Ela descobriu que tinha duas doenças autoimunes em apenas seis meses

Isabella Piscetta O'Keefe Levermann, 22, de Florianópolis (SC), descobriu, em 2023, que tinha doença de Crohn, artrite psoriásica e psoríase.

Minha vida mudou completamente no último ano. Fui de uma pessoa saudável para alguém que tem duas doenças autoimunes, imunossuprimida. Nunca imaginei que estaria nessa posição. Ouvimos relatos de pessoas que passam por problemas de saúde e sempre pensamos 'que dó' ou 'coitado', mas nunca imaginamos que um dia essa pessoa poderia ser nós mesmos. Isabella Piscetta O'Keefe Levermann

A jovem descobriu as doenças quase ao mesmo tempo —Crohn foi diagnosticada em março de 2023 e artrite psoriásica e psoríase, em setembro daquele ano— e hoje usa suas redes sociais como uma espécie de diário, contando como lida com as condições em vídeos que ultrapassam milhões de visualizações.

Diarreia levantou suspeita

Isabella conta que nunca teve qualquer problema de saúde. "Vivia uma vida normal e, na verdade, até desviava um pouco do 'padrão' na adolescência, pois me alimentava muito bem. Nunca tomei refrigerantes, evitava fast food, me exercitava de duas a três vezes por semana e tinha, no geral, uma vida ativa para uma jovem", diz.

Eu não 'chutava o balde', como muitas pessoas, erroneamente, pensam a respeito de quem tem doenças autoimunes. Acreditam que a culpa é do paciente, por ter se alimentado mal, não ter se exercitado etc. Isabella Piscetta O'Keefe Levermann

A suspeita de que havia algo de errado veio em outubro de 2022. Após uma semana tendo diarreia, marcou uma consulta com um gastroenterologista, que receitou vermífugo e probióticos para a flora intestinal. "Mas nada mudou. Voltei ao médico, realizei uma bateria de exames parasitológicos e todos deram negativo", conta.

Isabella começou tratamento síndrome do intestino irritável, ou SII, já que dessa vez a suspeita era de que sua diarreia era decorrente de ansiedade ou alguma outra questão emocional. "Não entendi o motivo, mas aceitei o diagnóstico. Passei a tomar um medicamento para SII e nada. Continuei tendo diarreia e a frequência das idas ao banheiro também começaram a aumentar. No começo ia de uma ou duas vezes por dia, mas em dezembro de 2022 a janeiro de 2023 já ia umas quatro ou cinco vezes por dia."

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Sem melhorar, ela começou a se preocupar e seus familiares também ficaram aflitos: "Ao me ver enfraquecendo, emagrecendo e incapaz de levantar da cama, minha mãe teve uma conversa séria comigo e disse que se estava tão mal assim, tinha que voltar ao médico e cobrar um tratamento ou diagnóstico correto, pois viver daquela forma não dava. A partir desse dia, em meados de janeiro, minha jornada começou".

Após uma bateria de exames, descobriu a doença de Crohn. "Chorei muito, entendi que de fato não era coisa da minha cabeça e que realmente havia algo de errado comigo."

A doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal, ainda de causa desconhecida. Porém, a condição tem uma forte relação com a questão autoimune, sofrendo influências de questões emocionais e alimentares. Ela também pode, no decurso da sua evolução, ter manifestações extraintestinais, provocando problemas articulares e doenças no fígado, por exemplo.

Artrite psoriásica e psoríase vieram em sequência

Isabella conta que já passou por diversos especialistas e reações adversas aos medicamentos. Atualmente faz tratamento com reumatologista, dermatologista, gastroenterologista, nutricionista e psicóloga, porque em meio à descoberta de Crohn, foi diagnosticada com mais duas outras doenças autoimunes: artrite psoriásica e psoríase.

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Chegando na reumatologista, ainda em setembro de 2023, Isabella descreveu seu caso e mesmo sem os exames a médica já falou sua suspeita: espondiloartrite —um guarda-chuva para um conjunto de doenças reumáticas, entre elas, a artrite psoriásica.

A espondiloartrite é muito comum em pessoas com doença de Crohn, mas nunca me alertaram sobre a possibilidade do seu aparecimento. A doença já havia progredido tanto que eu não conseguia andar direito; a cada passo que dava, sentia uma enorme dor e precisei de ajuda até para deitar na mesa para realizar a tomografia. Isabella Piscetta O'Keefe Levermann

De acordo com a reumatologista Giovana Gabriela Koptian, na artrite psoriásica, até 90% dos pacientes apresentarão psoríase na pele. Já os pacientes com psoríase, de 20 a 30% vão evoluir com artrite. "Essa evolução costuma ocorrer nos primeiros dez anos de doença", diz a médica. Além disso,o estresse pode piorar a condição. Fazer exercícios físicos, manter o peso ideal e evitar cigarro e álcool também são essenciais para um bom controle.

"Os pacientes apresentam dor e inchaço nas articulações. Essa dor costuma ser pior no período da manhã, quando a pessoa acorda", diz a especialista.

"Após o diagnóstico, fui ao dermatologista achando que estava somente com uma irritação de pele. Foi um grande choque quando, após me examinar, o médico me deu o diagnóstico de psoríase invertida, outra doença autoimune, provavelmente desencadeada após minha reação de pele com o adalimumabe, usado no tratamento de espondiloartrite. Ou seja, recebi dois diagnósticos de doenças autoimunes em apenas seis meses", conta Isabella.

A causa exata da psoríase ainda é desconhecida, segundo a dermatologista Giovanna Mori, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Alguns gatilhos comuns para o surgimento ou piora das lesões incluem estresse, infecções, mudanças climáticas, consumo de álcool e tabagismo.

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A dermatologista explica que, embora não haja cura para a psoríase, existem várias opções de tratamento disponíveis para ajudar a controlar os sintomas. "Estes incluem medicamentos tópicos, como cremes e pomadas; terapia de luz, a fototerapia, que envolve a exposição controlada à luz ultravioleta; e medicamentos sistêmicos, como imunossupressores e medicamentos biológicos."

Tive que mudar muitos planos, saí da faculdade por não dar conta de tudo, deixei de fazer muitas coisas que jovens de 20 e poucos anos fazem e chorei muito não só com medo do meu futuro, mas pela frustração em relação ao meu presente. Isabella Piscetta O'Keefe Levermann

"Passei a ter muitas preocupações relacionadas à saúde e percebi que a minha principal prioridade hoje em dia é estar bem, não tenho mais grandes ambições como antes, só quero viver bem."

Fontes: Giovanna Mori, dermatologista do Hospital Albert Sabin de SP; Marco Aurélio Dainezi, cirurgião geral, gastroenterologista e proctologista do São Joaquim Hospital e Maternidade, e diretor de mercado da Unimed Franca; Giovana Gabriela Koptian, reumatologista do Hospital Albert Sabin.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado, Isabella foi diagnosticada com duas doenças autoimunes --psoríase e artrite psoriásica são manifestações da mesma doença. A informação foi corrigida

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