Paula Gama

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Para bombar vendas, vendedor da Jeep incentiva você até a virar empresário

Considerando o volume de veículos vendidos, a Jeep é uma das montadoras que mais se destacam por vendas diretas, ou seja, carros que são comercializados diretamente pela fábrica ao cliente final.

Essa modalidade existe em qualquer marca, os abatimentos chegam a 15% e, normalmente, é destinada a locadoras, produtores rurais, taxistas e empresas - na prática, esse último grupo significa "pessoas que possuem CNPJ".

A novidade é que, para bombar as vendas, os vendedores da Jeep estão incentivando clientes a se cadastrarem como Microempreendedores Individuais(MEIs), mesmo sem possuírem um negócio, para comprarem o carro com desconto.

Após relatos de alguns consumidores sobre a prática, esta coluna ligou para dez concessionárias da Jeep de diferentes estados para entender como funciona o processo.

Passando-se por um cliente, expliquei aos vendedores que gostaria de um desconto, mas não possuía CNPJ - nesse momento, na grande maioria dos contatos, recebi a informação de que era possível "abrir um MEI" em poucas horas e aproveitar a condição exclusiva para empresas.

"Todos os meses, temos campanhas para CNPJ com descontos entre 10% e 14%. Em março, estamos com 13% de abatimento para os modelos flex e de 14% para os diesel", explicou um dos vendedores. Para se ter uma ideia, o valor de um Compass Limited diesel cairia de R$ 269.990 para R$ 232.191, um desconto de quase R$ 38 mil.

O porém para quem aproveita a vantagem é o tempo de espera: comprando com essa modalidade, é necessário aguardar entre 20 e 30 dias para receber o carro, pois, na condição de "venda direta", compra-se um carro que ainda será produzido.

Um dos vendedores com os quais conversei fez um alerta: é possível que o banco não libere financiamento para novos MEIs.

"Normalmente, os bancos aprovam financiamentos para empresas com mais de um ano. Se você fizer o MEI para comprar o carro, é possível que tenha de pagar à vista".

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Em fevereiro, as vendas diretas foram responsáveis por 47% das unidades comercializadas do Commander; 40% do Renegade; e 34% do Compass. A Jeep, no entanto, não revela quantas delas foram para frotistas, produtores rurais ou empresários.

Por que CNPJ tem desconto

Via de regra, os descontos são oferecidos para clientes com CNPJ por dois motivos.

Um deles é por causa do volume de compra, já que grandes frotistas, como locadoras, podem adquirir muitos carros de uma só vez. Nesses casos, os descontos podem ser ainda mais "generosos" do que 15%.

A segunda razão, que vale até mesmo para a compra de apenas um carro, é que a venda é feita diretamente pela montadora. Ou seja, não há remuneração para o concessionário, somente a comissão do vendedor.

Em conversa com a coluna, sob condição de anonimato, um revendedor autorizado da Jeep explica que a venda pode ser interessante até mesmo para a loja.

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"Nesse caso, não precisamos comprar um carro, pagar transporte e mantê-lo no estoque. É uma forma de fazer o dinheiro girar, ganhamos comissão pela venda e o carro vem direto de fábrica para o cliente. Então, se o cliente não vai comprar o veículo com preço cheio, melhor que compre via CNPJ do que com um concorrente".

Cuidados

Apesar de ser uma negociação relativamente simples, é preciso estar atento a algumas características do negócio.

Primeiramente, ao comprar um veículo via CNPJ, o bem passa a ser da empresa, não do empresário. Isso significa que o carro pode ser penhorado para pagar dívidas da pessoa jurídica, explica o consultor financeiro Danilo Trindade.

"O mesmo acontece em relação às dívidas do veículo: serão cobradas da empresa, que poderá sofrer penalidade caso o IPVA esteja atrasado, por exemplo. Em caso de multa, será necessário apresentar o condutor para efeito de pontuação, mas o pagamento também é obrigação do CNPJ", alerta o consultor.

Também é importante ter atenção para outro detalhe: se a situação financeira apertar, não será possível vender o carro antes de completar 12 meses da compra, já que esta é uma das regras para ter o direito ao desconto.

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"O carro simplesmente não pode ser transferido antes desse prazo. É uma proteção ao mercado, senão as pessoas iriam comprar carro na modalidade para vender mais caro, fazendo disso um negócio", destaca Danilo.

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