Turo: como funciona e quanto custa o 'Airbnb dos carros' que bomba nos EUA

Para quem está acostumado a locadoras tradicionais, a Turo também tem algumas "pegadinhas", sobre as quais falarei bastante no decorrer deste texto. Aqui, está um guia completo para você usar o Airbnb dos carros - e se dar muito bem com a escolha.

Procurando o carro

Qualquer pessoa pode anunciar seu carro no Turo. E, como no Airbnb, há uma nota tanto para o produto (o modelo alugado) quanto para o host (o dono do veículo, ou aquele responsável por sua locação dentro da plataforma). Isso já garante mais segurança ao usuário que procura um exemplar para alugar.

Além da reputação do anfitrião, é possível também ver comentários de usuários que utilizaram anteriormente aquele produto, ou mesmo os que alugaram outro veículo com o mesmo host. No anúncio aparece também as condições gerais do exemplar, e do contrato de locação.

É possível pagar antecipadamente ou posteriormente. Alguns cobram valor maior para o segundo caso. Outros, não. Mas, como nas locadoras, independentemente da escolha o cartão de crédito será deixado como garantia para incidentes - por isso, não é possível pagar com os cartões de débito globais, cada vez mais populares entre os brasileiros (já que oferecem cotações mais baixas para moedas estrangeiras e IOF de apenas 1,1%, ante os mais de 4% dos de crédito).

Há bloqueio de algum valor no cartão de crédito? Depende do carro e do anfitrião. Para o Tesla Model 3 que reservei, não houve - apenas foi necessário concordar que cobranças posteriores poderiam ser realizadas naquele meio de pagamento, se houvesse incidentes.

Já para um Corvette, na mesma cidade (Las Vegas), era preciso deixar garantia de US$ 800 (por causa do valor e da categoria do produto, um esportivo).

Esse valor é apenas pré-autorização. Portanto, ao final do empréstimo, desparece do cartão de crédito - não há necessidade de estorno. Porém, compromete o limite do cartão, algo que pode atrapalhar aqueles que estão em viagem internacional e não têm crédito muito alto.

Não é diferente do que ocorre em locadoras tradicionais: tudo depende do modelo e da empresa. Para um Audi A3 Sedan na Alamo, a locadora bloqueou apenas US$ 1 em meu cartão de crédito. Já para um Ford Focus na Hertz, houve bloqueio de US$ 300 - nesse caso, por política da empresa, já que o veículo era até de categoria inferior.

Tudo pelo aplicativo

Da escolha ao pagamento, tudo é feito por meio do aplicativo Turo, que é rápido e intuitivo. Escolhe-se a cidade, o dia e o horário de retirada, e então aparecem as opções. Em seguida, surgem os filtros, e nesse momento é preciso ficar de olho nas necessidades e transformar as desvantagens em vantagens (leia mais abaixo).

Dá para escolher a categoria do veículo, o número de milhas diárias incluídas para rodar, o ano do carro, a marca desejada, se é a combustão, híbrido ou elétrico e até apontar apenas ofertas que tenham entrega e retirada gratuitas.

Depois disso, vem o pagamento. Há cobrança de algumas taxas (leia mais abaixo) e recomenda-se adicionar um plano de proteção (como em locadoras). Sem eles, os custos por incidentes são todos do locatário.

Tudo escolhido, surge o pagamento. Apenas após a confirmação é possível falar com o host. Nesse momento, podem surgir questões, principalmente logísticas, que não vão agradar o locatário. Ainda assim, mesmo quem pagou com antecedência ainda tem opção: cancelar a compra.

O período para desistência é mostrado antes da consolidação da compra. Ainda assim, em qualquer caso, o usuário ainda tem pelo menos uma hora para desistir. O cancelamento da compra no cartão de crédito é instantâneo - como ocorre, por exemplo, no iFood. Não é necessário nenhum tipo de estorno pois, nesse primeiro momento, mesmo com pagamento antecipado, é feita apenas uma pré-autorização.

