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Por que não existem tags de pedágio para motos no Brasil?

Sem tags, motociclistas correm risco ao pagar tarifa em espécie nas cabines manuais da maioria das rodovias brasileiras - Infomoto
Sem tags, motociclistas correm risco ao pagar tarifa em espécie nas cabines manuais da maioria das rodovias brasileiras Imagem: Infomoto

Colunista do UOL

29/10/2022 04h00

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As tags de pagamento evoluíram e se tornaram populares nos últimos anos. Hoje, além de poder pagar a tarifa do pedágio em cancelas automáticas, esses meios eletrônicos de pagamento permitem entrar em estacionamentos, abastecer o veículo e até mesmo pagar o pedido em alguns drive-thru de lanchonetes de fast-food. Essas facilidades, contudo, estão disponíveis apenas para automóveis, utilitários e veículos maiores.

No caso das motocicletas, porém, essa modernidade ainda está longe de se tornar realidade. Viajar de moto nas rodovias brasileiras parece até coisa do século passado, pois na grande maioria das praças de pedágio das rodovias onde as motos são tarifadas, os motociclistas ainda se arriscam, dividindo as cabines com veículos maiores e pagando a tarifa com dinheiro em espécie.

Apesar de o governo federal ter aprovado a isenção de pedágio para motos nas futuras concessões de rodovias federais, em muitas estradas estaduais e antigas concessões, as motos ainda são tarifadas. Mas, afinal, por que não existem tags para motos pagarem pedágio?

Há alguns anos, quando as tags eram pequenas caixas de plástico com circuitos eletrônicos dentro, o principal argumento era que o dispositivo não resistiria às vibrações, além das chuvas, lama e poeira que podem atingir as motos. Mas, atualmente, as tags são pequenos adesivos colados no vidro dos carros. Portanto, poderiam ser facilmente utilizadas nas motos.

"Na questão tecnológica a tag é totalmente adaptável a motocicletas, porém precisamos de ajustes e regras bem definidas quando falamos em uso desta tecnologia para essa categoria de veículo", explica o superintendente de Operações e Customer Experience da Veloe, Alexandre Fontes.

Para que motocicletas usem as tags, porém, o executivo, afirma que falta desde a padronização da tecnologia, do local da via de tráfego das motocicletas, e até pistas de cobranças automáticas exclusivas para os veículos de duas rodas.

A segurança viária, aliás, é o principal motivo alegado pelas empresas do setor para que não existam tags para motos. "O maior desafio é o convívio de motos e veículos pesados utilizando-se das mesmas vias de passagem. Hoje, existe uma competição entre veículos pesados e motocicletas que disputam o mesmo espaço e as motos são o elo mais vulnerável, quando pensamos na segurança", acrescenta Fortes.

A Diretora de Operações do Sem Parar, Carla Barreiros, concorda que o uso de tags por motos nas atuais cancelas de pagamento automático não seria o ideal. "O atrito é muito complexo para o motociclista. A leitura da tag é eletrônica, mas a abertura é mecânica. No caso de algum problema, poderia colocar em risco a segurança dos motociclistas", explica a executiva do Sem Parar.

Motociclistas em risco

Entretanto, mesmo o pagamento nas cabines manuais oferece risco para os motociclistas. Afinal, são comuns os casos de atropelamentos de motociclistas em praças de pedágio Brasil afora.

motos nas cabines manuais - Reprodução - Reprodução
Segundo especialistas em segurança viária, dividir a mesma cabine com veículos maiores representa riscos aos motociclistas
Imagem: Reprodução

"Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, 'O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito'. Ou seja, as concessionárias que cobram pedágio de motocicletas também deveriam adotar medidas para garantir a segurança dos usuários de moto", analisa André Garcia, advogado e consultor em segurança no trânsito. Para Garcia, a falta de passagens automáticas exclusivas para motos soa como uma desculpa para não adotar tags para motos.

"É um descaso do poder concedente não existirem cabines exclusivas para motos", faz coro Edison Araújo, diretor executivo da UsuVias, associação brasileira de usuários de rodovias sob concessão. O poder concedente, no caso, são as agências reguladoras estaduais e a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). "São esses órgãos que deveriam exigir cabines exclusivas para motos", complementa André Garcia.

Meios de pagamento alternativos para as motos

Como forma de tentar incluir as motos nessa jornada de mobilidade mais fluida e com menos atritos, as empresas de tecnologia vêm testando alternativas. No início de 2020, a Veloe criou uma pulseira com tecnologia NFC para que os motociclistas pudessem fazer o pagamento por aproximação em pedágios.

A iniciativa, contudo, não foi para frente. "Devido à falta de padronização da tecnologia usada pelos órgãos de regulação e controle, o NFC com pagamento por aproximação não foi viabilizado de forma interoperável em todas as praças de pedágio", justifica Fontes, da Veloe.

Já o Sem Parar criou, em abril deste ano, o "Sem Parar Pay", um aplicativo que permite que todos os usuários, incluindo os motociclistas, façam o pagamento de pedágio pelo Bluetooth do celular. "O motociclista pode baixar nosso app, fazer o cadastro se não for usuário do Sem Parar e optar pelo plano pré-pago, colocando crédito na conta. A partir daí, basta ativar o Bluetooth e nem precisa tirar o celular do bolso para fazer o pagamento", explica a diretor de operações do Sem Parar, Carla Barreiros.

A solução tem atraído muitos motociclistas que cansaram de contar as moedas para pagar pedágio. De acordo com o Sem Parar, até setembro deste ano, já foram registradas mais de 100 mil transações de pedágio utilizando o Sem Parar Pay. Dessas, 41% foram realizadas por motociclistas.

Atualmente, o Sem Parar Pay funciona em 11 concessionárias de rodovias, que cruzam sete Estados do país (Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e em Santa Catarina), mas o objetivo é chegar a 100% da malha viária até o final de 2023, afirma a executiva do Sem Parar.

Apesar de ser sem contato, já que não há necessidade de manusear o celular, o pagamento ainda é feito nas cabines manuais. Embora seja mais prático do que usar cédulas e moedas, os motociclistas ainda colocam sua vida em risco, pois precisam parar a moto e dividir a cabine com veículos maiores.