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Gabriel Verón é punido após ser filmado bebendo: como álcool afeta atletas?

Marcela Schiavon

Colaboração para VivaBem, de Santo André (SP)

16/07/2022 04h00

Gabriel Verón, 19, jogador do Palmeiras, foi punido após ter sido flagrado ingerindo grandes quantidades de bebida alcoólica em uma balada, nas vésperas do clássico contra o São Paulo pela Copa do Brasil —o jogador foi titular do duelo, vencido pelo rival nos pênaltis, e saiu apenas no fim do segundo tempo. Mas qual é o efeito do excesso de álcool em atletas de alta performance?

Não é raro casos de "jogadores baladeiros" —a opinião de alguns, inclusive, é de que o que o jogador faz fora de campo não importa, se não deixar de produzir em campo. São inúmeros os casos de craques que jogaram muita bola sem deixar a noitada de lado. No entanto, o excesso pode trazer prejuízos.

O álcool, assim como as demais drogas, possui um potencial de destruição cerebral e, de forma direta e indireta, gera problemas cognitivos e perda de ânimo.

"A atenção pode se prejudicar, pois a ressaca posterior pode fazer com que a pessoa não consiga se concentrar, fique nauseada, com mal-estar", diz Marcel Fulvio Padula Lamas, coordenador de psiquiatria do Hospital Albert Sabin.

Quando consumido, o álcool é absorvido em parte pelo estômago e depois pelo intestino delgado. Após entrar na corrente sanguínea, vai ser metabolizado pelo fígado em uma taxa, em média, de 30 g por hora (equivalente a mais ou menos uma dose). Se a ingestão for maior do que isso, há sobrecarga e ocorre a intoxicação (embriaguez).

Isso impacta a vida de um profissional do esporte, já que reduz a capacidade do corpo de realizar síntese proteica —fabricar proteína a partir de aminoácidos—, diminuindo os ganhos musculares e a função dos músculos já existentes.

"Após a atividade, o atleta deve primeiro hidratar-se com água e, dependendo do caso, carboidratos e eletrólitos (sais minerais). Em estado de desidratação, o álcool é absorvido com maior rapidez, representando perigo de embriaguez de forma aumentada, em alguns casos até 10 vezes mais rápido", afirma Leonardo Canellas, nutricionista e pós-graduado em nutrição esportiva pela USP.

Do copo ao corpo: os danos

De acordo com estudos publicados na Scientific Electronic Library Online e National Libraryof Medicine, há efeitos negativos em quem consome bebidas alcoólicas e pratica exercícios físicos regularmente. O prejuízo pode afetar diversas áreas, como sistemas imunológico, cardiovascular, metabólico, hormonal, psicomotor até a síntese de proteínas e a qualidade do sono.

Isso varia, claro, da dose e do tipo do álcool, da frequência de uso e de qual exercício é realizado, mas os impactos continuam sendo grandes. Além de prejudicar órgãos, em especial fígado, pâncreas e coração, quando a pessoa consome álcool com frequência, pode, aos poucos, ter prejuízos diversos em âmbitos profissionais —como trabalhar alcoolizada.

O álcool pode agir como anestésico emocional, levando quem consome em grandes quantidades a quadros depressivos, ansiosos e outros transtornos psicológicos. Atletas que consomem bebidas alcoólicas para melhorar a função psicológica —ou seja, dar aquela relaxada— podem ter prejuízo na capacidade de processamento de informações, principalmente nas atividades que requerem ações e reações rápidas e com estímulos variáveis.

A respeito do rendimento profissional de Verón, Danilo Luís Zacarias da Silva, profissional de educação física, pós-graduado em treinamento de força da saúde ao alto rendimento pela USP (Universidade de São Paulo), afirma que, por mais que o álcool seja uma droga recreativa, é ruim para o rendimento de qualquer atleta. "Qualquer droga afeta negativamente o desempenho", diz.

Quem treina de forma periódica, a exemplo de jogadores de futebol, possui um controle de carga regular. Sem o sono, a hidratação e a alimentação adequados, o corpo não irá realizar o movimento do mesmo modo. Sendo assim, um atleta profissional de alto rendimento deveria não fazer o uso de álcool horas antes do treino, já que isso influencia em seu descanso, recuperação e base nutricional.

O psiquiatra Marcel Fulvio ainda sinaliza que, além disso, a recuperação do tecido ósseo em um atleta que tiver fraturas é dificultada, uma vez que o metabolismo de recuperação dos ossos fica mais lento.

Sendo assim, é recomendável que os atletas sigam as diretrizes e não façam uso de álcool, a fim de evitar os impactos negativos que ele pode apresentar na recuperação e no desempenho esportivo.

O Palmeiras já multou o Verón em 40% do seu salário, por infringir o código interno do clube.