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Aluguel de carros nos EUA: quanto custa e como fazer o melhor negócio

Viajar de carro nos Estados Unidos é uma verdadeira atração turística. Há muitas estradas famosas, como a Pacific Coast Highway (Califórnia) e a Route 66 (Chicago a Santa Mônica). Há também uma infinidade de rotas temáticas para se fazer: da música (Estados do Sul do País), do vinho (Nappa Valley), do bourbon (Kentucky), dos parques, desertos e reservas naturais (oeste do País).

Além disso, as rodovias têm excelente estado de conservação e são muito seguras. A maioria não cobra pedágio. E há sempre o cinema americano, que vem, no decorrer de sua história centenária, produzindo um grande número de road movies (filmes de estrada), muito deles cultuados. Essas obras despertam curiosidade e vontade de viver a experiência de uma road trip americana.

Mas, para colocar essa ideia em prática, é preciso ter um carro. Como é o processo de aluguel nos Estados Unidos? É fácil? Caro? Na verdade, é simples. E, com a orientação adequada, também pode sair por um preço bem em conta - muito mais que no Brasil, mesmo com a desvalorização do real ante o dólar.

Há muitas nuances para economizar e não cair em ciladas. E, nesse aspecto, a melhor dica é pagar com antecedência. Outra recomendação importante é nunca, jamais, deixar para fechar o aluguel no próprio balcão. Sem reserva antecipada, o preço, no mínimo, duplica.

Procurar terceiras partes confiáveis é fundamental. São sites especializados em encontrar as melhores ofertas - algo como um Booking.com do aluguel de carros. No geral, os preços são bem melhores que os encontrados na página da própria locadora.

Eu testei o aluguel de carros nos Estados Unidos, de diversas maneiras. Fiz por meio de terceiras partes e pelos sites das locadoras. Também cotei preços no próprio balcão. Usei duas locadoras diferentes. A partir dessa experiência, confira as dicas para fazer o melhor negócio.

Balcão e site da locadora

Meu primeiro aluguel em uma viagem com um total de duas locações foi uma diária em Los Angeles, com retirada no aeroporto. Escolhi aleatoriamente a Avis, e fui em ônibus da locadora até o estacionamento da empresa, nas imediações do aeroporto.

No aeroporto de Los Angeles não há uma área em que estão concentrados balcões de atendimento de todas as locadoras, como ocorre em alguns locais do Brasil - ou em Las Vegas, que tem um terminal só para aluguel de carros. Os escritórios estão nos próprios estacionamentos, nas imediações.

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Então cheguei ao balcão (não havia filas no espaçoso escritório) e fui informada de que o veículo mais barato partia de US$ 200 (R$ 1.000) a diária, sem seguro. Porém, há a possibilidade de fazer a reserva no site da Avis, na hora. Aí, os valores são mais em conta.

Optei por um "carro misterioso", com preço de US$ 30 (R$ 150) para pagamento antecipado no site (não aceita cartão de débito) ou US$ 37 (R$ 185) para deixar o cartão de crédito como garantia direto no balcão.

O "carro misterioso" da Avis é exclusivo para reservas na internet. Na teoria, você vai receber o veículo que estiver disponível no momento. Pode ser, por exemplo, elétrico urbano, de baixa autonomia - o que não é boa ideia para quem vai fazer road trip.

Na prática, não foi assim. Escolhi essa categoria, já que o carro não importava. Era para rodar algumas horas apenas dentro de Los Angeles. Mas o responsável pela entrega me deu opção: elétrico (Hyundai Ioniq) ou combustão (Toyota Camry). Isso, porém, vai depender da boa vontade de quem te atende, pois a regra é: o modelo que estiver disponível, sem direito à escolha.

Com impostos e uma infinidade de taxas que as locadoras cobram, a conta subiu para US$ 62. Mas era preciso também colocar seguro (US$ 18). Não é obrigatório, mas não contratar é um risco desnecessário. Se ocorrer qualquer incidente com o carro, a conta passa a ser do locatário. Abri mão, porém, do seguro contra terceiros (US$ 25). Decidi correr esse risco.

