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Câncer de mama antes dos 40 anos tem alto potencial de ser invasivo

Alimentação, prática de atividade física, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e tabagismo influenciam no aparecimento da doença - Camila Rosa/VivaBem
Alimentação, prática de atividade física, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e tabagismo influenciam no aparecimento da doença Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Do VivaBem, em São Paulo

23/10/2019 12h51

Resumo da notícia

  • Estudo mostra que 35,7% das amostras positivas para câncer de mama em mulheres de 19 a 40 anos eram do tipo invasivo
  • Dessas, 22,7% apresentaram diagnóstico de tumor triplo negativo, um subtipo agressivo, de rápida evolução e de difícil tratamento
  • A amostra aponta para a necessidade de atenção aos exames preventivos em mulheres que fazem parte do perfil de risco para o câncer de mama

Uma pesquisa com 714 biópsias de mama realizadas em São Paulo revelou que 35,7% (255) tinham a forma invasiva da doença. Nesta fase, o câncer invade outras camadas celulares e ganha a capacidade de se disseminar para outras partes do corpo, em um processo chamado de metástase.

O estudo, feito pela AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), analisou biópsias feitas entre 2015 e 2017, em mulheres com idade igual ou inferior a 40 anos, atendidas na rede pública da cidade de São Paulo.

Entre as pacientes que tiveram o câncer invasivo, 22,7% apresentaram diagnóstico de tumor triplo-negativo. Os cânceres recebem esse nome porque testam de forma negativa para os receptores de estrogênio, progesterona e fator de crescimento epidérmico humano, ou seja, não respondem bem ao tratamento. Esse subtipo, que representa, segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), cerca de 15% do total de casos de câncer de mama, é agressivo, de rápida evolução e tem maior chance de recidiva (quando a doença volta a aparecer, mesmo após o tratamento).

No mesmo estudo, foram encontradas 52 pacientes (20,39%) com o tumor HER2 positivo, também agressivo e resistente, mas que tem tratamento eficaz aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde julho desde ano.

A quantidade de jovens mulheres afetadas pelas formas mais agressivas da doença é um alerta para o desenvolvimento de novos métodos diagnósticos mais eficazes, rápidos e de maior acessibilidade, assim como tratamentos mais específicos, de acordo com o biomédico Guilherme Moreno, autor da pesquisa.

Câncer de mama em jovens nem sempre é hereditário

Ter casos de câncer de mama na família não é o principal fator de risco para desenvolver a doença —a origem hereditária representa menos de 10% dos casos. A maioria dos tumores de mama (90% a 95%) é causada por mutações genéticas não hereditárias, ou seja, associadas a fatores ambientais e reprodutivos, diz Guilherme Ilha de Mattos*, mastologista do corpo clínico do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer).

Fatores ambientais se referem ao estilo de vida, como alimentação, prática de atividade física, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e tabagismo. Já fatores reprodutivos estão relacionados ao tempo em que a mulher fica exposta, ao longo da vida, ao estrógeno, hormônio feminino produzido pelo próprio corpo.

"Se a menstruação começa cedo e termina tarde, aumenta o tempo de exposição da mulher a este hormônio. O estrogênio estimula a proliferação celular da mama", explica Mattos.

Veja a seguir os fatores evitáveis do câncer de mama:

  • Terapia de reposição hormonal (TRH) após a menopausa: o risco é maior entre usuárias, especialmente quando por tempo prolongado. Nas mulheres que tiveram o útero removido e, portanto, fazem apenas a reposição com estrogênio, o risco parece aumentar apenas após 10 anos de uso. É por isso que mulheres submetidas à terapia devem ser bem acompanhadas pelo médico, e quem já teve câncer ou tem casos na família deve evitá-la. Vale lembrar que a suplementação com fitoestrogênios também deve ser supervisionada pelo médico;
  • Ingestão de bebida alcoólica: mulheres que consomem mais de uma dose de álcool por dia ou que exageram regularmente têm risco mais alto;
  • Sobrepeso e obesidade: a adiposidade interfere nos hormônios e, portanto, pode ter um papel importante para o câncer de mama;
  • Tabagismo: há alguma evidência de que fumar também aumenta esse tipo de câncer;
  • Pílula anticoncepcional: o uso é considerado fator de risco pela Iarc (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer). Segundo o Inca, estudos sobre o tema têm resultados contraditórios;
  • Dieta: alguns estudos condenam o consumo excessivo de carne vermelha e processada;
  • Produtos químicos: muitas pesquisas têm sido feitas para avaliar o papel de substâncias químicas nesse tipo de câncer, mas ainda não há resultados claros.

Detecção precoce

O Ministério da Saúde não recomenda mais o autoexame das mamas como método de rastreamento. A orientação é que a mulher realize a autopalpação/observação das mamas sempre que se sentir confortável para tal —seja no banho, seja na troca de roupa, seja em outra situação. Sempre que houver alguma alteração suspeita, deve-se procurar esclarecimento médico. Em outras palavras, conhecer a própria mama e ficar atenta a eventuais alterações é o mais importante para evitar um diagnóstico tardio.

Além disso, é importante que as mulheres consultem o ginecologista ao menos uma vez por ano —ou mais, se necessário —, para que o profissional realize a palpação da mama e solicite exames de imagem, se necessário. A Sociedade Brasileira de Mastologia indica que a mamografia seja feita regularmente a partir dos 40 anos. Já o Inca e o Ministério da Saúde recomendam a realização do exame apenas a partir dos 50 anos, para evitar o risco de falsos-positivos e cirurgias desnecessárias.

*Informações de matéria do dia 12/10/18.

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