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Jogadores furam meião para reduzir pressão; prática tem fundamento médico?

Bukayo Saka comemora gol da Inglaterra - Li Ga/Xinhua
Bukayo Saka comemora gol da Inglaterra Imagem: Li Ga/Xinhua

Bruna Buzzo

Colaboração para VivaBem

21/11/2022 17h48Atualizada em 22/11/2022 16h33

Na partida entre Inglaterra e Irã, disputada nesta segunda-feira (21), na Copa do Mundo do Qatar, os jogadores ingleses Saka e Bellingham chamaram a atenção não só pelos gols que fizeram, mas também por apareceram com buracos nos meiões.

Nas redes sociais, torcedores que não estão acostumados a acompanhar futebol se surpreendem com os furos. Quem é fã do esporte, porém, sabe que a prática não é novidade. O próprio Saka já foi visto em jogos do Arsenal, clube que defende, com o meião rasgado na parte de trás.

Os jogadores dizem que esses cortes na meia ajudam a reduzir a pressão do tecido, que é bastante grosso e nem sempre muito elástico, sobre a pele da região. Isso influencia em uma melhor circulação na perna como um todo e, segundo eles, o corte ainda colabora para uma melhor ventilação.

Além dos ingleses, outro adepto da "customização" é o jogador Neymar. Em 2018, ele também fez cortes em suas meias durante a Copa do Mundo da Rússia. Na época, a Seleção Brasileira disse que os buracos ajudavam a evitar cãibras. Quem não gostou foi a patrocinadora do material, que proibiu o jogador de cortar a peça.

Isso faz sentido?

Do ponto de vista médico, não há evidências científicas de que furar as meias traga alguma melhora no desempenho dos atletas, segundo explica o cirurgião vascular Fabio Rossi, presidente da SBACV-SP (Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, da Regional de São Paulo).

Durante uma partida de futebol, o volume de sangue presente nas pernas aumenta muito, pois a região está sob estímulo constante. O meião, então, é usado para manter alguma pressão local já durante o jogo.

A compressão elástica trazida pelo tecido pode ajudar a compensar uma parte do aumento de fluxo sanguíneo provocado pela prática esportiva. Então, segundo Rossi, o meião poderia aliviar dores e inchaços após as partidas, além de prevenir o aparecimento de vasinhos, ajudando na recuperação do atleta.

Mas nem todos os atletas são fãs da peça. Na própria Inglaterra, outro jogador, Jack Grealish, conhecido por ter panturrilhas bem torneadas, sequer usa o meião puxado até o topo. O problema é que, se o tecido não for elástico o suficiente, ele pode não dar conta do aumento de pressão sanguínea que ocorre nas pernas, sobretudo no caso de um jogador profissional - mas isso também pode afetar amadores e atletas de final de semana.

"Nesse caso, é preciso um balanço muito delicado entre a propriedade elástica e o conforto do atleta. Há risco de acontecer uma hipertrofia crônica da musculatura da panturrilha, que pode ser acentuada em partidas de futebol, e se o tecido da meia não for elástico o suficiente, ela pode não ser capaz de acomodar o aumento do volume do músculo desse atleta", explica Rossi.

Esse desconforto pode ser o grande motivo pelo qual os jogadores estão furando suas meias. O próprio Grealish diz que nenhum meião dá conta do tamanho de suas panturrilhas, que já são grandes e ficam ainda mais inchadas durante as partidas.

Embora ainda não haja pesquisas sobre o assunto, a experiência do dia a dia desses atletas parece mostrar que o tecido do meião ainda não oferece as condições ideais para que eles deem o seu melhor em campo.