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Por que carros que passaram por vistoria ainda podem ser uma furada

O mercado de carros usados é repleto de pegadinhas que fazem com que muitos passem longe dele. Mas, felizmente, sempre tem bons negócios para quem valoriza a grana que tem no bolso. Um destes golpes é cair no conto de que um veículo aprovado em vistoria cautelar é garantia de bom negócio.

Na verdade, o mercado está cheio de carros ruins, que não valem a compra, mas que ostentam selos de aprovados nas cautelares. Não que os laudos estejam errados ou sejam falsos, mas o problema está na má interpretação dele por parte dos compradores.

O laudo cautelar tem sua importância, principalmente para quem não sabe avaliar um carro por conta própria. Ele informa todo o histórico da procedência do carro para que o comprador não entre em uma fria de pegar veículo de leilão sem saber, ou com pendências e restrições. Também faz uma checagem na estrutura do carro para identificar possíveis acidentes que possam ter afetado essa área de maneira significativa.

Basicamente são esses pontos, mas como não existe nenhuma regulamentação para isso, alguns "opcionais" são oferecidos nessas vistorias, como checagem da pintura da carroceria e teste dos equipamentos.

A avaliação precisa ser finalizada, com uma aprovação ou reprovação, para que qualquer um possa entender de maneira objetiva esses pontos do carro. Como o leitor pode ver, é algo que certamente ajuda na decisão da compra, mas está longe de ser o suficiente.

Em uma avaliação de carro usado, também é necessário considerar vários aspectos subjetivos, ou seja, uma interpretação individual que não vale para todos, algo não contemplado em uma cautelar. Resumindo, o aprovado para um pode ser reprovado para outro.

Isso acontece com frequência na minha profissão, e infelizmente tenho que reprovar alguns carros para meus clientes. Ou melhor, não recomendar a compra, de acordo com os tais critérios subjetivos.

Caso curioso aconteceu nessa semana. Uma cliente solicitou avaliação em carro que já tinha visto pessoalmente. Ela gostou do veículo, decidiu levar o marido para uma segunda opinião, e ele também gostou. A loja que estava comercializando o carro apresentou a cautelar aprovada, e com isso o negócio estava prestes a ser concretizado.

Foi quando entrei na jogada e pude constatar que não era um bom carro. Preparado para a venda, ele estava limpo, brilhando, com "pretinho" nos pneus, com "cheirinho" no interior, mas meu olhar profissional identificou uma série de problemas: vazamento de óleo, necessidade de manutenção na suspensão, itens de acabamento quebrados, repinturas mal feitas, pneus ruins e o pior de tudo: suspeita de adulteração de quilometragem.

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Uma suspeita - e não uma prova - é algo subjetivo. O painel apresentava 74 mil km rodados ao longo dos 12 anos de vida do carro. É uma média baixa, de cerca de 6 mil km por ano, mas esse nem é o problema. Adoraria acreditar nela se fosse apresentado histórico de revisões ao longo desses anos, com datas e quilometragens registradas que pudessem fazer sentido.

Mas não: como acontece na maioria dos carros usados com bons anos de uso, nada ou pouco é apresentado. Até poderia dar uma chance se o aspecto geral pudesse sugerir o pouco uso, mas observei justamente o contrário, com pedais, volante e banco do motorista bem desgastados.

Vale ressaltar que uma vistoria cautelar apenas registra a quilometragem no painel, e possivelmente checa com algum registro que possa ter sido feito no passado. Por exemplo, se esse mesmo carro tivesse passado por outra vistoria em 2020, que tivesse registrado 70 mil km naquela ocasião, seria aceito na vistoria atual por motivos óbvios. Do contrário, se a quilometragem passada fosse maior que a atual, estaríamos diante de um carro reprovado já na cautelar.

Perceba que essa é uma análise simplista. Nada garante que o carro tenha rodado apenas isso, e a probabilidade de alguém ter adulterado essa quilometragem é grande, de acordo com meus critérios. Na minha opinião, de quem já avaliou milhares de carros, ele tinha no mínimo o dobro do registrado no painel. Por fim, livrei minha cliente de fazer um péssimo negócio.

Para concluir, quero que fique bem claro que não sou contra as vistorias. Se isso passou pela sua cabeça, preste atenção quando expliquei sua importância. Eu mesmo, diante de um carro com vistoria feita, verifico as informações contidas nela antes mesmo de iniciar a avaliação. Mas, como eu espero que tenha ficado claro, não é totalmente suficiente para decidir sobre o negócio.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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