Antes de conseguir consolidar pedidos e compras no app, é preciso fazer um rápido cadastro, com informações como telefone, país de origem e dados e fotos da CNH. Nesse ponto, o sistema teve dificuldades em validar os dados de minha habilitação.

Isso pode ter ocorrido por causa do idioma diferente, e é comum com usuários do Brasil - isso porque diversos seguidores (do Instagram) que já usaram o app relataram o mesmo problema. Mas tudo foi resolvido rapidamente.

A Turo enviou um e-mail e pediu que eu enviasse novamente duas fotos: da CNH e uma minha com o documento ao lado do rosto - isso porque uma biometria facial também é exigida no app. Em menos de três horas estava tudo resolvido e meu cadastro, autorizado. Detalhe: era um domingo.

Preços e comparações

Abaixo, falarei mais das vantagens e desvantagens do Turo. Antes disso, é importante destacar os preços dos carros no app. Eles não são necessariamente mais baixos que em locadoras tradicionais. Tudo vai depender da cidade, do tipo de carro, do tempo desejado para a locação e da época do ano, entre outros fatores.

Valores para carros de BMW, Audi e Mercedes-Benz, entre outras, estavam com preço total a partir de US$ 300 (R$ 1.500) na Turo - no caso de modelos novos, de 2022 em diante. Já no aeroporto, dava para alugar alguns modelos dessas marcas a partir de US$ 100 (R$ 500), na Alamo (principalmente usando terceiras partes como os sites Rentcars.com e Decolar).

Já no caso de um Tesla Model 3, por US$ 80 (R$ 400) aluguei um exemplar 2023, já com tudo incluído - inclusive entrega em meu hotel (leia mais abaixo). No escritório da Hertz localizado em meu hotel, o mesmo veículo tinha valor final de US$ 120 (R$ 600).

Já em Chicago, em abril, dá para alugar um BMW X3 2022 (geração atual do modelo) por US$ 112 (R$ 560) a diária, já com tudo incluído. Na Hertz, por exemplo, o preço é de US$ 225 (R$ 1.125), na mesma data, também com seguro.

Já alugando pela Rent Cars, uma terceira parte, um veículo da mesma categoria do X3 sai por R$ 645, com tudo incluído, na mesma data - mas também sem garantia de que o BMW estará à disposição. Ou seja: nessa simulação, a melhor cotação foi com a Turo.

Outra simulação que fiz foi com o Toyota Corolla 2022, em Orlando, em março. O modelo é um dos mais comuns em locadores tradicionais. Na Turo, encontrei oferta de US$ 70 (R$ 350) a diária, com todas as taxas e seguros. O pagamento pode ser imediato ou até o fim de fevereiro. Não há depósito no cartão de crédito.

Na Hertz, um modelo da categoria do Corolla parte de US$ 100 (R$ 500), nos mesmos local e data. Não é necessário cartão de crédito para reserva e o pagamento é fechado apenas na devolução do veículo - mas há depósito, a ser informado no momento da retirada. Na Rent Cars, são R$ 315 - com opção de pagamento antecipado, na plataforma, em Reais, ou para a própria locadora, na devolução, em dólares.

A Turo cobra uma taxa de viagem que varia de carro para carro, mas nunca é muito alta. Há também imposto, mas apenas de vendas (com valor bem inferior aos cobrados por locadoras). O grande diferencial, porém, é o seguro, que pode até não ser obrigatório na teoria, mas na prática é - por causa do altíssimo risco de locar o carro sem nenhuma proteção.

Na Turo, o básico custa US$ 10 (R$ 50) por dia. Em locadoras, entre US$ 20 (R$ 100) e US$ 50 (R$ 250) a diária.

Vantagens e desvantagens

O maior diferencial da Turo é mesmo poder escolher aquele modelo desejado. O preço, como expliquei, no geral é vantajoso, mas nem sempre - especialmente para carros de luxo. Só que, ao reservar em uma locadora, você escolhe a categoria, não um carro.

