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Paula Gama

REPORTAGEM

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Um quarto dos donos de carros virou Uber. Por que ainda falta motorista?

Estudo aponta que 23% dos proprietários de veículos passaram a usá-los como fonte de renda - Peter Fazekas/Pexels
Estudo aponta que 23% dos proprietários de veículos passaram a usá-los como fonte de renda Imagem: Peter Fazekas/Pexels

Colunista do UOL

24/01/2023 04h00

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A pandemia causou uma verdadeira revolução nas relações de trabalho e também fechou muitas vagas de emprego. Outra consequência foi a maior demanda da população por aplicativos de transporte e de entregas. Em meio a esse cenário, 23% dos motoristas passaram a usar o automóvel como forma de rendimento. Ainda assim, os usuários de Uber seguem sentindo falta de carros nas ruas. Afinal, o que está acontecendo?

O dado faz parte do estudo "A Relação do Brasileiro com o Automóvel", encomendado pelo Serasa, que também apurou que, para 63% dos lares, os custos com os veículos são a segunda maior despesa do orçamento, atrás de alimentação (72%) e à frente de despesas com contas básicas (57%).

Por que está faltando Uber?

A publicitária Natália Nascimento, que passou por momentos de dificuldade no início do ano, se vê assombrada novamente. "Não dirijo, por isso, uso carro de aplicativo todos os dias para trabalhar. No início do ano, era impossível conseguir corridas, principalmente as mais curtas. Me via pedindo carona aos colegas. Nas últimas semanas, o mesmo está acontecendo: a espera está cada vez mais longa e os cancelamentos mais comuns. Estou recorrendo a novos aplicativos ou a táxis", reclama.

De acordo com Eduardo Lima de Souza, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo (Amasp), uma das razões da dificuldade para conseguir corridas é o aumento do preço do combustível. Desde o início de outubro, quando a gasolina teve o primeiro aumento em meses, o combustível já passou por diversos ajustes. Atualmente, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, o preço médio no país é de R$ 5,04, mas há postos cobrando até R$ 6,99.

"Antes dos aumentos, por dia, eu gastava entre R$ 100 e R$ 110 de gasolina por dia, com o aumento, passei a gastar R$ 140. Multiplicando essa diferença pelos dias do mês, o valor a mais é um absurdo, e as tarifas não estão subindo junto com o combustível. Isso significa que os motoristas estão escolhendo melhor as corridas, optando por passageiros que estejam mais perto e com um preço razoável em relação à quilometragem", explica.

Segundo o presidente da associação, essa é a principal razão da demora em conseguir corridas, mas também justifica os cancelamentos. "Atualmente, os aplicativos mostram o destino e o valor da corrida antes de aceitarmos, mas - muitas vezes - essas informações aparecem enquanto ainda estamos com o cliente no carro. A gente aceita e depois para analisar. Se não vale a pena, o jeito é cancelar."

Outra reclamação recorrente dos motoristas é a respeito do valor que é repassado pelas plataformas. "Estão nos pagando muito pouco, mesmo recebendo muito dos clientes. Para se ter uma ideia, em uma corrida de 18 km recebemos R$ 15, enquanto o cliente paga, pelo menos, R$ 35", afirma Gutenberg Pedro, motorista de aplicativo há cinco anos, que aponta essa como a razão de os colaboradoras estarem "sumidos", escolhendo apenas as melhores corridas, ou seja, com maior rentabilidade e menos quilometragem.

Demanda por aplicativos aumentou

Outra questão que ficou clara com a pandemia é a dependência da população das tecnologias. Com o aumento do preço dos carros e falta de conforto e segurança do transporte público, muitos brasileiros passaram a pautar suas rotinas em torno do serviço.

Aplicativos de transporte deixaram de ser substitutos apenas do táxi, para se tornarem uma alternativa ao transporte escolar, ao carro próprio, ao ônibus, ao transporte corporativo, ao motorista particular, entre tantas outras demandas.

Essa é exatamente a justificativa da Uber para o cenário. A empresa diz que o aumento da demanda dos usuários não foi acompanhado pelo dos motoristas, mesmo que o quadro de profissionais também tenha crescido nos últimos meses.

"Com a pandemia, pessoas que antes não usavam a Uber no dia a dia passaram a optar pelo app com mais frequência. Nesse cenário de demanda crescente por viagens, os usuários estão tendo que esperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários de pico, há momentos em que há mais solicitações do que motoristas parceiros disponíveis para atendê-las", argumentou a empresa, por meio de nota.

Sobre os cancelamentos, a Uber disse que os motoristas parceiros são profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgam necessário.

"Cancelamentos excessivos, porém, representam abuso do recurso e configuram violação ao Código da Comunidade Uber por mau uso da plataforma, pois atrapalham o seu funcionamento e prejudicam intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas. A Uber tem equipes, processos e tecnologias próprias que revisam constantemente os cancelamentos para identificar violações e, quando comprovadas, desativar as contas envolvidas", disse a empresa.

Já a 99 diz que, desde a crise econômica e o aumento dos combustíveis, implementou diversas ações no sentido de reduzir os gastos dos motoristas. "Recentemente [a 99], colocou em funcionamento a taxa semanal garantida, ou seja, para os condutores que realizarem a partir de 10 corridas na semana pela plataforma, a taxa aplicada pela companhia é de até 19,99%."

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