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Vacina russa: entenda a vantagem de usar dois tipos de vírus na imunização

Adriano Siker/iStock
Imagem: Adriano Siker/iStock

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

04/09/2020 12h31

O primeiro estudo sobre a vacina russa contra a covid-19, chamada de Sputnik V, foi publicado hoje (4) pela revista científica Lancet. A pesquisa, feita com dois grupos de 38 pessoas, aponta que o imunizante não causa efeitos adversos graves e é capaz de induzir a resposta imune (produção de anticorpos) no organismo dos voluntários.

"Isso faz dela uma vacina promissora, mas por enquanto, não podemos liberar para o mercado. Faltam dados condizentes com as fases 2 e 3", explica Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência).

Em coletiva de imprensa que aconteceu hoje de forma virtual para jornalistas do mundo todo, os próprios pesquisadores disseram que a pesquisa tem limitações e que são necessários mais testes para a comprovação de sua eficácia.

Estratégia usada é considerada interessante

A Sputnik V usa dois vetores de adenovírus —tipo 26 (rAd26-S) e tipo 5 (rAd5-S)—, que funcionam como um "veículo de lançamento" do coronavírus no organismo humano.

"Essa é a principal diferença em comparação com algumas outras candidatas, como a vacina de Oxford, que usa um adenovírus. A estratégia, chamada de heteróloga, tem a vantagem de contribuir para uma resposta imune mais efetiva. Com as duas doses, você impede que a resposta imune seja modulada apenas contra o vetor (o adenovírus), e, ao mesmo tempo, estimula a resposta que nós queremos —contra a proteína S do Sars-Cov-2", indica Pasternak.

A estratégia combinada, além de demonstrar segurança inicial, indica níveis positivos de imunização. "Foi apresentada boa resposta nos níveis de linfócitos T, e a produção de anticorpos induzida pela vacina foi sutilmente maior do que aquela geralmente apresentado em pessoas que se recuperaram da doença", aponta a especialista.

Como o estudo foi feito

  • Foram feitos dois estudos com 38 voluntários cada (76 no total) e, segundo os pesquisadores, não foram verificados efeitos colaterais sérios até 42 dias depois da imunização.
  • Em cada um dos estudos, nove pacientes foram testados com o tipo 26 do adenovírus, outros nove com o tipo 5 e os 20 restantes, com os dois, em estratégia combinada.
  • Como são usadas formas enfraquecidas do adenovírus, ele não é capaz de se replicar no corpo humano e, consequentemente, não causa doenças. O adenovírus geralmente causa o resfriado comum.
  • Os participantes foram testados entre 18 de junho e 23 de agosto e todos desenvolveram anticorpos para o coronavírus.

Amostragem ainda é pequena

Embora tenha bons resultados preliminares apresentados, a pesquisa foi feita com poucas pessoas, a maioria homens e jovens.

"É uma amostra bem específica, compatível com uma fase 1, que só testa segurança e marcadores de imunidade —nada pode ser dito ainda sobre a eficácia dessa vacina, que só será testada, de fato, na fase 3. Além disso, seria bom ver resultados contundentes com a fase 2, incluindo mais pessoas e maior diversidade de grupos etários, mais mulheres, e pessoas com comorbidades", afirma Pasternak.