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Não é só linhaça: por que você deveria consumir sementes que você joga fora

Semente de melancia - iStock
Semente de melancia Imagem: iStock

Sibele Oliveira

Colaboração para o UOL VivaBem

18/06/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Consumir sementes pode ser positivo para ter bons aportes de vitaminas, minerais e até proteínas, gorduras e fibras
  • E não precisa ser só chia e linhaça: sementes de abóbora, melancia e melão apresentam benefícios e podem entrar na lista
  • Se você não sabe a procedência da semente, procure consumi-la torrada. Pessoas com diverticulite, no entanto, devem ter cuidado com o item

Antes de comer qualquer fruta, descartamos as sementes. É um gesto automático. O que a maioria de nós não sabe é que elas contêm nutrientes que fazem um bem enorme à saúde. E que em vez de parar na lata do lixo, elas deveriam fazer parte do nosso cardápio, da mesma forma que outras sementes famosas por suas propriedades nutricionais como a linhaça, a chia e o gergelim.

As sementes costumam ter uma quantidade alta de nutrientes pois precisam deles para se desenvolver e dar origem a uma nova planta. Em geral elas contêm fibras, minerais, vitaminas, proteínas e gorduras saudáveis, além de serem boas fontes de antioxidantes.

Um estudo conduzido pelos pesquisadores Seema Patel, da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, e Abdur Rauf, da Universidade de Swabi, no Paquistão, afirma que as sementes da família das cucurbitáceas, que incluem a de abóbora e da melancia, são ricas em nutrientes e podem proteger o corpo contra diversas doenças.

É isso mesmo. Pode parecer estranho, mas estudos indicam que as sementes de melancia são ótimas fontes de proteína, gorduras boas, antioxidantes e minerais como magnésio, potássio, fósforo, sódio, ferro, zinco, manganês e cobre. E mais. Elas podem ajudar a prevenir tumores, diabetes e micoses, entre outras enfermidades.

Outra semente que a maioria das pessoas costuma jogar fora é a de abóbora. Mas não deveriam. Clarissa Fujiwara, nutricionista do Departamento de Nutrição da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), garante que ela é excelente para a saúde. Rica em cálcio, potássio, fósforo, magnésio, zinco, ferro e fibras, contribui para a saúde óssea, fortalece o sistema imunológico e previne anemia por carência de ferro.

Há outras sementes de frutas sendo pesquisadas, como a de melão, que podem enriquecer a nossa alimentação de forma simples e barata. "Do ponto de vista nutricional, as polpas das frutas são mais estudadas, mas a princípio não existem contraindicações para comer as sementes", afirma Fujiwara.

Elas podem ser usadas para substituir parcial ou integralmente algumas farinhas porque não interferem tanto no sabor dos alimentos, segundo a nutricionista. As exceções seriam as sementes das frutas cítricas. Não pela composição nutricional, mas por não serem agradáveis ao paladar.

Como os demais alimentos, não devemos comer sementes com exagero. Fujiwara orienta a consumi-las em pequenas quantidades, equivalente a mais ou menos uma xícara de café.

Como aproveitar todos os nutrientes

Tanto as sementes já conhecidas por suas propriedades quanto as que descartamos podem ser ingredientes usados em pães, bolos, tortas, saladas, sucos, smoothies ou consumidas como petiscos. Podem ser extraídas de leguminosas, oleaginosas, cereais e frutas. E em geral são ricas em fibras, minerais, vitaminas, proteínas e gorduras saudáveis, além de serem boas fontes de antioxidantes.

Renata Cintra, professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) especializada em Ciência dos Alimentos, diz que elas podem ajudar a reduzir a carência de nutrientes que consumimos pouco. "Mas para ter os efeitos benéficos, não adianta consumir uma vez ou outra. Tem que fazer parte da rotina".

As sementes precisam ser quebradas de alguma forma antes de engolir. Caso contrário, elas passam inteiras pelo trato gastrointestinal e os nutrientes contidos na parte interna não são aproveitados. Apenas as propriedades da casca -ou seja, as fibras -- são absorvidas pelo organismo.

Uma das maneiras de abrir as sementes é através da mastigação. Mas esse "método" não costuma funcionar com as menores, com exceção de algumas como a chia, que por ser recoberta com fibras mucilaginosas, consegue ser totalmente digerida. Quando não é possível mastigar as sementes, a recomendação é triturá-las no liquidificador ou no processador de alimentos.

Ao fazer isso, consuma em seguida. "Se a semente em forma de pó ficar em contato com o ar ambiente por muito tempo, os ácidos graxos que geralmente tem dentro delas e são benéficos para a saúde, como ômega 3 e ômega 6, oxidam", explica Marcella Garcez, nutróloga e diretora representante da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) no Paraná.

Quem deve evitar o consumo de sementes

Uma dúvida comum é se as sementes podem fazer mal, já que engolimos várias delas, da salada de tomate às frutas que comemos com pressa. Elas são contraindicadas para quem têm doenças intestinais inflamatórias, como a diverticulite. "Não temos capacidade na flora intestinal de quebrar a casca, que é feita de celulose. E mesmo que as sementes passem inteiras, como elas são ricas em fibras podem ter efeito laxativo e irritar a parede do intestino", esclarece Garcez.

A médica acrescenta que as pessoas que têm muitos divertículos podem até parar numa mesa de cirurgia se sementes, principalmente as pequenas, se alojarem ali. Para evitar complicações, quem tem diverticulite deve consumir esse tipo de alimento na forma de farinha.

Crua, cozida ou assada?

Essa não é uma decisão fácil. Isso porque é possível aproveitar todos os nutrientes das sementes cruas, enquanto as tostadas e cozidas perdem um pouco de seus efeitos benéficos. "Quando as assamos, alguma coisa das proteínas pode desnaturar. E se ela tiver vitamina C ou do complexo B, essas vitaminas podem se perder porque são hidrossolúveis", adverte Garcez.

Por outro lado, quando compramos as sementes, não sabemos em quais condições elas foram acondicionadas. Se em um lugar limpo ou sujo, úmido ou seco. "Temos que tomar cuidado porque não sabemos como as sementes foram armazenadas, se não têm fungos ou bactérias e se esses microrganismos não levaram à formação de toxinas", enfatiza Cintra.

Na dúvida, o melhor é submetê-las a uma fonte de calor com temperatura alta. Até porque só lavar as sementes não elimina uma eventual contaminação, de acordo com a especialista. Portanto, o conselho é assar as sementes, além de ficar atento à procedência delas. Mesmo que se perca vitaminas, é importante ter a segurança de que estamos consumindo um alimento que não irá colocar a nossa saúde em risco.

Resista à tentação de colocar sal e açúcar

Temperar com sal ou fazer uma crosta de açúcar pode realçar o sabor das sementes. Mas não é uma boa ideia. Naturalmente calóricas, principalmente as oleaginosas como as amêndoas, consumi-las com açúcar significa aumentar a ingestão de calorias. Da mesma forma, acrescentar sódio à sua dieta pode causar doenças renais, por exemplo. O problema não é comprometer as propriedades nutricionais das sementes, o que não vai acontecer. Mas aumentar o consumo do que não te faz bem.

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