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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Queixo muito para frente ou para trás afeta a saúde, mas tem tratamento

O personagem Popeye é um exemplo de queixo protuberante - Divulgação
O personagem Popeye é um exemplo de queixo protuberante Imagem: Divulgação

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

03/03/2022 04h00

Ter um queixo proeminente como o de Gaston, do desenho "A Bela e a Fera", da Disney, ou Popeye, o marinheiro, foi por muito tempo considerado sinal de determinação e personalidade forte, o que não passa de mito segundo a medicina.

Essa condição, chamada prognatismo, ocorre devido ao excesso de crescimento da mandíbula (osso inferior móvel) ou à falta de crescimento da maxila (a parte superior), causando um posicionamento inadequado entre a arcada dentária superior e inferior.

Quando há alterações no tamanho e no formato, podem ser em decorrência de herança genética (pois geralmente existe tendência familiar), defeitos congênitos, traumas e função inadequada dos músculos orofaciais (relativo à face e boca) durante o crescimento e desenvolvimento.

Os hábitos também contam. Favorecem essa condição, por exemplo, chupar chupeta e dedos, uso excessivo de mamadeira e manter frequentemente a língua pressionada entre os dentes. Completam ainda a lista doenças ou vícios respiratórios.

"A pessoa que é respiradora bucal desde a infância, ou seja, que não respira pelo nariz, não desenvolve o seio maxilar, que é o seio da maçã do rosto, e isso fica atrofiado. Assim, a face tende a ficar mais alongada, como o palato (céu da boca), e o queixo vai tentar fechar e não consegue, deixando a face alargada. Essa também é uma causa de prognatismo", aponta Wendell Uguetto, cirurgião plástico da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

Afeta a cabeça como um todo

Mulher jovem com dor na mandíbula, DTM, ATM - iStock - iStock
Imagem: iStock

A desarmonia estética pode ser observada desde a infância, mas se agrava ao longo dos anos. Gera desde problemas de mastigação, deglutição e fala a respiratórios e dentários, como perdas de dentes, maus posicionamento e encaixe de mordida e desgastes precoces, além de tensão e disfunção na articulação temporomandibular (DTM), dores na coluna, má qualidade do sono, gerando ronco ou apneia, desordens psicológicas e baixa autoestima pela aparência.

"A face tem um papel fundamental na forma como nos comunicamos com o mundo", afirma Fernanda Martins, cirurgiã plástica da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ela continua que o conceito de beleza está relacionado à harmonia, que também é importante por uma questão de saúde, já que prognatismo é uma deformidade e enfraquece os músculos.

Na visão de frente, os segmentos da face podem ser divididos horizontalmente em: terço superior (região frontal), terço médio (região dos maxilares) e terço inferior (região da mandíbula). A relação ideal entre os terços é de 1:1:1, ou seja, os três segmentos devem apresentar a mesma altura.

"Na visão da face em perfil, a harmonia se encontra na adequada projeção de cada um desses segmentos, sendo considerado normal a face que apresenta praticamente as mesmas projeções ósseas dos terços superior, médio e inferior", diz Martins.

Quando a mandíbula é para trás...

Agora, o queixo posicionado mais ao fundo, destacando a maxila (parte superior frontal), o nome dado é retrognatismo mandibular. Essa condição pode ser congênita e hereditária, sindrômica (relacionada, por exemplo, à síndrome de Pierre Robin) ou ainda estar relacionada a algum fator que impeça o crescimento normal da mandíbula durante seu desenvolvimento, tais como: trauma (principalmente fratura do côndilo mandibular, a eminência arredondada na extremidade do osso mandibular) e respiração oral na criança, embora não haja consenso médico com relação a esta última.

Não ocorrerá depois que a mandíbula estiver completamente formada, exceto por alguma destruição óssea, tumores ou cirurgias.

Quanto aos problemas de ordem física, assim como em prognatismo, podem surgir alterações dentárias (que podem levar igualmente à perda dos dentes e distúrbios como apneia obstrutiva do sono) e na deglutição, mastigação e respiração. A mandíbula trazida muito à frente, num esforço para fechar a boca, também acaba por afrouxar os ligamentos das articulações temporomandibulares.

"Quando o indivíduo tem qualquer uma dessas discrepâncias craniofaciais, só o fato de mastigar e falar já vai causar uma piora constante. Além disso, respiradores bucais, bruxismo e hábitos como roer unhas, morder caneta, ou mesmo tocar algum instrumento de sopro podem agravar", ressalta Gustavo Issas, pós-graduado em disfunção temporomandibular pela EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e diretor da Clínica Personal Odontologia.

Intervenção requer ser precoce

Radiografia de paciente com prognatismo - iStock - iStock
Radiografia de paciente com prognatismo
Imagem: iStock

Em ambos os casos (prognatismo e retrognatismo) é preciso diagnosticar e tratar cedo para que não evoluam negativamente. A atuação conjunta entre dentista e fonoaudiólogo ajuda a amenizar os problemas e, quando menos graves, até evitar a necessidade de um procedimento cirúrgico.

A princípio, por volta dos cinco, seis anos de idade, podem ser utilizados aparelhos dentários e faciais, visando diminuir as discrepâncias entre maxila e mandíbula e as sequelas.

Se até o final da adolescência não houver bons resultados, a saída é a cirurgia ortognática, de reposicionamento dos maxilares. A idade para o procedimento, que é necessário quando, por exemplo, há comprometimento acentuado da via aérea superior, da deglutição e do desenvolvimento da face, vai depender da gravidade do caso, que deve ser avaliado agora também com a participação de um especialista em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial.

Geralmente é realizada a partir dos 18 anos, quando o paciente já está com o desenvolvimento ósseo completo.

"Atualmente, os procedimentos cirúrgicos são realizados por acessos intraorais (cortes dentro da boca, o que evita cicatriz na pele), em ambiente hospitalar sob anestesia geral", esclarece Fernando Pereira, dentista pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e doutor em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial.

Após 15 dias da operação, o inchaço então reduz bastante e permite à pessoa já notar a mudança estética e funcional.