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Vacina pode gerar falso-positivo de covid-19? Entenda boato

Boato de que vacina pode gerar falso-positivo tem circulado - Suamy Beydoun/AGIF
Boato de que vacina pode gerar falso-positivo tem circulado Imagem: Suamy Beydoun/AGIF

Carol Firmino

Colaboração para VivaBem

02/02/2022 10h41

Recentemente, tem crescido um boato de que pessoas vacinadas contra a covid-19 podem apresentar falso-positivo nos resultados de seus exames. Em alguns casos, o boato é acompanhado da orientação —absurda— de que a pessoa não faça um teste mesmo que tenha sintomas por causa do suposto "falso-positivo".

Será que isso é possível? Para entender se existe essa possibilidade, é necessário se aprofundar sobre o funcionamento dos imunizantes e dos exames disponíveis no país.

Falso-positivo em testes de detecção do vírus da covid-19

Esses são os principais testes para avaliar a infecção pela covid-19 em pessoas assintomáticas ou com sintomas:

  • RT-PCR: é um teste molecular baseado na pesquisa do material genético do vírus (RNA) em amostras coletadas por swab da nasofaringe. É considerado o exame laboratorial padrão-ouro para diagnóstico da infecção.
  • RT-LAMP: é outro teste molecular que pesquisa o RNA do vírus, mas, neste caso, por amplificação isotérmica. A coleta também é realizada por swab de nasofaringe e sua sensibilidade é pouco inferior ao RT-PCR de nasofaringe. Sua principal vantagem é a rapidez do resultado.
  • Antígeno de Sars-CoV-2: é um teste imunológico baseado no reconhecimento do antígeno (uma parte da estrutura do vírus) em amostras coletadas por swab de nasofaringe. Sua principal vantagem é apresentar rápido resultado por um custo mais baixo. Sua sensibilidade também é inferior ao RT-PCR.

Segundo José Geraldo Leite Ribeiro, mestre em infectologia e medicina tropical pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e epidemiologista do Grupo Pardini, se uma pessoa é vacinada e apresenta qualquer um desses testes com resultado positivo é porque ela está realmente infectada.

Ribeiro afirma que, independentemente da dose de imunizante recebida, os exames não serão positivados, e que estes são procedimentos sensíveis e bastante específicos em relação ao vírus da covid-19 e oferecem um diagnóstico de maior certeza.

Falso-positivo em vacinados nos testes de sorologia

Brianna Nicoletti, especialista em alergia e imunologia pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), aponta que esses são exames considerados tardios, pois avaliam principalmente a memória imunológica ao vírus.

As sorologias são ensaios imunológicos, realizados em amostras de sangue, que pesquisam a presença de anticorpos produzidos contra o vírus. Em geral, eles iniciam sua produção a partir do 7º dia de doença e tornam-se detectáveis, na maioria dos indivíduos, a partir do 21º dia de doença. Portanto, não é um bom exame para detecção a covid-19. Dessa forma, um resultado negativo não exclui a possibilidade de a pessoa estar infectada. Estes são os principais:

  • Sorologia de anticorpos neutralizantes: quantifica anticorpos capazes de impedir a ligação do vírus com a célula humana. É feito pelo método ELISA, teste imunoenzimático que permite a detecção de anticorpos específicos, e usado no diagnóstico de várias doenças que induzem a produção de imunoglobulinas. A produção desse tipo de anticorpo pode ocorrer após infecção natural pelo Sars-CoV-2 ou após a vacinação contra a covid-19.
  • Sorologia de anticorpos totais: é feito pelo método de eletroquimioluminiscência. Possui sensibilidade de 95% (pequena quantidade de falsos negativos) e especificidade próxima de 100% (pouco erro para os positivos).
  • Sorologia de anticorpos IgM/IgG: é feito pelo método quimiluminescência anti-RBD. Possui sensibilidade e especificidade próximas de 100%. O teste de IgG, apesar de ser um anticorpo de ligação, utiliza como alvo anticorpos anti-RBD e, por ser específico para esta porção do vírus que se liga à célula humana, tem a boa correlação com os anticorpos neutralizantes.

Conforme detalha Nicoletti, as sorologias fazem o diagnóstico de memória imunológica, ou seja, da presença de anticorpos contra o vírus. Neste caso, a produção de anticorpos pode ser induzida tanto pela vacina como pela infecção tardia do coronavírus e, nos dois casos, produzem IgG e IgM.

O que podemos concluir?

Ribeiro explica que nenhuma das vacinas utilizadas contra o Sars-CoV-2 é capaz de positivar os testes RT-PCR, RT-LAMP ou de antígeno, visto que, comprovadamente, não produzem vírus capazes de fazer com que o resultado seja um falso-positivo. Além disso, a resposta imunológica não é produzida no mesmo local onde as amostras são recolhidas, que é na nasofaringe.

Por outro lado, os exames feitos com sorologia —como é o caso de alguns testes rápidos— podem detectar tanto a proteína S quanto os anticorpos produzidos pela vacina (IgG e IgM), o que resultaria em falso-positivo. No entanto, isso só é possível por volta de 21 dias após a vacinação e não imediatamente.

Além disso, as vacinas induzem a fabricação da proteína S nas células, que, posteriormente, é sintetizada nos nódulos linfáticos e aparece em quantidade mínima no sangue.

Por fim, Ribeiro reforça que esses testes são imprecisos e pouco contribuem com o diagnóstico da doença. Se o objetivo for avaliar se a pessoa está infectada, prefira os testes RT-PCR, RT-LAMP ou de antígeno. Neste caso, um falso-positivo em função da vacina não vai acontecer.

Fontes: Brianna Nicoletti, especialista em alergia e imunologia pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP); José Geraldo Leite Ribeiro, mestre em infectologia e medicina tropical pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e epidemiologista do Grupo Pardini; Maura Neves, otorrinolaringologista no Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e especialista pela ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).