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Novo estudo prevê transplante sem uso de imunossupressores

Injeção de células do doador pode ajudar transplantados a aceitar enxerto sem uso de medicamentos - scyther5/IStock
Injeção de células do doador pode ajudar transplantados a aceitar enxerto sem uso de medicamentos Imagem: scyther5/IStock

Do VivaBem, em São Paulo

02/08/2019 15h06

Resumo da notícia

  • Cientistas conseguiram fazer com que células transplantadas em primatas não humanos sobrevivessem sem uso de imunossupressores
  • Apesar de necessários em transplantados, esses medicamentos têm efeitos colaterais e deixam os usuários mais vulneráveis à infecções
  • Preliminar, o estudo lança luz na medicina do transplante de órgãos e abre novas possibilidades para esse procedimento

Médicos e cientistas tentam há anos, sem sucesso, "treinar" o sistema imunológico de pacientes transplantados para que o corpo não rejeite os enxertos, eliminando a necessidade do uso crônico de imunossupressores --remédios que suprimem a imunidade para que o organismo não ataque o enxerto.

Mas uma pesquisa preliminar da New University de Minnesota, nos Estados Unidos, mostra agora que essa busca pode estar mais próxima de um final feliz.

Em um estudo recente publicado pelo periódico Nature Communications, pesquisadores do Departamento de Cirurgia da Minnesota Medical School e do Schulze Diabetes Institute, ambos nos EUA, em colaboração com colegas da Northwestern University, conseguiram manter ilhotas pancreáticas --também chamadas de ilhotas de Langerhans -- de primatas não humanos vivas e funcionais após o transplante sem o uso de imunossupressores.

Para isso, os médicos injetaram células do doador uma semana antes e um dia após o transplante, o que torna o procedimento viável apenas para transplantes feitos a partir de um doador vivo.

Como o estudo foi feito:

  • Nosso corpo é treinado para não atacar as próprias células. Durante nossa vida, as células morrem naturalmente por um processo chamado apoptose;
  • Quando caem na corrente sanguínea, essas moléculas são absorvidas pelas células de defesa do nosso baço, que "lembram" que elas são do próprio organismo, e devem ser toleradas;
  • Esse processo pode ser imitado ao tratar células com uma substância chamada ECDI, que induz a apoptose;
  • Os cientistas então utilizaram a ECDI para induzir a morte de células produtoras de insulina em primatas não humanos, criando uma condição similar ao diabetes 1 nesses animais;
  • Os espécimes doentes foram tratados com um transplante de células do pâncreas de outro primata não humano;
  • Como preparo para o transplante, os animas receberam células tratadas do doador uma semana antes do transplante e um dia após o procedimento. Eles também receberam imunossupressores por cerca de três semanas;
  • Mesmo com a retirada dos medicamentos, as células transplantadas permaneceram saudáveis e produzindo insulina por cerca de dois anos em um animal e um ano em outro.

Por que isso é importante?

Apesar de preliminar, o estudo joga luz sobre novas possibilidades para a medicina de transplante de órgãos, além de assegurar mais qualidade de vida aos pacientes transplantados.

Para muitas pessoas em estágio final de falência de órgãos, o transplante permanece sendo a única possibilidade de cura. E, para evitar que o próprio corpo rejeite o enxerto, os receptores são obrigados a tomar imunossupressores por longos períodos.

Esses medicamentos são efetivos para prevenir a rejeição em um curto prazo; porém, no longo prazo, eles não são tão eficientes. Não é incomum que pacientes percam seus enxertos após algum tempo justamente por isso.

Além disso, como esses medicamentos suprimem o sistema imunológico como um todo, eles colocam em risco a saúde do paciente, que pode desenvolver desde infecções simples até câncer.

Outro lado negativo dos imunossupressores é que seu uso contínuo tem efeitos colaterais hipertensão, toxidade renal, diarreia e diabetes, diminuindo os benefícios do transplante.

Induzir a tolerância do corpo ao enxerto eliminaria a necessidade do uso contínuo desses medicamentos. Até hoje, poucos pacientes conseguiram atingir essa tolerância.