Não adianta usar limão e vinagre: descubra o jeito certo de lavar vegetais

Já parou para pensar no caminho que frutas, verduras e legumes percorrem até chegar à sua mesa? Eles estão expostos a todo tipo de microrganismos e sujeiras durante o cultivo, nos locais onde ficam armazenados, no transporte e quando são manipulados por feirantes ou funcionários de supermercados e hortifrútis.

A única forma de se livrar do que quer que tenha contaminado esses alimentos é fazendo uma boa higienização.

Como não fazer

Algumas pessoas preparam receitas caseiras ou seguem sugestões da internet —o que nem sempre é o correto. Tem gente que usa detergente, sabão, água oxigenada, tintura de iodo, carvão ativado, argila, vinagre, limão e até castanha-da-índia, embora essas substâncias não sejam recomendadas por especialistas ou pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Utilizar certos produtos químicos para desinfetar os alimentos não é uma boa ideia. Isso pode trazer riscos à saúde porque, dependendo do tipo de produto, ele pode ser absorvido de forma mais intensa no alimento. E depois, no enxágue, não ser completamente liberado. Ou seja, as substâncias tóxicas acabam sendo ingeridas.

Receitas inofensivas à saúde, como as preparadas com vinagre e limão, não retiram os microrganismos.

Recomendação

A solução mais indicada é o hipoclorito de sódio. Primeiro os alimentos devem ser lavados em água corrente e depois mergulhados num recipiente com uma colher de sopa de hipoclorito de sódio para cada litro de água.

Após 15 minutos, é só enxaguar bem. Se você ainda assim se sentir inseguro com a limpeza, pode repetir o procedimento, deixando os vegetais e frutas de molho por mais cinco minutos. Muita gente confunde o hipoclorito de sódio com a água sanitária e de fato ela contém esse mineral (NaClO), no entanto, o produto de limpeza pode conter outras substâncias em sua composição.

Cuidados além da substância de limpeza

O hipoclorito de sódio não faz milagres se a higienização for mal feita. É importante que a seleção das frutas e hortaliças seja feita com cuidado e atenção, descartando as partes estragadas, sujeiras, larvas e insetos. No caso das folhas, elas precisam ser lavadas uma por uma.

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Limpeza deve ser mais caprichada nos alimentos que serão consumidos crus ou com a casca. Lembrando que é fundamental usar água potável ou tratada nesse processo.

Os cuidados também incluem o uso de uma escova de cerdas macias —exclusiva para a limpeza de frutas e vegetais — que consegue remover a terra e outras sujeiras que ficam grudadas.

Depois que os alimentos são higienizados com o hipoclorito de sódio, é necessário secá-los bem em uma centrífuga ou com o auxílio de um pano limpo. A água pode ser um suporte com substrato para o desenvolvimento de bactérias ou fungos. Por isso, o alimento precisa ser guardado com o menor volume de água possível.

Só então eles estão prontos para serem guardados na geladeira, embalados em um saco plástico ou recipiente hermeticamente fechado. E é bom que eles não fiquem muito tempo fora dela, principalmente em dias quentes, para não estragar. Outra dica é nunca cortar frutas, legumes e verduras com a mesma faca que antes foi utilizada em carnes cruas, por exemplo, pois o utensílio pode levar microrganismos para esses alimentos e causar contaminação cruzada. O mesmo vale para a tábua de corte, que precisa estar lavada e seca.

Lave bem as mãos

A contaminação pode vir das nossas mãos, que frequentemente tocam em celulares, torneiras, maçanetas de portas e outras superfícies e objetos onde microrganismos costumam estar presentes. Por esse motivo, a recomendação é tirar os acessórios e lavar bem as mãos antes de higienizar verduras, legumes e frutas.

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Como os micróbios também podem se acumular debaixo das unhas, é aconselhável mantê-las curtas. A mão é um vetor extremamente importante de contaminação cruzada, que pode encontrar no alimento uma estrutura muito rica do ponto de vista de nutrientes para se desenvolver. Em outras palavras, o microrganismo encontra a condição perfeita para se instalar no alimento.

Orgânicos X não orgânicos

Não é porque o alimento é orgânico que ele está livre de contaminação. A contaminação pode ocorrer por diversos fatores como sujidades, insetos, larvas, lesmas ou manuseio impróprio no transporte e na comercialização. A única diferença entre os dois é que os orgânicos não têm agrotóxicos.

Tanto a higienização convencional à base de cloro quanto a feita com outras substâncias apenas reduzem a quantidade de inseticidas, fungicidas e herbicidas. Uma das receitas mais famosas contra eles é o bicarbonato de sódio. Um estudo feito na Universidade de Massachusetts (EUA) mostrou que maçãs lavadas por 15 minutos em uma solução de bicarbonato de sódio a 1% diluído em água (10mg/mL) ficaram praticamente livres de dois tipos de agrotóxicos. Mas os que penetraram na casca não foram removidos.

Saúde em risco

Vegetais e frutas podem conter microrganismos patógenos e deteriorantes, que são responsáveis por várias doenças transmitidas por alimentos. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), existem mais de 200 tipos de doenças como essas, sendo que a maioria são infecções causadas por bactérias, vírus e parasitas, que costumam causar náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, falta de apetite e febre.

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O risco começa quando o alimento ainda está no campo, onde animais circulam e podem transmitir doenças, o que ocorre com uma frequência ainda maior em hortaliças que são cultivadas no quintal de casa.

Se a pessoa que vai manusear o alimento não estiver com as mãos limpas, ela também contribui para essa contaminação. Portanto, a melhor forma de manter as doenças longe é higienizar bem as mãos e os alimentos.

Fontes: Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas; Juliano De Dea Lindner, professor do departamento de ciência e tecnologia de alimentos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina); e Márcia Terra, nutricionista membro da diretoria da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição)

*Com matéria publicada em 02/10/2019

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