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Sem medo da solidão: viajar sozinho pode ser uma experiência incrível

O turismo solitário tem tudo para ser extremamente divertido e enriquecedor - the.epic.man/Getty Images/iStockphoto
O turismo solitário tem tudo para ser extremamente divertido e enriquecedor Imagem: the.epic.man/Getty Images/iStockphoto

Marcel Vincenti

Colaboração para o UOL

19/08/2019 04h00

Para muita gente, viajar sozinho é sinônimo de solidão.

E, de fato, ao se ver desacompanhado em um lugar distante e estranho, longe das pessoas queridas, o turista pode realmente se sentir angustiado.

Mas viajar sozinho é também enriquecedor.

Percebi isso ao realizar a primeira jornada da minha vida sem ter ninguém ao meu lado: era 2004, eu tinha 20 anos e resolvi torrar todas as minhas economias em um mochilão de 30 dias pelos Estados Unidos, em um percurso que cruzou 15 cidades do território norte-americano.

O roteiro foi feito de trem e com baixo orçamento: dormi em um par de estações ferroviárias, passei diversas noites em quartos compartilhados de hostels e me alimentei em uma infinidade de bibocas americanas que vendiam comida barata.

Esperando uma boa alma me dar carona sob o sol do Oriente Médio - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eu na Jordânia em 2008: aprendi a me virar e a interagir com novas pessoas durante minhas viagens solitárias
Imagem: Arquivo pessoal

No trajeto, aperfeiçoei meu inglês ao me ver obrigado a interagir com desconhecidos, adquiri autoconfiança ao desbravar (completamente só) lugares estranhos e aprendi a me virar nos 30 para superar, por conta própria, os perrengues que surgem em qualquer jornada turística.

Voltei para casa mais maduro, mais forte (apesar de mais magro) e completamente viciado na solitude proporcionada por este tipo de viagem.

Desde então, e lá se vão 15 anos, estive em mais de 60 países do mundo, frequentemente sozinho.

E por que você deve considerar realizar um voo solo pelo menos uma vez na vida? Aqui vão algumas razões.

Enriquecimento cultural
Ao se ver em um destino desconhecido sem a companhia de familiares ou amigos, você se sente obrigado a interagir com novas pessoas, o que, inevitavelmente, traz experiências culturais fascinantes para sua viagem.

Em 2007, por exemplo, fiz uma trilha de quase duas semanas no Nepal.

Eu passava cerca de sete horas diárias caminhando, sozinho, entre as paisagens montanhosas do Himalaia. À noite, eu estava louco para conversar com alguém e contar as aventuras que havia vivido naquele dia.

Mulher olhando para as montanhas no Parque Nacional do Monte Everest, Nepal - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Nepal, um ótimo lugar para viajar sozinho e se imergir em paisagens incríveis
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Se estivesse com algum amigo, talvez eu me resignasse a ficar dentro da minha pousada descansando as pernas depois de tanta andança. Mas, como este não era o caso, eu sempre saía à rua para ver algum movimento humano.

Certa vez, na vila de Ghasa, me deparei com uma enlouquecida festa dos moradores locais. Em volta de uma fogueira, eles cantavam músicas no idioma nepali, realizavam danças típicas e bebiam muito "raksi" (uma espécie de cachaça nepalesa feita de grãos).

Fui convidado para participar da balada, que me jogou dentro de uma genuína celebração no meio do Himalaia. O complicado foi superar a ressaca no dia seguinte e continuar a caminhada.

Melhorando a língua
Viajar sozinho, especialmente a lugares que não têm o português como língua oficial, é uma ótima maneira de praticar outros idiomas.

No afã de interagir com novas pessoas, você terá que se arriscar (ou mostrar seu domínio) no inglês.

Só, você se esforça para falar com os nativos do local que está visitando - AntonioGuillem/Getty Images/iStockphoto - AntonioGuillem/Getty Images/iStockphoto
Só, você se esforça para falar com os nativos do local que está visitando
Imagem: AntonioGuillem/Getty Images/iStockphoto

E não importa se você não fala muito bem o idioma da rainha Elizabeth 2ª: muitos dos seus interlocutores irão se esforçar para compreender a conversa.

Não são poucas as pessoas que voltam para o Brasil com o inglês afiado após passar dias batendo papo com estrangeiros.

E o mesmo se aplica a outros idiomas: quer ir sozinho para a França e estudou um pouco o idioma local? Coloque seus conhecimentos em prática e será fácil fazer amigos por lá.

