Bebê com muito pelo faz sucesso no TikTok; entenda o que é a hipertricose

João Miguel dos Santos Braga, de apenas um ano, chama a atenção nas redes sociais com conteúdos publicados pelos seus pais sobre seu desenvolvimento. Ele é uma criança com hipertricose, uma condição caracterizada pelo crescimento excessivo de pelos em diversas áreas do corpo, além do que é considerado normal para a idade, sexo e raça da pessoa.

Esses pelos podem ser finos (lanugem) ou mais espessos, e podem aparecer em áreas incomuns, como o rosto, orelhas e costas, como em João.

Os pais, Ane Caroline dos Santos Brites, 20, e Jonas dos Santos Braga, 26, residentes em Cascavel (PR), contam que a família já esperava pelo diagnóstico do filho, porque a condição é de origem genética, seguindo a linhagem paterna. Jonas, inclusive, também tem hipertricose.

Mas nem por isso foi fácil. A família explica que uma das dificuldades enfrentadas são comentários maldosos nos conteúdos sobre João. "Eu, como mãe, fico muito triste em ter que lidar com pessoas maldosas que fazem piadinhas. Nosso Deus é mais e não vai deixar nosso filho sofrer nunca, porque amor não é o que falta", diz Ane.

Um dos vídeos publicados pelos pais da criança conta com 65 milhões de visualizações. Entre os cerca de 60 mil comentários, os mais curtidos ironizam a aparência de João Miguel. Por isso Ane enfatiza a importância da conscientização sobre a hipertricose. Ela acredita que isso pode contribuir para acabar com piadas e preconceitos, promovendo maior compreensão e aceitação.

O que é a hipertricose?

A hipertricose é um fenômeno de crescimento de pelos, em que eles aparecem de forma exagerada em diversas partes do corpo, afetando tanto homens quanto mulheres.

É possível dividir a condição em algumas categorias, levando em conta onde os pelos se manifestam, quando isso começa e que tipo de pelos são. Essas categorias ajudam a entender melhor o quadro.

Dentro das formas mais generalizadas, há subtipos, como a hipertricose generalizada congênita, que é um excesso de pelos desde o nascimento, e a hipertricose lanuginosa, que é um tipo raro cobrindo todo o corpo. Algumas dessas formas estão relacionadas a problemas genéticos que afetam o desenvolvimento dos folículos pilosos. Joselito Sobreira, geneticista e pediatra pela UFP e Unifesp

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Causa é apenas genética?

Existem causas genéticas e, em alguns casos, a exposição a certos medicamentos durante a gravidez pode aumentar o risco, segundo Sobreira.

O diagnóstico geralmente é feito por um pediatra ou dermatologista durante exames de rotina, observando a aparência e distribuição dos pelos no corpo.

"Os pais frequentemente questionam sobre o surgimento dos pelos durante consultas. Em alguns casos, exames adicionais como biópsias e dosagens hormonais podem ser necessários para confirmar o diagnóstico", confirma o geneticista.

Segundo a dermatologista Priscilla Pereira, o principal diagnóstico diferencial da hipertricose é o hirsutismo, outra condição relacionada ao crescimento excessivo de pelos, que está associado a níveis elevados de hormônios.

Ane Caroline, Jonas dos Santos Braga e o pequeno João Miguel
Ane Caroline, Jonas dos Santos Braga e o pequeno João Miguel Imagem: Reprodução | Instagram @babyjoao_miguel1311
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Existe tratamento?

O tratamento depende da causa inicial, exigindo exames laboratoriais, especialmente hormonais, para identificar a principal causa.

Existem opções como depilação a laser, cremes depilatórios e eletrólise para lidar com os pelos indesejados.

No entanto, é essencial perceber que a evolução varia caso a caso: algumas formas de hipertricose duram a vida toda, enquanto outras podem ser revertidas ao interromper o uso de certos medicamentos.

Pesquisas buscam compreender melhor as causas e mecanismos da hipertricose universal. Avanços em genética e terapia gênica sugerem possíveis tratamentos mais específicos no futuro.

Impactos físicos e emocionais

A hipertricose, quando não relacionada a causas hormonais, geralmente não afeta o desenvolvimento físico, mas pode ter um impacto emocional significativo.

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"As crianças podem experimentar recusa, tristeza e se distanciar dos colegas. O suporte psicológico é crucial, e o acompanhamento médico com pediatra, endocrinologista pediátrico, dermatologista e psicólogo é fundamental", diz Fernando Tritto, médico pediatra intensivista da Unimed Franca.

Recomenda-se que a criança siga suas atividades de rotina como escola e atividades recreativas, e nunca deve ser privada do convívio social. O convívio com outras crianças é fundamental para desmistificar a condição.

"Em casos mais graves, além dos cuidados médicos para tratar a causa, também é crucial garantir apoio à saúde mental dos pacientes, reconhecendo que o resultado depende da causa subjacente, sendo que para algumas formas hereditárias, a condição estética pode ser um desafio constante ao longo da vida", diz o geneticista.

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