Então, a conta total foi de US$ 80 (R$ 400). Tive de deixar uma pré-autorização em cartão de crédito como garantia, algo que é necessário mesmo com pagamento antecipado. Sem isso, não é possível alugar o automóvel.

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Para um Corolla ou similar (veja detalhes sobre categorias abaixo), o custo da diária do aluguel era de US$ 70 (R$ 350). Com taxas e impostos, aumentava para US$ 125 (US$ 675).

A farra do cartão de crédito nos EUA

Devolver o carro, no fim do dia, foi um processo fácil. Há um atendente para checar o veículo. Mostrei que o modelo foi entregue com tanque de combustível cheio (obrigatório, ou haverá cobrança extra), e ele me entregou um recibo com o valor total do serviço de aluguel: os US$ 80 acordados. Assegurou, oralmente, que não haveria nenhuma cobrança por combustível.

O pagamento seria providenciado por meio do cartão de crédito que deixei como garantia. Só que, exatos dois minutos depois (eu já estava no Uber), foi enviado um novo recibo, por email. O valor era de US$ 103 (R$ 515), e havia sido feita uma cobrança de combustível.

Foi um erro, algo que não é incomum ocorrer quando se permite ao estabelecimento providenciar o pagamento por meio do cartão de crédito que gerou a pré-autorização. Nesse caso, a empresa está autorizada a cobrar o que quiser.

Direito do consumidor é algo sério nos Estados Unidos - bem mais que no Brasil. Porém, é preciso correr atrás para avisar à empresa que o erro foi cometido. O contato é na maioria das vezes por email, mas alguns casos exigem telefone - e cobrança de ligação internacional.

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Além disso, há uma perda que pode ser pequena ou grande, dependendo do valor. Pré-autorizações podem ser canceladas. Cobranças consolidadas, não. Nesse caso, é necessário o estorno. Que, além de demorar, gera prejuízo com perda cambial.

Uma maneira de amenizar (não eliminar) o risco de que esses erros ocorram é quitar a conta na devolução do carro, algo que é possível. Outra é usar empresas terceirizadas de confiança, e fazer pré-pagamento. Essa solução já usei diversas vezes. Nunca tive problemas.


Terceira parte: melhor negócio

Antes de fazer o aluguel diretamente com a Avis, eu havia consultado o preço no site Rentcars.com. O valor de um Toyota Corolla ou similar para retirada e devolução no aeroporto de Los Angeles, no mesmo dia, era de R$ 350 - já com tudo incluído, inclusive seguro e taxas de locadora. É uma diferença imensa ante os R$ 650 do site da empresa.

Só que não dá para fazer reservas tão de última hora no Rentcars.com. O site exige no mínimo quatro horas de antecedência. O Decolar, que já usei diversas vezes, todas com sucesso, pede apenas duas.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL
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Geralmente, entre duas cidades, há cobrança de tarifa de deslocamento. Mas, no Rentcars.com, algumas locadoras não cobravam essa taxa. Entre elas, a Avis, a Alamo e suas controladas (National e Enterprise). Já no caso de Hertz, Dollar e Sixt, o valor para devolução em uma cidade diferente era de 40% a 50% mais alto que o para entrega no mesmo local.

Assim, o aluguel de um Corolla na Avis saía pelos mesmos R$ 350. Porém, um pouco desgostosa com a locadora, acabei optando pela Alamo. A empresa é a que tem melhor nota no site, de 9.1 - estas são baseadas em opiniões dos clientes. A Avis, por sua vez, tem uma das piores médias - 6.8.

E essa classificação é outra vantagem dos sites terceirizados. Pois, na prática, esta acabou se mostrando real. Só que a Alamo é mais cara que a Avis - tanto no Rentcars quanto no site da companhia. Em média, a diária saía por US$ 20 (R$ 100) a mais. Assim, o valor do Corolla era de R$ 450.