No meu tempo
Viajar acompanhado é também uma delícia: nada como admirar Paris ao lado de um grande amor ou curtir uma balada em algum país estrangeiro ao lado de amigos.

Viajar em grupo, entretanto, é lidar constantemente com opiniões divergentes sobre roteiros e horários de passeios.

É libertador não ser cobrado para cumprir horários ou roteiros turísticos predeterminados - grinvalds/Getty Images/iStockphoto - grinvalds/Getty Images/iStockphoto
É libertador não ser cobrado para cumprir horários ou roteiros turísticos predeterminados
Imagem: grinvalds/Getty Images/iStockphoto

Ao cair na estrada sozinho, você será, frequentemente, dono absoluto do seu tempo: quer passar duas horas admirando o mesmo quadro do Picasso em algum museu espanhol? Não haverá ninguém para botar pressa na sua curtição artística.

Tem vontade de sentar em um café de Buenos Aires e, com uma taça de vinho na mão, observar as pessoas passando sem parar na rua? Fique à vontade.

E que tal acordar ao meio-dia no hotel e tirar a tarde para praticar o que os italianos chamam de "dolce far niente" (o "doce fazer nada")?

É libertador sentir que você não tem que cumprir obrigações com outras pessoas e saber que pode curtir as férias da maneira que quiser.

Curtindo o silêncio e a si mesmo
Durante uma viagem solitária, você pode ser acometido pelo prazer da introspecção.

Para muita gente, inclusive para mim, é uma delícia se sentar sozinho para ver o pôr do sol sobre uma praia paradisíaca, curtir o nascer do sol sobre uma montanha ou observar, desde um mirante, alguma linda cidade do mundo.

Presenciar lindos momentos da natureza pode gerar uma agradável introspecção no turista - PetarPaunchev/Getty Images/iStockphoto - PetarPaunchev/Getty Images/iStockphoto
Presenciar lindos momentos da natureza pode gerar uma agradável introspecção no turista
Imagem: PetarPaunchev/Getty Images/iStockphoto

Nestas horas, o silêncio proporcionado pela solitude me faz refletir sobre o lugar que estou visitando e sobre como sou sortudo por, às vezes, poder viajar para lugares incríveis.

Muitas vezes, estar sozinho faz o turista ter um contato mais intenso consigo mesmo e com o local que ele está desbravando.

Como fazer amigos
E há muitos jeitos de travar novas amizades durante uma jornada solitária.

Se você tem espírito aventureiro e não exige muito conforto, vale a pena ficar, durante a viagem, em hostels, estabelecimentos com diárias relativamente baratas que hospedam viajantes (especialmente mochileiros) em quartos compartilhados.

Estes locais abrigam turistas do mundo inteiro, muitos deles ávidos por conhecer gente nova. E, em diversos hostels, não faltam áreas e eventos sociais que ajudam na interação dos hóspedes.

Pode ser bem fácil fazer amizades durante uma viagem - DarioGaona/Getty Images/iStockphoto - DarioGaona/Getty Images/iStockphoto
Pode ser bem fácil fazer amizades durante uma viagem
Imagem: DarioGaona/Getty Images/iStockphoto

O Airbnb também possibilita que o turista conheça pessoas interessantes (e com mais comodidade).

Ao alugar um quarto na plataforma, o viajante muitas vezes divide o espaço do imóvel com o próprio proprietário.

Os donos das residências costumam ser pessoas extremamente legais, oferecendo dicas turísticas e, não raro, chamando o visitante para tomar uma cerveja ou um café. É uma maneira confiável de interagir com um nativo do lugar que você está visitando.

E, também, é importante não ter medo ou vergonha de, à noite, sair sozinho ou sozinha para um bar ou balada (lugares propícios para falar com gente nova).

Aviso para as mulheres
Infelizmente, mulheres sozinhas costumam sofrer muito assédio em certos países do mundo.

As turistas precisam ter cuidado em nações como Egito, Índia e, em menor escala, Marrocos.

São lugares onde, ao sair na rua, mulheres estrangeiras atraem frequentemente olhares, cantadas e até importunação física dos homens locais.

Por outro lado, não faltam países nos quais mulheres viajam tranquilamente sozinhas (e, nos dias de hoje, em grande número): quase toda a Europa, a Oceania, Canadá, Japão e grande parte dos Estados Unidos, por exemplo, apresentam locais seguros para que as turistas curtam uma jornada solitária incrível.