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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Epilepsia focal: professor de MG relata crises sem perder a consciência

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Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

28/03/2022 04h00

O sintoma mais comum da epilepsia são as chamadas crises epiléticas ou convulsivas, quando o cérebro sofre descargas elétricas intensas que atrapalham o seu correto funcionamento. Quando elas acontecem, a pessoa, muitas vezes, perde o controle do corpo, precisando que alguém a ampare e proteja a sua cabeça, virando-a de lado, a fim de evitar choques contra o chão ou objetos, ou mesmo que ela se engasgue.

Mas este não é o único tipo nem sintoma da doença crônica que atinge de 1 a 2% da população e que possui tratamento, incluindo cirúrgico, se necessário.

Li Li Min, chefe do departamento de neurologia da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que é também embaixador da epilepsia no Brasil pela Liga Internacional de Epilepsia, comenta que nem toda convulsão está relacionada à epilepsia. São comuns a outras enfermidades, relacionadas a fatores desencadeantes como hipoglicemia, desidratação, no caso de idosos, AVC, entre outros.

O diagnóstico correto da epilepsia depende da região ou regiões em que as descargas elétricas ocorrem no cérebro e como se manifestam e são, muitas vezes, de difícil identificação.

Entre outros sintomas da doença, o chefe do departamento de neurologia da Unicamp lista perda de consciência e até o déjà vu —ou já visto, do francês, uma reação que provoca a sensação de já ter vivido, visto ou presenciado alguma situação.

'Não há perda de consciência, mas não consigo falar'

Marco Aurélio de Oliveira Machado, 49, mora em Curvelo (MG) e é professor de reforço escolar de matemática e física, e apresenta como sintoma crises de ausência que duram segundos, percebendo-as e mantendo a consciência. O tipo de epilepsia descrito por ele é a focal.

Mas nem sempre foi assim. Seu primeiro acometimento de epilepsia foi aos 2 anos e até aos 29 teve episódios convulsivos, apesar das medicações que tomava. Ele lembra que o médico com o qual se tratava falava que não havia cura e que era questão genética. A quantidade de remédios só aumentava. "Tomava nove comprimidos por dia", recorda.

No ano de 2000, buscou um novo especialista, Welser Machado de Oliveira, que trocou os remédios e fez a redução da quantidade de comprimidos diários, indo para apenas um. Ao longo de dez anos, ele ficou sem manifestar crises.

O professor Marco Aurélio de Oliveira Machado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O professor Marco Aurélio de Oliveira Machado
Imagem: Arquivo pessoal

Porém, em 2011, teve um colapso que o levou a ser internado, sendo preciso ficar em UTI por 15 dias. Após intensos exames, constatou-se que os remédios não faziam mais efeito.

Desde então, apresenta ausências de segundos. Deixou de ter os colapsos convulsivos anteriores.

Segundo o embaixador da epilepsia no Brasil, a mudança não é um fenômeno incomum: "Quando a pessoa tem epilepsia, muitas vezes o que chama a atenção é a própria convulsão. Com o tempo, a pessoa ganha experiência em identificar alguns tipos de sensações que precedem os episódios".

Outro aspecto considerado por ele é a individualidade que faz com que as crises sofram modificações e se concentrem em áreas menores do cérebro.

Machado relata que mantém a consciência durante os momentos que manifesta a epilepsia focal e percebe por meio da sensação chamada de aura quando terá a crise.

"Sei quando vai ocorrer, não há perda de consciência, mas não consigo falar, ouço tudo ao redor. São segundos. Quando estou na rua, entro seja numa livraria ou restaurante, e me sento. Às vezes, dá tempo até de pedir uma água", relata.

Não segure a língua!

Convulsão, crise convulsiva, epilepsia - iStock - iStock
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Aura, explica Min, é um termo usado de maneira generalizada para descrever o aviso que a pessoa tem antes de perder a consciência, mas de fato ela nada mais é do que uma crise focal que já começou no cérebro da pessoa, que é percebida e que não compromete a consciência.

"Com o aviso é possível procurar um lugar seguro se vier uma maior. Muitos comentam que ao terem o alerta sentam no chão para evitar cair. É sempre uma forma de avisar e buscar um lugar mais seguro."

É bom lembrar que as convulsões duram no máximo 2 minutos. "Não é preciso segurar a língua da pessoa, dar água ou esfregar álcool. Nem é preciso entrar em pânico ou ter medo na hora de ajudar. Caso o ataque ultrapasse o tempo médio de cinco minutos, basta ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) pelo número 192", orienta o médico.

Atualmente, o professor de reforço toma seis comprimidos, sendo um não para a epilepsia, mas para evitar tremor que um dos demais provoca. Mas comenta que sua médica, a epileptologista Andrea Julião de Oliveira, não descarta a cirurgia.

Sintomas das alterações focais

Os sintomas dos transtornos focais são extremamente variados, pois dependem muito da região do cérebro afetada. Para exemplificar, o neurologista comenta que se o episódio começou na região que comanda a parte visual, a pessoa poderá manifestar alterações visuais que precedem uma convulsão ou perda da consciência.

Se ocorrer na região do lobo temporal, responsável pela memória e aprendizagem, é possível desencadear o famoso déjà vu. Podem afetar também a área que controla os movimentos, resultando em sensações alteradas nas mãos, como sensibilidade.

Cerca de 80% dos casos são controlados por medicamentos, mas o tipo e a causa da epilepsia interferem no tratamento. As cirurgias são precisas e seguras. "Existem há mais cem anos e são indicadas para as pessoas que não respondem aos remédios. Há ainda tratamentos à base de dieta cetogênica, estimulação elétrica e, também, cannabis medicinal", fala Min.

Grupos de apoio

O professor conta que participa do grupo Aspe Brasil (www.aspebrasil.org) para troca de informações e experiências e o embaixador da epilepsia no Brasil convida a conhecerem o Movimento Roxo entendendo a epilepsia (@movimentoroxooficial), com programação durante o ano todo para a divulgação da doença, tratamento e pelo fim dos estigmas e preconceito.

"Precisamos do máximo apoio da população em torno dessa causa, aproveitando todas essas datas comemorativas, nacionais e internacionais, para refletir, discutir e buscar soluções para as muitas dificuldades ainda enfrentadas pelas pessoas com epilepsia, em casa, no trabalho e no convívio social", reforça Min.