Mas eu acabei optando por um carro da categoria premium, pelo qual paguei R$ 480. Há a opção de quitar antecipadamente - e parcelar em até 10 vezes sem juros, algo também permitido no Decolar - ou acertar no check-in. No primeiro caso, o pagamento pode ser feito em Real ou dólar (aceita-se cartão de débito de conta global).

No segundo, o pagamento será feito em dólar. Como optei pelo primeiro (quitação antecipada, pois tinha certeza sobre minha viagem), não posso depor sobre a experiência do outro método. Mas a retirada do carro foi bem simples, exigindo número da CNH e uma reserva de US$ 1 no cartão de crédito.

Na verdade, esta é uma pré-autorização como qualquer outra. Porém, usa-se um valor baixo para não comprometer o limite. Na devolução, após checagens, o valor foi cancelado imediatamente, comprovando que aquele cartão estava livre de qualquer cobrança adicional.

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Eu fiquei segura sobre o cancelamento instantâneo porque o banco que usei avisa sempre que essas operações ocorrem. Mas nem todas as instituições têm essa funcionalidade. Por isso, vale exigir do estabelecimento o comprovante de cancelamento (leia mais abaixo).

Vale ressaltar que, mesmo com pagamento antecipado, é possível cancelar sem custo a reserva no Rentcars.com. Nesse caso, haverá estorno. Por isso, se houver a possibilidade de desistir, pague sempre em Real - para eliminar perda cambial. E não use cartão de crédito global pré-pago - o estorno pode levar mais de um mês.

Experiência na Alamo

O estacionamento da Alamo é o mais distante - entre as locadoras mais renomadas - do aeroporto de Los Angeles. E, quando cheguei ao escritório, havia uma fila gigantesca -e poucos atendentes. Isso, porém, não comprometeu a experiência.

A Alamo tem totens para check-in online. Basta entrar com o número da reserva (o fornecido por terceirizadas é aceito também), fornecer o número da CNH, garantir a locação com cartão de crédito e pegar o comprovante para partir direto para a retirada do carro. Se houver dúvidas, há funcionários orientando clientes nesse atendimento.

Eu aluguei um carro da categoria premium, mas recebi um upgrade com facilidade. Havia exemplares disponíveis, que teriam der ser trazidos da garagem coberta. Ali no estacionamento, naquele momento, apenas um Camaro (que eu não queria, pelo gasto de combustível excessivo). Então, disseram para eu escolher um dos dois modelos de luxo (mais caros) ali disponíveis.

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Só que nenhum dos dois era ideal - não tinham Android Auto, fundamental para a viagem de quase 500 km que eu fiz. Rapidamente (coisa de cinco minutos), uma atendente trouxe da garagem coberta um produto premium, e ainda me deu algumas opções. Escolhi um Audi A3 Sedan.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

Categorias de carros

Quero alugar um Porsche 911 nos Estados Unidos. Consigo? Há empresas especializadas em modelos esportivos e exóticos, que fazem locação de produtos específicos. Nas locadoras tradicionais, não é assim.

Aluga-se uma categoria. Tanto que você sempre vai ver na descrição: "carro de referência ou similar", seguido do segmento a que aquele modelo pertence. Um exemplo clássico: "Toyota Corolla ou similar". Os similares ao sedã, que pertence à categoria intermediária (midsize), podem ser VW Jetta, Honda Civic, Nissan Sentra ou mesmo hatches como VW Golf (mais raro nas locadoras dos EUA).

A intermediária é uma das categorias mais procuradas. Abaixo dela, há a econômica (Mitsubishi Mirage, Kia Soul), a compacta (Nissan Versa ou similar) e a de SUVs compactos (Kicks, EcoSport, etc). Os valores das diárias dessas quatro classes é muito similar. Na Alamo, variam de US$ 55 (R$ 275) a US$ 60 (R$ 300) para retirada em meados de fevereiro, em Las Vegas - valores sem taxas e seguros.

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Em seguida, vêm os grandes (fullsize), representados por Toyota Camry e Nissan Altima, principalmente. Os premium têm como principal referência o Nissan Maxima, mas incluem Audi A3 Sedan, BMW Série 2 e, em algumas locadoras, Ford Mustang e Chevrolet Camaro (há as que os classificam como muscle cars).

