento de jipes, há o Wrangler e havia o Defender, que acabou rompendo com sua origem ao adotar, na atual geração, plataforma de carro de passeio, abandonando a construção sobre chassi.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

Em 2018 veio sua mudança radical. O G teve uma renovação visual, mas sem perder as linhas quadradas, os faróis arredondados e o estepe na tampa do porta-malas que marcaram sua história. Outro charme fica por conta das saídas de escape duplas nas laterais.

O que causou certa revolta, no entanto, foi a substituição da suspensão dianteira uma independente. A traseira continuou por eixo rígido. Aliás, nada de base de carro de passeio, ok? O G continua sendo construído sobre chassi.

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Ainda assim, os puristas reclamaram, pois ali o G perdia um pouco de sua aura de tanque de guerra para ficar com mais pegada de Mercedes. O conforto foi aprimorado.

Mas o tempo passou e os revoltados notaram que o G não deixou de ser robusto. Ele apenas ficou mais usável, embora não confortável a ponto de parecer um carro de passeio. Coisa que, esperamos, nunca será enquanto conseguir se manter vivo.

No Brasil

O Classe G, além de ícone mundial - como 911 e Mustang -, se tornou carro de celebridades de todos os setores, de jogadores de futebol a artistas de Hollywood. O mercado brasileiro sempre o desejou, mas os raros exemplares que circulavam por aqui eram trazidos por importação independente.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

O G63 traz motor V8 de 585 cv e 87 kgfm de torque e acelera de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos, com velocidade máxima de 240 km/h. O 4.0 projeta pelas saídas laterais um som ensurdecedor em qualquer situação, mas ressaltado nos modos mais esportivos de condução - se deixar o vidro aberto, é impossível não arrepiar com o urro do oito-cilindros na aceleração.

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O paradoxo é que essa preparação toda é feita em um jipão com três tipos de bloqueio de diferencial, tração 4x4 permanente, reduzida e capaz de escalar pedras e enfrentar os terrenos mais adversos. Tem vão livre do solo de 24,1 cm e ângulos absurdos - 31 graus na frente e 30 atrás, além do central de 26 graus.

A altura é de quase 2 metros, bem como a largura. Isso resulta em um altíssimo centro de gravidade. Fazer curvas em alta velocidade o G63 faz sim. Sua suspensão tem preparação para isso. Mas, naquelas mais travadas, dá um medo.

É inevitável aliviar o pé. Até porque, em algumas, você vai sentir inclinação na carroceria e, se exagerar demais, se ver muito perto de perder o controle. Porque, antes de esportivo, o G é um jipe.

Barulhos de série

E, jipe que é, ele tem algumas coisas inacreditáveis para quem não conhece a história do carro e espera que, antes de ser um Classe G, ele seja um Mercedes-Benz. Os botões de abertura das portas e porta-malas são de caminhão. E, ao batê-las, você vai escutar aquele mesmo barulho de carros bem antigos. Sabe Fusca? Kombi? Então, é isso. Ou algo muito parecido com isso.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL
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E isso forma um segundo paradoxo com o acabamento extremamente luxuoso, com forrações sofisticadas até mesmo na tampa do porta-malas. Aliás, o exemplar avaliado tinha fibra de carbono por várias partes do acabamento. Isso, aliás, é opcional, por mais de R$ 50 mil.

Dá para optar por outros tipos de acabamento, como o de madeira. O exemplar avaliado trazia também como opcionais as rodas bem fechadas e a cor, chamada de "Green Hell" (inferno verde). Para quem não sabe, esse é o mais famoso apelido do lendário autódromo alemão de Nurburgring Nordschleife. Aliás, cada um desses extras sai por mais de R$ 25 mil.

Tecnologia

Fiel à história, mas adaptado aos novos tempos. A fórmula de 911 e Mustang é a mesma do Classe G. Por isso, o jipe tem muita tecnologia embarcada. Para entretenimento, há o ´poderoso sistema de som Burmester. Para ajudar a estacionar, câmeras 360.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

Sem o ACC, e dirigindo com aquelas acelerações fortes que todo AMG merece? Pouco mais de 5 km/l. Quem compra um AMG está preocupado com isso? Não sei, pois não sou dona de nenhum AMG. Mas o consumo de um carro assim gera sempre curiosidade em quem não pode comprar - ou seja, a maioria das pessoas.

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O tanque de combustível tem capacidade de 100 litros. Com pé tranquilo, o carro vai passar dos 500 km de autonomia. Com pé nervoso? Mal vai chegar aos 400 km. E, se alguém ainda tem dúvidas sobre isso, o G63 é a gasolina.

Coisas esquisitas

Mas há algumas coisas no G63 à venda neste momento no Brasil que causam estranheza. A central multimídia não é sensível ao toque. Android Auto e Apple CarPlay? Tem sim, mas com fio. Aliás, só há entradas USB do tipo A.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

Esse sistema operacional da Mercedes-Benz, aliás, é um dos menos intuitivos entre todos os já lançados por marcas de luxo. O novo infotainment da montadora, no entanto, é sensacional, e já está em diversos modelos elétricos e a combustão - entre eles, o Classe C.

Pois esse sistema acaba de ser incorporado ao Classe G (em todas as versões). Agora, há até mapa com realidade aumentada. E, claro, há o básico: multimídia sensível ao toque, entradas USB-C, conexão sem fio para CarPlay e Android Auto, carregador de smartphone por indução, etc.

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E quando esse renovado Classe G chega ao Brasil? Ainda não sabemos. A Mercedes-Benz levou tanto tempo para finalmente importar o carro que fica difícil prever qual será o próximo passo. Aliás, há uma boa notícia para os puristas. A versão G500 teve o V8 trocado por um seis-cilindros (calma, que está não é ainda a novidade legal. Ela vem a seguir).

Já a G63 manteve o oito-cilindros, que ganhou auxílio de bateria e se tornou um híbrido leve. Com isso, a potência, por alguns segundos, ultrapassa os 600 cv, com torque de quase 110 kgfm. 0 a 100 km/h? 4,2 segundos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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