Colar as orelhas para disfarçá-las pode causar alergias e perda de cabelo

Não é de hoje que "truques" de beleza controversos fazem sucesso, mas é fato que ganham ainda mais destaque com as redes sociais. No TikTok, por exemplo, vídeos ensinam como disfarçar as orelhas em penteados com o cabelo preso: é só fixá-las com supercolas instantâneas, aquelas usadas para prender de vez materiais como couro, alguns tipos de plástico e até madeira.

Essa ideia, claro, não é recomendada por médicas ouvidas por VivaBem. "É perigoso, porque a supercola não foi desenvolvida para o uso em pele e, por isso, não há testes dermatológicos para ela", alerta a dermatologista Giuliana Angelucci, mestranda na FMABC (Faculdade de Medicina do ABC).

O produto agride a pele e pode causar, principalmente:

  • Feridas;
  • Queimaduras;
  • Alergia ao cianoacrilato, principal composto das supercolas, que causa vermelhidão, inchaço, coceira e descamação.

Pessoas que já têm alergias e outras queixas dermatológicas, como as dermatites, têm mais riscos às reações.

Os machucados, quando não bem cicatrizados, têm potencial de infeccionar. A camada superficial da pele sai e, com a exposição sem cuidados, a ferida fica maior e demora a cicatrizar. A infecção pode ser local ou evoluir, chegando a quadros sistêmicos.

É importante lembrar que muitas vezes a pessoa não tem reação durante o uso do produto, mas agride a pele ao tentar retirá-lo —já que a cola é muito forte e sem indicação de uso cosmético. A dica é ter calma ao remover e sempre usar produtos dermatológicos no processo como demaquilantes, hidratantes e água termal.

Perda permanente de cabelo

Alopecia por tração pode causar danos irreversíveis
Alopecia por tração pode causar danos irreversíveis Imagem: iStock
Continua após a publicidade

Não é só a pele que sofre: o cabelo também pode ter danos, incluindo a perda capilar. Se o produto encostar no couro cabeludo por acidente, a pessoa perde os fios. E o cabelo da região pode nunca mais crescer caso o uso seja frequente e a cola prejudique os folículos.

"O uso repetido pode levar à alopecia por tração, que causa falhas. Dependendo do nível de inflamação é possível recuperar, mas há desconforto e dá trabalho", afirma a dermatologista Camila Alvarenga, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).

Boca, olhos e outras partes do corpo

Anvisa já relatou incidentes por uso das supercolas para fixar cílios postiços
Anvisa já relatou incidentes por uso das supercolas para fixar cílios postiços Imagem: iStock

Também é possível transferir o produto para outras partes do corpo se as mãos não forem bem higienizadas. Isso aumenta o risco de queimaduras e reações alérgicas em regiões como a boca, os olhos e as unhas, por exemplo.

Em contato com a boca, a ingestão acidental do produto leva à intoxicação. Nos olhos, é possível causar danos à visão, incluindo cegueira temporária ou até mesmo permanente. É a chamada ceratite química, quando um produto causa queimaduras e lesões na córnea —reações semelhantes foram relatadas por mulheres que usaram pomadas para cabelo.

Continua após a publicidade

"A supercola pode atingir outras áreas até mesmo quando a pessoa sua", explica a dermatologista Yáscara Pinto, do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), vinculado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). "Esses produtos devem ser evitados por pessoas e profissionais da estética, que devem aplicar apenas cosméticos regulamentados pela Anvisa", alerta.

Alerta da Anvisa

Em fevereiro, a Anvisa emitiu um alerta de segurança sobre a aplicação estética das supercolas instantâneas. A agência informou que órgãos estatuais já registraram incidentes relacionados ao uso indevido dos produtos, em especial para fixar unhas e cílios postiços, e alertou para os riscos.

Os principais produtos são:

  • Adesivo instantâneo 793-TekBond;
  • Cola instantânea Super Bonder;
  • Adesivo instantâneo em gel Three Bond Super Gel.

Notificações podem ser feitas pelo:

Continua após a publicidade

Produtos cosméticos regulamentados pela Anvisa podem ser consultados no site da agência. Para isso, basta inserir o número do registro. Esse código começa com "25351" e segue o modelo "25351.XXXXXX/20XX-YY".

O comunicado ainda lembra o caso de Regina Casé, que ficou dois dias sem enxergar após ter uma lesão química na córnea por uso de cola para cílios, no final do ano passado. "Meu olho parou de lubrificar e um pedaço da cola ficou no meu olho, na córnea", contou a apresentadora em vídeo publicado no Instagram. "Tive uma lesão química, mas nada disso parecia que estava acontecendo, só que eu estava com um terçol."

Deixe seu comentário

Só para assinantes