Então há uma chance, por exemplo, de reservar um BMW Série 3, ou Audi A4, e levar um Chrysler 300. Para isso, basta que os alemães não estejam disponíveis. E isso ocorre porque os três estão na mesma categoria no portfolio das montadoras: luxo.

Há uma outra coisa importante: sabe aquele esportivo que você sonha alugar, mas não encontra em locadoras tradicionais - ou não quer correr o risco de ele não estar disponível? Alguns desses produtos podem sair bem caros na Turo. Porém, sempre há a possibilidade de encontrar opções mais em conta, já que o valor é estipulado não por uma empresa, mas pela pessoa física.

E essas chances aumentam se você estiver disposto a pegar esportivos um pouco mais antigos (não necessariamente das gerações atuais). Em Orlando, por exemplo, encontrei um Porsche 718 Boxster 2019 por US$ 150 (R$ 750) a diária, já com tudo incluído.

O problema é que, até a devolução, haverá cobrança de depósito de US$ 750 (R$ 3.750) - certifique-se de usar um cartão de de crédito com limite alto, ou que não será utilizado para outras despesas da viagem.

Outra coisa legal do Turo é a possibilidade de entrega e devolução no local combinado, sem custo. Porém, fique atento: geralmente, há sim uma taxa para esse serviço - que pode ultrapassar os US$ 100 (R$ 500). Mas é possível selecionar, nos filtros de busca, apenas modelos que ofereçam gratuitamente essa facilidade.

Limita as opções, mas é uma ferramenta bem útil para quem faz questão - ou simplesmente precisa - dessa funcionalidade.

Desvantagens

E aí está uma das maiores desvantagens da Turo: o local em que o carro está. O serviço de entrega e devolução gratuitos limita muito a oferta. Então, a opção é pagar pela taxa (que tira toda a vantagem de preço do app ante as locadoras, na maioria dos casos) ou ir até o local de retirada.

Em alguns casos, esse local é informado antes. Em outros, apenas após a consolidação da reserva. Mas, nesse caso, se for muito distante, haverá sempre a possibilidade de cancelamento em até uma hora.

O mesmo problema de retirada pode ocorrer com as locadoras. Mas, nesse caso, você pode escolher o local mais próximo antes de fechar qualquer negócio. Além disso, para quem vai alugar um veículo para toda a viagem, o que é bastante comum, com as empresas tradicionais retira-se e devolve-se no aeroporto. Bem mais fácil, né?

Eu não achei a Turo muito vantajosa em locações mais longas. Além de não haver possibilidade de retirar e devolver em cidades diferentes - algo que pode ser interessante em uma road trip -, o desconto para uma semana de aluguel é baixo. Sabe aquele mesmo Corolla 2022 de Orlando, cuja cotação simulei acima?

Para a locação de uma semana o valor sobe para US$ 425 (R$ 2.125) na Turo. Ainda é mais vantajoso que em sites de locadoras, por causa do valor de seguro altíssimo cobrado por estas. Na Hertz e na Avis, a cotação foi de US$ 650 (R$ 3.250) para um modelo de mesma categoria. Só que na Rent Cars, ficou bem mais em conta: a partir de R$ 1.550. Já com seguro, ok?

Tem uma outra "pegadinha" na Turo: a maioria dos carros tem quilometragem diária limitada - geralmente entre 100 e 200 milhas. Passou? Pagou (e o valor por milha extra pode ser bem alto)! Péssima ideia, portanto, para quem vai cair na estrada com o carro, mas não um grande problema aos usuários que locaram para circular pela cidade.

Tem isso nas locadoras tradicionais? Tinha! Atualmente, é bem difícil isso ocorrer. Algumas até oferecem uma tarifa menor para milhas diárias limitadas mas, na hora de consolidar a reserva, tem sempre uma promoção que "libera" a distância rodada. Para não dizer que isso ocorre sempre, é sim quase sempre.

