'Tinha muito medo de agulha, mas me tornei nível ouro na doação de sangue'

Do pavor de agulha até se tornar um doador de sangue nível ouro e um dos maiores de São Paulo.

Assim pode ser resumida a trajetória do músico paulistano Diego Araújo, 38, com mais de 50 doações à Fundação Pró-Sangue, o hemocentro do Estado de São Paulo.

Araújo começou a doar sangue "tarde", aos 20 anos, após se lembrar do exemplo do pai, que ele via com alguma frequência no hemocentro, geralmente devido à necessidade de um amigo ou conhecido.

Não foi fácil sair do estágio de ter pavor de agulha para o de aceitar o leve incômodo de uma picada. Basicamente, a "culpa" de ele ter começado a doar sangue foi a perda do medo de agulha com uma tatuagem.

Na adolescência, tinha muito medo de agulha. Um dia fui acompanhar um amigo que fez uma tatuagem e comentei com o tatuador que gostava de desenhar. Ele então sugeriu que eu fizesse uma tatuagem e logo fiz. Pensei: caramba, como eu podia ter medo de um negócio desse que só incomoda um pouco?
Diego Araújo

A partir dessa primeira vez, resolveu doar sempre, pois passou a entender o quanto o ato ajuda a salvar vidas —e tudo o que ele precisa é ficar um tempo parado.

Segundo a Pró-Sangue, quem doa não salva uma, mas até quatro vidas. A bolsa é fracionada em plasma, glóbulos vermelhos, plaquetas e crioprecipitado.

O plasma é usado em pacientes com problema de coagulação; os glóbulos vermelhos são úteis para tratar anemia; o crioprecipitado é usado para casos de hemorragia; por fim as plaquetas, em casos de hemorragia ou na quimioterapia de pacientes oncológicos.

No caso de homens, que podem doar até quatro vezes por ano, isso significa ajudar a salvar 16 vidas; já para mulheres, que podem doar até três vezes por ano, isso significa salvar 12 vidas.

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Do sangue para as plaquetas

Araújo começou na doação de sangue e passou a revezar com a doação específica de plaquetas. Esse é um dos compostos do sangue que ajuda, por exemplo, no controle de sangramentos.

O músico ficou amigo de um enfermeiro da Pró-Sangue que lhe indicou a fazer esse tipo de doação. Geralmente, ela beneficia quem está no tratamento de leucemia, além de pessoas que foram submetidas a transplante de medula óssea, cirurgias cardíacas e outras condições.

Apesar de doar plaqueta já há um tempo, em 2021, durante a pandemia, levou um baque: quando foi fazer uma doação vinculada a uma pessoa, não teve tempo hábil.

Um primo estava com leucemia. Dos dois aos quatro anos, ele estava recebendo tratamento e respondendo bem, até que precisou voltar para o hospital. Tinha uma doação de plaquetas dirigida a ele marcada para quarta-feira para depois visitá-lo, mas ele acabou morrendo na segunda. Para mim foi duro, pois tento ajudar tanta gente, mas não consegui ajudar um parente meu.
Diego Araújo

Ainda que tenha sentido por não ter conseguido ajudar seu primo, continua doando sangue e plaquetas, e convidando amigos e parentes.

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Tento sempre incentivar que as pessoas doem voluntariamente, pois o que costuma acontecer é que, quando não rola pelo amor, acontece pela dor, quando um conhecido ou familiar precisa muito.
Diego Araújo

Diego Araújo (em pé) na sede da Pró-Sangue, no Hospital das Clínicas, levou o amigo Royter para doar sangue
Diego Araújo (em pé) na sede da Pró-Sangue, no Hospital das Clínicas, levou o amigo Royter para doar sangue Imagem: Arquivo pessoal

Diego já é praticamente de casa na Fundação Pró-Sangue. Como músico, participou de diversas ações tocando em campanhas para atrair doadores e até conseguiu atrair amigos não corintianos para a Sangue Corinthiano, uma campanha idealizada por torcedores do clube paulista e que faz uma espécie de mutirão de doação.

"Eu falava: 'deixa de lado esse negócio de futebol, não precisa ser corintiano. É por uma causa maior'".

Estoque de sangue em SP está baixo

Os estoques de sangue da Pró-Sangue estão baixíssimos: a entidade está operando com 37% das reservas para todos os tipos de sangue.

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Em ordem, os estoque mais baixos são os dos tipos:

  • Emergência: O+
  • Crítico: O-, B+ e B-
  • Em alerta: A+, A- e AB-
  • Ideal: AB+

Requisitos para doar sangue:

  • Estar em boas condições de saúde.
  • Ter entre 16 e 69 anos.
  • Pesar no mínimo 50 kg.
  • Estar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas e alimentado).
  • Apresentar documento de identificação com foto.
  • Tem tatuagem? Aguarde seis meses para doar.

Homens podem doar até quatro vezes por ano, enquanto mulheres podem doar até três vezes por ano.

Para doar, procure o hemocentro mais próximo da sua casa. Em São Paulo, no site da Fundação Pró-Sangue, é possível até agendar a doação.

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Ao chegar no local é feito um cadastro, teste de anemia, análise de sinais vitais, triagem clínica (onde a pessoa participa de uma entrevista confidencial), coleta e distribuição de lanche.

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