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Como ajudar adolescentes a enfrentar o estresse

Brian Niles/IStock
Imagem: Brian Niles/IStock

Lisa Damour

Do New York Times

01/10/2018 10h12

Agora que o ano letivo começou nos EUA, muitos jovens estão sentindo o peso das exigências acadêmicas, mas a tensão que vivenciam pode depender menos da carga de trabalho e mais do modo em que encaram o estresse.

O estresse não merece a má reputação que tem. Os psicólogos concordam que, enquanto a versão crônica ou traumática pode ser tóxica, a comum – como a que ocorre durante uma prova – é parte normal e saudável da vida. Em um artigo de 2013 no Journal of Personality and Social Psychology, os pesquisadores Alia J. Crum, Peter Salovey e Shawn Achor notaram que a resposta do estresse humano, por si só, pode colocar "o cérebro e o corpo em uma posição ideal para a ação".

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Mas a sabedoria convencional é que ele faz mal e assim, consequentemente, devemos tentar reduzi-lo, preveni-lo ou evitá-lo. Não é surpresa então que essa visão negativa molde o modo em que os pais criam os filhos, além de também deixar os adolescentes mais estressados por estarem estressados.

"Especialmente nos últimos cinco anos, temos visto um aumento no número de pais que sentem que é seu dever salvar seu filho de situações estressantes", disse Sarah Huss, diretora de desenvolvimento humano e educação parental na Campbell Hall School, em Los Angeles.

Para reformular nosso modo de pensar sobre um fenômeno que tem sido, no geral, erroneamente encarado como doença, devemos reconhecer que o estresse saudável é inevitável quando operamos no extremo de nossas habilidades. Ultrapassar os limites conhecidos nem sempre faz com que nos sintamos bem, mas o crescimento e o aprendizado, fatos importantes na escola e em grande parte da vida, não acontecem de outra maneira.

De acordo com Jeremy P. Jamieson, professor associado de Psicologia da Universidade de Rochester que estuda como o estresse afeta as emoções e o desempenho: "Evitar o estresse não adianta e muitas vezes não é possível. Para realizar e crescer, temos que sair de nossa zona de conforto e assumir desafios".

Sabe-se também que o estresse tem um efeito protetor. Pesquisas mostram que as pessoas que superam circunstâncias difíceis apresentam níveis de resiliência mais altos que a média. Em suma, dominar situações complicadas aumenta a força emocional e a saúde psicológica.

O modo no qual os próprios alunos encaram o estresse – se o veem como algo positivo ou negativo – tem efeitos poderosos. Estudos descobriram que, quando enfrentam tarefas intelectuais duras, os indivíduos que veem o estresse como algo vantajoso se saem melhor que aqueles que o veem como debilitante.

Além disso, reconhecer que é uma reação humana útil realmente muda o funcionamento do corpo nessas circunstâncias. Os participantes da pesquisa que acreditavam que as manifestações físicas do estresse (como batimentos cardíacos acelerados) realmente os preparam para enfrentar desafios apresentavam níveis mais elevados de um hormônio que anula o estresse, e tinham uma resposta cardiovascular mais adaptável que aqueles com uma visão negativa.

Felizmente os estudos também mostraram que não é difícil convencer as pessoas de que o estresse é bom. Para fazer isso no meu próprio trabalho com adolescentes, comparo as exigências escolares com um programa de treinamento físico. Todos compreendem que levantar pesos até chegar ao ponto de desconforto é a única maneira de desenvolver os músculos; o processo de aprimoramento intelectual, incluindo a capacidade de gerenciar o estresse, funciona da mesma maneira.

Ao falar com adolescentes, menciono que seus professores devem lhes dar tarefas acadêmicas difíceis, porque é isso que fará com que deixem de ser potros vacilantes para se transformarem em cavalos de corrida velozes.

Obviamente, alguns dias terão menos desafios; outros, serão opressivos. Mas tento tranquilizá-los dizendo-lhes que se, no geral, estiverem se sentindo muito exigidos na escola e precisarem passar para um novo nível depois de dominar o antigo, então as coisas estão indo exatamente como deveriam.

Os pais podem se sentir mais confiantes promovendo uma visão positiva do estresse ao se recordarem das situações em que exigências novas, como a chegada de um bebê, a mudança para uma cidade desconhecida ou o começo de um novo trabalho, começaram a parecer cada vez mais gerenciáveis. Novas imposições exigem crescimento, e o crescimento é invariavelmente estressante. E o negócio das escolas é cultivar o crescimento.

Mas, e se a visão positiva do estresse não for suficiente para oferecer o alívio necessário? Na verdade, muitos alunos agora experimentam doses grandes demais do que deveria ser uma coisa boa. Aqueles que fazem cursos com cargas de trabalho punitivas não vão conseguir aliviar seu fardo simplesmente apreciando os benefícios do estresse. No entanto, o problema com exigências acadêmicas imensas raramente é a incapacidade de dar conta do trabalho, mas sim o fato de que nunca há tempo para se restabelecer.

Em vez de tentar vencer a pressão acadêmica, devemos nos dedicar a fazer com que os alunos possam se recuperar entre momentos de intensa atividade intelectual, assim como os atletas descansam entre os treinos duros.

Três anos atrás, a Centennial High School, em Circle Pines, Minnesota, mudou sua programação e incluiu um programa quase diário chamado de hora LEAP, sigla (em inglês) para almoçar, energizar, realizar, participar, descrita pelo diretor, Tom Breuning, como o recreio dos mais velhos. Os alunos escolhem como passar seu tempo. Podem, por exemplo, jogar basquete ou cartas, se exercitar, colorir, reunir-se com professores ou entrar para o clube do Pinterest, que, segundo Breuning, "é especialmente popular com nossas jogadoras de futebol".

Mackenna Stoterau, 17 anos, goleira do time de hóquei no gelo, muitas vezes usa o tempo para estudar com os amigos, para levar menos lição para casa após o treino. "Mas quando todo mundo se sente superestressados, só batemos papo", disse ela.

Apesar de o rigor do programa acadêmico da Centennial High School ter sido alterado, as pesquisas da escola descobriram que, após um ano do LEAP, a porcentagem de alunos que relatavam altos níveis de estresse caiu de 60 por cento para 20 por cento. "O mais importante é dar a eles uma chance de se conectar e de ter escolha, para que possam se recuperar e recarregar as baterias durante o dia", disse Breuning.

A escola exige dos alunos. E eles precisam ter bastante tempo para se recuperar de modo que possam aproveitar bem as tarefas acadêmicas que recebem. Não é um problema para o adolescente se sentir pressionado por tudo que lhe é exigido, e é melhor ainda se puder ver o estresse como um sinal de crescimento saudável, ainda que ocasionalmente desconfortável.

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