Nos filtros da Turo, dá para optar apenas por carros com quilometragem ilimitada. Mais uma vez, vai reduzir bastante as opções. Mas, para quem quer viajar, é uma maneira de garantir que não haverá surpresas - cobranças posteriores não esperadas - no cartão de crédito da garantia.

Dicas para usar a Turo

O que eu mais curti na Turo foi a possibilidade de escolher meu carro. Eu queria um Tesla Model 3 e, em meu hotel, não havia nenhum disponível. Consegui um novíssimo, da cor que eu desejava e ainda com entrega gratuita em meu hotel.

Preço? Foi sim mais em conta que o cobrado pela Hertz disponível em meu hotel (fiz a cotação, mesmo sem disponibilidade). Eu poderia conseguir um Model 3 no aeroporto, pagando menos, por meio de uma reserva na Rent Cars. Mas teria de me locomover até lá, e ainda pagar pelo transporte, o que poderia tirar a vantagem.

Mas, na Turo, cada caso é um caso. Por isso, se sua razão para procurar locação pelo app for apenas financeira (não a busca por um carro específico), compare sempe os valores com os de sites de locadoras tradicionais e de terceiras partes.

É inegável que, na maioria dos casos, o app tem uma boa vantagem de preço, conforme mostraram as simulações acima. Mas há exceções. E não são raras.

Alugar carros em qualquer lugar pode sempre acabar gerando cobranças não esperadas no cartão de crédito. Nos EUA, isso é mais comum que no Brasil. Na Turo, não é diferente. Por isso, certifique-se sempre de entregar o veículo totalmente reabastecido ou recarregado (no caso de elétricos).

Ou, então, opte por pagar o tanque de combustível ou recarga elétrica antecipadamente (algo possível na Turo e nas locadoras tradicionais). Só que, aqui, há uma diferença fundamental. Em empresas como Alamo, Hertz, Avis e Sixt, entre outras, há a evidência na entrega: o carro, que no caso pertence à própria companhia.

Na Turo, o papel da start-up é apenas de intermediação. Quem vai checar o veículo é o host e, aí, será a palavra dele contra a do locatário. Por isso, é importante fotografar todo o veículo, contextualizando data e local, antes da entrega - que muitas vezes é sem contato com o proprietário do carro.

De preferência, produza um vídeo mostrando que o tanque está cheio ou a bateria, recarregada, evidenciando o local e o horário da entrega. Estas são evidências que você precisará ter para não correr o risco de pagar o que não deve caso ocorra alguma discordância pós devolução.

Eu fiz tudo isso, porque logo após a consolidação do negócio o host já enviou uma mensagem automática afirmando que o estacionamento do hotel seria cobrado em meu cartão de crédito, caso fosse pago (já que optei por entrega a domicílio). Assim como a recarga do Model 3, se realizada em carregadores da Model 3 - já que esta é debitada automaticamente na conta Tesla do dono do veículo.

Não sei vocês, mas eu não sou adepta a cobranças não programadas em meu cartão, ainda mais sem valor acertado anteriormente. Até porque, uma vez consolidada a cobrança, muitas vezes não é possível cancelar. Nesse caso, ocorrerá o estorno do valor indevido cobrado. Com gastos no exterior, isso acaba gerando uma perda na operação cambial - que pode ser bastante alta, dependendo do valor.

Por fim, escolha bem seu host. Se no Airbnb há o Superhost, na Turo há o All-Star Host. Ou seja: aquele com maior nível de satisfação tanto em relação ao produto quanto ao serviço prestado. Dê preferência a eles - por mais que você se sinta tentado a fechar negócio em um Porsche 911 que tem excelente preço, mas proprietário sem grande reputação na plataforma.

Ah, não tem Turo no Brasil, ok? Então, por enquanto, essa experiência de Airbnb dos carros é só para quem quer alugar um automóvel nos Estados Unidos.

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