Síndrome causa desmaio: 'Era quase todo dia, só deitado meu corpo funciona'
A estudante de design gráfico e criadora de conteúdo Thais Meneghetti Piedade, de 22 anos, começou a ter desmaios quase diários há quatro meses.
Diagnosticada com síndrome vasovagal em 2020, ela atribuiu os apagões ao problema —que tem como um de seus sintomas os desmaios repentinos devido à diminuição do fluxo sanguíneo no cérebro e no coração.
Só mais tarde descobriu que o problema, na verdade, tinha relação com uma síndrome rara, chamada de taquicardia postural ortostática (Pots). Esta condição pode levar a diversos sintomas como tontura, cansaço e desmaios quando a pessoa muda da posição deitada ou sentada para a posição em pé.
"A primeira vez que desmaiei foi aos 9 anos, depois aconteceu de novo aos 12 e aos 13 anos. Como os desmaios não eram algo corriqueiro, não investigamos a fundo para descobrir a causa", recorda a jovem, que é moradora de São Paulo.
"Há três anos eu já havia sido diagnosticada com a síndrome vasovagal, mas o diagnóstico estava incompleto, por isso eu não melhorava. Quando comecei a ter as crises constantes encontrei um vídeo na rede social em que a menina tinha os mesmos sintomas que os meus. Falei para o médico e após vários exames descobrimos que eu tinha as duas síndromes", diz.
Entre os sintomas mais comuns da síndrome estão fadiga, cansaço e sonolência. Apesar de tê-los, Thais sempre achou que eles faziam parte de sua personalidade e não que poderiam indicar uma síndrome.
"Eu sempre fui tida como preguiçosa, porque gosto muito de ficar deitada e de dormir. Mas hoje entendo que isso acontece porque deitada é a única forma em que meu corpo realmente funciona. Então, eu tendo a ficar bastante assim", explica.
Mudança na rotina
Após o diagnóstico, a rotina mudou. As constantes crises fizeram com que a estudante precisasse parar de dirigir e também tivesse restrições alimentares.
Tento viver a minha vida o mais normalmente possível dentro das minhas limitações. Se vou a uma festa, não consigo ficar muito tempo em pé. Além disso, preciso cuidar da minha alimentação, não posso consumir cafeína, pimenta e açúcar porque eles aceleram o coração e pioram as crises.
"Eu também evito ficar em filas, porque, se eu ficar muito tempo em pé, posso desmaiar. Muitas vezes eu sofro preconceito nesses lugares de fila, porque não aparento estar doente e as pessoas não conseguem entender que eu preciso usar a fila prioritária", acrescenta Thais.
Desde o diagnóstico de Pots, Thais faz acompanhamento médico e tratamento com uma equipe multidisciplinar. Além do uso de medicamentos para controlar a frequência cardíaca, ela faz fisioterapia.
"Também faço tratamento com psiquiatra e terapia porque é muito importante que eu fique bem mentalmente para que os sintomas físicos diminuam."
Alerta nas redes sociais
Para ajudar outras pessoas a entenderem mais sobre a Pots, Thais passou a gravar vídeos sobre o tema e postá-los em suas redes sociais.
A estudante afirma que criar os conteúdos e a interação com os seguidores a ajudam a lidar melhor com a síndrome.
"Falar sobre isso nas redes tem salvado a minha vida. É muito bom ver mensagens das pessoas com os mesmos sintomas e que agora estão indo em busca de um diagnóstico. Eu sempre reforço que não sou da área da saúde, mas tento orientar todo mundo da melhor maneira possível."
O que é a Pots e qual o tratamento?
A Síndrome da Taquicardia Postural Ortostática é uma condição que pode levar a diversos sintomas como tontura, cansaço, exaustão, desmaios, palpitações, ansiedade, tremores, falta de ar, dor torácica e dor de cabeça quando a pessoa muda da posição deitada ou sentada para a posição em pé.
Além disso, os batimentos cardíacos aumentam, ficando acima do normal —100 batimentos por minuto. É como se fosse um tipo de intolerância ao ortostatismo (a ficar em pé).
O sistema nervoso autônomo é o responsável pelo adequado balanço entre a frequência cardíaca e vasoconstrição arterial para manter a pressão arterial estável independentemente da posição em que você se encontra. A pessoa que tem Pots possui um desbalanço neste sistema.
Carlos Rassi, chefe do Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês de Brasília
Os desmaios associados à Pots ocorrem devido a dificuldades na regulação da pressão arterial. "Normalmente, ao ficar em pé, o corpo ajusta a pressão arterial para garantir o fluxo sanguíneo adequado ao cérebro. Em pessoas com Pots, esse mecanismo é comprometido, levando a uma queda na pressão arterial e, consequentemente, desmaios, por redução da oferta de sangue e oxigênio para o cérebro", acrescenta Vanessa Guimarães, coordenadora da Cardiologia Pediátrica do Sírio-Libanês de São Paulo.
A condição não tem cura e atinge principalmente as mulheres entre 15 a 50 anos, ocorrendo em até três pessoas a cada um milhão.
A razão pela qual afeta mais mulheres ainda é estudada, mas acredita-se que esteja relacionada a fatores hormonais, especialmente em mulheres jovens. A predisposição genética também desempenha um papel significativo, contribuindo para a suscetibilidade de certos indivíduos à síndrome.
Vanessa Guimarães, coordenadora da Cardiologia Pediátrica do Sírio-Libanês de São Paulo
Os tratamentos para Pots buscam aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Mudanças no estilo de vida, como aumento da ingestão de sal e água, são comuns.
Atividades físicas como natação, caminhadas e ioga são indicados, incluindo também fisioterapia para a reabilitação cardiovascular.
Medicamentos também podem ser prescritos pelos médicos para controlar a frequência cardíaca e melhorar a pressão arterial.
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