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Tomar menos banho traria resistência ao coronavírus, como disse Russomanno?

FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

14/10/2020 12h48

O candidato a prefeito da cidade de São Paulo Celso Russomanno (Republicanos) disse que moradores de rua podem ter mais resistência contra a covid-19 por que não tomam banho com frequência.

"Nós temos casos pontuais e não temos uma quantidade imensa de moradores de rua com problema de covid. Talvez eles sejam mais resistentes do que a gente, porque eles convivem o tempo todo nas ruas, não tem como tomar banho todos os dias", opinou Russomanno.

No entanto, de acordo com especialistas, além da fala ser "extremamente preconceituosa", não faz o menor sentido, já que a falta de banho aumenta o risco de infecções, e não o contrário, como disse o candidato.

"A falta de higiene permite que micro-organismos patogênicos permaneçam no corpo da pessoa, o que favorece o desenvolvimento de uma infecção", explica Plínio Trabasso, infectologista e professor associado do Departamento de Clínica Médica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

"Quando a pessoa toma banho, esses micro-organismos são eliminados com a água e o sabão, então, esse risco (de contágio) diminui", completa.

Segundo Lina Paola, infectologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, não é possível afirmar que os moradores de ruas não foram infectados, porque não houve testagem em massa nessa população. "Esses pacientes foram testados? Como chegaram nessa conclusão?", questiona.

Paola diz que o fato de moradores de ruas não manterem contato físico com a maioria das pessoas, viverem afastados e dormirem sozinhos pode ter contribuído para que eles não fossem infectados, mas isso não tem nenhuma relação com a falta de banho.

"Como eles não têm contato e são isolados pela sociedade, eles podem ter pegado? Pode ser. Mas será que entre aqueles que se aglomeram é a mesma situação? Só testando para a gente saber. É uma observação muito empírica que não teve um estudo clínico e não temos como comprovar", afirma.

A infectologista explica que a maioria dos moradores de rua são pessoas jovens e que, por isso, talvez, tenham menos comorbidades. "É uma população que não pertence a um grupo de risco e, por isso, eles tiveram uma doença leve que não precisou de internação ou então não pegaram porque não ficaram expostos", sugere a especialista.