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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Homem, não deixe um preconceito bobo e tabus prejudicarem a sua saúde

Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

29/11/2022 04h00

Vai chegando ao fim mais um mês de novembro, período em que se fala muito sobre saúde do homem e câncer de próstata, mas prevenção e cuidado não devem ser restritos apenas a este mês, e, sim, algo construído todos os dias.

No seu dia a dia você já deve ter percebido que as mulheres se cuidam mais do que os homens, e isso é um fato. Levantamento realizado pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), com dados do Ministério da Saúde em 2022, aponta que enquanto ocorreram 1,2 milhão de atendimentos femininos por ginecologistas, houve apenas 200 mil consultas masculinas com urologistas.

Os dados indicam ainda que o número de homens que têm procurado atendimento médico no SUS aumenta, mas ainda é inferior ao de mulheres. Até junho de 2022, haviam sido mais de 312 milhões de atendimentos masculinos, enquanto entre o gênero feminino, mais de 370 milhões. No ano passado, foram cerca de 725 milhões de atendimentos de homens contra mais de 860 milhões de mulheres.

Outro estudo realizado pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida mostra que 62% dos homens brasileiros visitam o médico apenas quando têm sintomas insuportáveis. Medo de descobrir alguma doença e achar que nunca vai adoecer estão entre as principais razões para o homem se esquivar de ir ao médico.

"Acho que a questão da informação ainda impera. Mas falta de tempo é uma realidade. É sempre um desafio conseguir administrar tudo e ainda não deixar a saúde de lado. Outros aspectos incluem o medo, sim. O homem, talvez por não ter um cuidado constante com a saúde, tem receio de ir ao médico e encontrar alguma doença, o tal do 'quem procura acha', e já se sabe que isso é verdade, porque que doenças importantes são de fato de início silencioso", afirma Karin Jaeger Anzolch, urologista, mestre e doutora pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e diretora de comunicação da SBU.

Mas precisa ser tão relapso assim?

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Claro que uma vida saudável vai muito além de só ir ao médico, é preciso comer da forma mais saudável possível, priorizando alimentos in natura, fazer exercícios para manter um peso adequado, evitar hábitos nocivos, como consumo excessivo de álcool e cigarro, e cuidar da saúde mental.

Estar com exames em dia é só uma ponta do processo. "Na adolescência, a maior preocupação é a saúde sexual, tanto as modificações da genitália próprias da idade, incluindo a paternidade responsável e gravidez indesejada, quanto as orientações sobre ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e sua prevenção, incluindo nesse aspecto a vacina contra o HPV. Após a puberdade, a atenção é com o diagnóstico precoce das 'doenças silenciosas', como hipertensão, diabetes e insuficiência renal. Acima dos 45 anos devemos acrescentar aspectos do envelhecimento masculino, como as doenças da próstata", enumera Alfredo Félix Canalini, presidente da SBU.

Meu pai tem 65 anos, é hipertenso e tem colesterol alto, portanto, está sempre fazendo fazendo exames para checar como está o coração e um hemograma completo. O cardiologista está em dia. Ele também tem um diagnóstico de esclerose múltipla há cerca de 15 anos, já falei dele por aqui em VivaBem. Novamente, por esta razão, as ressonâncias são anuais e a consulta com o neurologista acontece com frequência.

E o urologista? Nunca foi. Quer dizer, nunca tinha ido até junho deste ano, até eu, sua filha, insistir muito para que passasse no geriatra (o que é muito comum: mulheres estarem sempre assumindo esse papel) e também insistir por um pedido de exame que medisse o PSA (antígeno prostático específico) e bingo: resultado alterado, muito acima do normal!

"Após o período em que meninos e meninas acompanham com o pediatra, a menina, mesmo não apresentando nenhum sintoma que indique problemas de saúde, segue de forma rotineira com a ginecologia. Com o menino isso ainda não ocorre e ele acaba caindo em um 'limbo', só recorrendo a médicos quando apresenta alguma doença ou então em função das campanhas, quando beirar os 40-50 anos. Achamos que os meninos devam ser acompanhados por um urologista —ou qualquer médico capacitado— a partir da adolescência", adverte Anzolch, da SBU.

E a próstata, onde entra nisso tudo?

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Entre as doenças que mais acometem os homens está o câncer de próstata, tipo de neoplasia mais incidente no gênero masculino (excluindo-se o câncer de pele não melanoma) e a segunda que mais mata (atrás do câncer de pulmão).

De acordo com o Ministério da Saúde, de 2019 a 2021 foram mais de 47 mil mortes em decorrência desse tipo de tumor. No ano passado, 16.055 homens morreram devido à doença, o que corresponde a cerca de 44 mortes por dia. Recentes estimativas do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam 71.730 novos casos este ano.

Para o diagnóstico precoce da doença, a SBU recomenda que homens a partir de 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, procurem um urologista para avaliação individualizada. Já aqueles que integram o grupo de risco (homens com histórico familiar de câncer de próstata em parentes próximos; negros e obesos) são orientados a começar seus exames mais cedo, a partir dos 45 anos.

