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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Braços e pernas inchados: como saber se é alérgico a picadas e o que fazer

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Rebecca Vettore

Colaboração para VivaBem

07/03/2023 04h00

Vitor Gonçalves de Almeida, 29, jornalista, sempre foi muito alérgico a pelo de cachorro e gato, ácaro e a picada de inseto. Por isso, ainda pequeno, quando tinha entre seis e sete anos, fez um teste alérgico de contato que comprovou que realmente não poderia ficar perto de pets, insetos e ácaros sem se coçar por no mínimo três dias, espirrar ou ficar com a pele vermelha.

Como a mãe também é alérgica, já havia uma desconfiança dos pais que ele poderia ser, o que foi reforçado depois de algumas situações.

"Quando era pequeno, sempre tive o hábito de andar na garupa da bicicleta do meu avô e, um dia, enquanto visitava a irmã dele perto da serra de São Paulo, tomei inúmeras picadas no corpo de muitos bichos diferentes, entre formiga, borrachudo, e voltei para casa com as pernas e braços inchados."

Apesar de saber que é alérgico, Vitor nunca fez nenhum tipo de tratamento médico e continuou tendo problemas com insetos. Quando tem reações, costuma passar pomada e tomar anti-histamínico.

O que desencadeia uma reação alérgica? A alergia é uma reação errada e exacerbada contra estruturas, majoritariamente proteínas, que não representam problemas para a maioria das pessoas.

No caso de insetos, o mecanismo imunológico associado é a de produção de anticorpos da classe IgE (que está presente no soro sanguíneo em baixas concentrações), conhecido como reação tipo 1: ao levar picadas, há uma reação com a liberação de diversas substâncias, principalmente a histamina, que leva aos sintomas de coceira, inchaço e vermelhidão.

"Na saliva de insetos hematófagos [como pernilongos e borrachudos] há a presença de diversas substâncias, como anestésicos e anticoagulantes, que são antigênicos e podem levar à reação de hipersensibilidade", explica Alex Eustáquio de Lacerda, membro da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

É possível desenvolver alergia a picadas ao longo da vida? Sim. Quando somos picados diversas vezes por mosquitos sofremos um processo de sensibilização à saliva do mosquito e, em um determinado momento, podemos progredir para uma alergia que causa sintomas mais severos.

As substâncias da saliva do inseto promovem uma anestesia no local da picada e não deixam o sangue coagular, para que o inseto consiga se alimentar. Essa reação alérgica específica pode acontecer com qualquer pessoa em qualquer idade.

A partir do momento em que há uma resposta imunológica específica e a pessoa é sensibilizada, em todos os novos contatos obrigatoriamente apresentará sintomas, pois as reações de hipersensibilidade são reprodutíveis.

Entretanto, segundo João Renato Vianna Gontijo, professor de dermatologia da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador de dermatologia da Rede Mater Dei de Saúde, ao longo dos anos o corpo pode se tornar mais ou menos propenso a reagir com as substâncias do inseto.

"O nosso sistema imune vai se adaptando durante a vida, adquirindo novas memórias e perdendo algumas. Essa interação do corpo com as substâncias do inseto pode exacerbar durante a vida ou até mesmo diminuir", completa Gontijo.

Braço de homem com pernilongos em volta, insetos, picadas, coceira - iStock - iStock
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O alérgico leva mais picadas? Não, a probabilidade é a mesma de um alérgico ou não alérgico. O que acontece muitas vezes é que todos no ambiente recebem picadas de inseto, porém quem tem alergia acaba manifestando sintomas.

Existe algum tipo de sangue que faz com que algumas pessoas sejam mais picadas? Não. Alguns trabalhos mostram que gestantes e esportistas podem ter mais risco para picadas, mas os resultados necessitam ser testados em grandes populações. Entretanto, um estudo com número pequeno de participantes identificou que pessoas com sangue tipo O atraiam mais o mosquito tigre.

Para Ana Caroline C. Dela Bianca Melo, médica alergista e imunologista, e professora do Centro de Ciências Médicas da UFPE, no caso dos borrachudos, o que faz uma pessoa ser mais picada do que outras é a temperatura da pele e a maior concentração de ácido lático no suor.

Se tem alguém alérgico na família, tenho mais risco de ser alérgico? Sim. A presença de um familiar com uma doença alérgica aumenta o risco do desenvolvimento de uma alergia, que não necessariamente será a mesma.

Esta probabilidade pode ser até 80% maior no caso de pai e mãe possuírem doença alérgica. A aparição da alergia depende também da interação com o ambiente.

Sintomas da alergia. Além dos mais comuns, como coceira, que se inicia de forma rápida após a picada, inchaço e vermelhidão, na sequência aparece:

  • inflamação local
  • pode ocorrer o surgimento de pápulas (lesões com menos de um centímetro)
  • vesículas (bolha elevada e cheia de fluido)
  • dor no local
  • e múltiplos nódulos quando o paciente é alérgico a picada de borrachudo

A professora da UFPE explica que as alergias a venenos de insetos mais comuns são causadas por componentes dos venenos de insetos da classe Hymenoptera que compreende as abelhas, vespas e formigas.

"Este tipo de alergia tem grande importância, pois está entre as causas mais comuns de anafilaxia —reação alérgica grave, que pode levar à morte. No caso do borrachudo, a alergia é menos comum", completa Melo.

Além da anafilaxia, picadas de himenópteros —vespa, abelha, formiga— podem levar a reações com sintomas e acometimentos de órgãos e sistemas que não a pele:

Isso acontece porque os himenópteros possuem veneno com um percentual de proteína elevado.

É importante ter em mente que as substâncias dos insetos que desencadeiam a reação dependem da espécie e sua interação com o sistema imune, por isso a intensidade será variável em cada pessoa.

Picada de mosquito - iStock - iStock
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Tratamento. Em casos menos graves, a indicação é lavar o local com água e sabão.

Já quando os casos se agravam com a presença de sintomas intensos e que geram desconforto limitante, como dificuldade de abertura ocular em uma picada próxima às pálpebras ou sinais de infecção secundária (febre, dor, calor local, saída de secreção, presença de pus), devem ser avaliados por médicos.

  • A indicação correta de medicação sempre vai depender da avaliação específica do caso e o melhor tratamento é aquele que é individualizado.
  • No geral, as classes de medicamentos mais utilizadas são anti-histamínicos orais e corticoides tópicos e sistêmicos em casos mais graves.
  • Em alguns casos, os pacientes podem necessitar de antibióticos tópicos e até mesmo sistêmicos devido a infecção secundária.
  • Nas ferroadas de himenópteros, com a presença de urticária generalizada, angioedema (inchaço de áreas de tecido subcutâneo, afetando a face e a garganta), ou sintomas respiratórios como tosse e falta de ar, o paciente deve procurar ajuda médica.

Pode coçar a região das picadas? Não. A coçadura persistente e intensa da pele leva a traumas e aberturas da barreira cutânea e consequentemente pode ocorrer a penetração e proliferação de bactérias e outros microrganismos.

Esta infecção secundária pode levar a complicações locais e até mesmo sistêmicas, além da piora da vermelhidão e formação de vesícula de pus.

Fonte adicional consultada: Jaqueline Brandão Bastazini, alergista e imunologista do Hospital Nove de Julho (SP).