Nos luxuosos, geralmente o cliente verá como referência o Chrysler 300. Porém, poderá levar um Volvo S60, um Audi A4, um BMW Série 3 ou um Mercedes-Benz Classe C, entre outros. Estes têm valores próximos aos dos grandes e premium - de US$ 70 (R$ 350) e US$ 75 (R$ 375), no mesmo período, local e locadora, também sem taxas e seguros.

Todas essas categorias estão disponíveis também em sites terceirizados. Nesse caso, os preços são ainda mais próximos. Procurando bastante, dá para encontrar um luxuoso pelo mesmo valor de um compacto - ou por uma diferença bem pequena, de R$ 30 a R$ 50 por dia.

Só que os terceirizados não têm os modelos especiais: superluxo, superpremium, esportivos, superesportivos. Esses modelos - de marcas como Porsche e Maserati - estão apenas disponíveis para reserva em sites das locadoras. E em locais específicos, como Los Angeles.

Reservar um BMW Série 3 não é garantia de levar o sedã. Ele é a referência. O consumidor tem sim poder de escolha, mas dentro do que está disponível, naquele momento, no estoque da locadora. Que pode ser, por exemplo, um Chrysler 300.

Dicas valiosas para alugar um carro

- Quanto mais se aluga, menos se paga. No Rentcars.com, locar um SUV compacto como o Kicks por dois dias sai por R$ 880 (diária de R$ 440) em fevereiro, em Los Angeles. Por sete dias, o valor é de R$ 1.701 (diária de R$ 243).

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- Para comparação, sete dias com o mesmo carro (Nissan Kicks) em janeiro de 2024 saía por cerca de R$ 6 mil, em Salvador, com a Localiza. Ou seja: alugar um carro nos EUA vale a pena.

- Nunca deixe para reservar nos balcões. Os preços serão sempre mais altos.

- Reserve com terceiras partes confiáveis. Os preços serão sempre mais baixos que em sites de locadoras. Sempre. Já usei Decolar e Rentcars, e não tenho nenhuma reclamação sobre os serviços de ambas.

- Fique de olho na classificação das locadoras nos sites terceirizados. Elas são baseadas na opinião de clientes e, na minha experiência, se mostraram reais. Procure escolher as com melhores notas, mesmo que tenha de pagar um pouco mais por isso.

- Se a ideia é fazer road trip, pode ser interessante retirada em uma cidade, e devolução em outra. Fique de olho nas locadoras que não cobram deslocamento (geralmente bastante caras). Mesmo que tenham essa taxa em seus sites, podem não ter em terceirizados (caso da Alamo, Avis, National e Enteprise no Rentcars.com).

- Aproveite a experiência nos Estados Unidos para reservar um carro bacana. Um premium ou luxuoso (Audi, BMW, Volvo) tem preço bem semelhante ao de um intermediário (Corolla). Vale pagar R$ 500 a mais por uma semana com um modelo que dificilmente você conseguirá alugar no Brasil - por um valor tão em conta.

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- O cartão de crédito para garantia é obrigatório no aluguel de carros. Não há escapatória. Para se livrar de taxas indesejadas e cobranças indevidas, pague antes online (melhor em sites de terceirizadas). Ou, se não for possível, quite tudo na devolução. Jamais deixe a locadora "cuidar do pagamento" com o cartão de crédito cujos dados foram deixados em garantia.

- Na devolução, peça sempre o recibo impresso (não deixe para receber apenas por e-mail). Exija também o comprovante de que a pré-autorização no cartão de crédito foi cancelada. O funcionário pode até dificultar o processo mas, na verdade, é obrigado a fornecer essa evidência, que evitará surpresas na fatura.

- Devolva o carro com o tanque cheio. As taxas de combustível cobradas por locadoras são bem mais altas que em postos. E serão cobradas em seu cartão de crédito.

- Os aeroportos são os melhores locais para alugar um carro. Além de mais variedade, costumam ter preços mais em conta que em escritórios de locadoras em outras partes da cidade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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