Esse rastreamento precoce de um tumor na próstata é feito com o PSA, que eu já mencionei aqui, que é medido através de um simples exame de sangue, e é complementar.

"Atualmente, muitas entidades recomendam que se faça uma dosagem de PSA por volta dos 40 anos, para se aferir o basal, ou até um pouco antes, até para depois aconselhar individualmente sobre quando iniciar os exames regulares. Se o indivíduo parte de valores acima de 1,0, por exemplo, é possível que tenha que iniciar antes os seus exames periódicos", explica Anzolch.

Ai, as piadinhas...

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O principal exame para analisar a próstata é o toque retal, sim, esse mesmo sobre o qual você já ouviu alguma piadinha a respeito (ou você mesmo fez a piadinha!). O meu pai, aos 65 anos, nunca fez, e por quê? Por um preconceito extremamente bobo e um sentimento machista de que um exame sério e normal, e que pode salvar inúmeras vidas, afetasse a sua masculinidade. Sim, eu sei, não tem o menor sentido!

"É um exame físico normal, e assim deve ser visto. Não há nada de vergonhoso em se fazer um exame por dentro de um orifício natural. Com médicos experientes, ele dura poucos segundos e em condições habituais não é doloroso, sempre realizado com lubrificação", diz a urologista.

Esse exame fornece uma série de informações importantes para o médico, desde a presença de hemorroidas, tumores intestinais, e, para o urologista, informa sobre o tamanho da próstata —se está aumentada de tamanho ou não, o que poderia indicar outras doenças, como a hiperplasia benigna—, sua consistência e simetria.

No caso da avaliação para câncer, procura-se diferenças na consistência —áreas endurecidas— ou mesmo nódulos (caroços) ou assimetrias (normalmente uma metade da próstata é de tamanho semelhante ao outro lado), que são suspeitos para o câncer.

Com o diagnóstico precoce, as chances de cura do câncer de próstata são acima de 90% e a qualidade de vida está cada vez mais garantida com o desenvolvimento da medicina.

"De forma geral, os homens ainda cultivam alguns estereótipos e mitos que acabam lhes sendo desfavoráveis, como o mito do super-herói, em que o homem é sempre forte e que, portanto, adoece pouco. A doença, nesse cenário, passa a ser vista como uma fragilidade, uma vergonha, um demérito, algo inconcebível. E, por falar de vergonha, com relação às consultas urológicas, alguns ainda têm vergonha de se expor, contar o que sentem, deixarem-se examinar", acrescenta a urologista Anzolch.

Além do PSA e do toque, o avanço da biotecnologia tem permitido diagnósticos mais precisos de qualquer predisposição masculina para o câncer de próstata. Testes genéticos são indicados especialmente para homens que já tiveram alguma incidência da doença na família. Com eles, é possível identificar mutações nos principais genes (BRCA1 e BRCA2), que embora associadas ao câncer de mama e ovário, estão também atrelados à gravidade e surgimento de um tumor de próstata no futuro.

"Quando sofrem mutações, esses genes são os responsáveis pelos tumores na próstata e pode-se descobrir essas mutações por meio da amostra de DNA que será analisada em laboratório. Os testes genéticos contribuem para selecionar melhor quais são aqueles homens que precisam fazer biópsia e/ou ressonância de próstata, isto é, estabelecem critérios mais indicativos da doença, que mereçam uma biópsia visando confirmar o diagnóstico", explica Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).

Tratamento

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Para doença localizada (que só atingiu a próstata e não se espalhou para outros órgãos), cirurgia, radioterapia e até mesmo observação vigilante (em algumas situações especiais) podem ser oferecidos. Para doença localmente avançada, radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal têm sido utilizados. Para doença metastática (quando o tumor já se espalhou para outras partes do corpo), o tratamento mais indicado é a terapia hormonal.

A escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida após médico e paciente discutirem os riscos e benefícios de cada um.

"Temos também terapias-alvo (um tipo de tratamento que utiliza medicamentos específicos, que atacam as células cancerígenas) que estão chegando no Brasil agora e tratam mutações genéticas específicas", explica o oncologista Diogo Rosa, da Oncoclínicas do Rio de Janeiro.

No fim das contas, após o PSA alterado do meu pai, foi feita uma biópsia, que acusou um tumor na próstata, ainda sem metástase (ufa!) para qualquer outro órgão. Ele tomou duas injeções para bloqueio da testosterona, que alimenta o tumor, é a chamada hormonioterapia, e fez 39 sessões de radioterapia, finalizadas há 10 dias.

O próximo passo é medir novamente o PSA passados 45 dias do término da rádio para termos certeza de que o tratamento surtiu efeito e mandou o tumor embora e, claro, fazer visitas mais frequentes ao urologista! Se ele ainda tinha qualquer preconceito com o exame de toque, acho que o medo de ter um câncer sofrido e espalhado pelo organismo (assim como a minha mãe e a mãe dele tiveram, e ele acompanhou todo o processo) o fez quebrar qualquer tabu sem noção. Que assim seja! Saúde, homens.

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