Estamos envelhecendo e o que as cidades estão fazendo para acolher o idoso?

O debate em torno da reforma da Previdência levantou uma discussão emergencial: o envelhecimento da população brasileira. Para se ter uma ideia da futura situação etária do país, a partir da década de 2030, o Brasil terá mais velhos do que jovens e, em 2050, a população acima dos 60 anos será o dobro do contingente de crianças e adolescentes com menos de 14 anos. Mas será que as cidades estão preparadas para atender uma superpopulação de idosos?
Estruturalmente, as cidades e até as próprias moradias desses idosos têm papéis fundamentais no bem-estar e até na longevidade. O idoso quer fazer parte da sociedade, sentir-se útil, acolhido, mas o que vemos hoje é exclusão e reclusão, aumentando número de quadros de depressão e ansiedade nessa faixa etária e diminuindo a qualidade de vida.
“Para reverter isso, a cidade precisa ser inclusiva. E para ser inclusiva, ela tem que ser acessível”, diz Adriana de Almeida Prado, arquiteta e gerontóloga.
A cidade acessível é aquela que não exclui ninguém, da criança ao idoso, passando por pessoas com deficiência. E isso é garantido em 90% dos casos com o simples fato de ter uma calçada de qualidade.
Adriana de Almeida Prado
Segundo Adriana, uma calçada com pavimentação uniforme, sem degraus e arborizada estimula o idoso a sair de casa, a conviver com outras pessoas e a manter saúde física e mental. “Se a calçada não é adequada, o idoso cai e, no geral, se ele cai uma vez, vai cair uma segunda. Isso faz com que ele fique inseguro, com medo de sair de casa novamente.”
Além disso, a arquiteta ainda ressalta a importância da travessia segura, com semáforos com tempo adequado à marcha do idoso, faixa de pedestre e principalmente banheiros públicos. “No Brasil, não é comum vermos sanitários em praças ou ruas. Mas desde 2004, a legislação obriga que todos os espaços públicos (estações de trens e metrôs, rodoviárias, postos de saúde) tenham sanitários”, afirma ela. “Há uma queixa constante dos idosos não quererem sair de casa por conta da falta de banheiros. A maioria deles tem incontinência urinária e fecal. Mais um motivo que agrava o psicológico dessa faixa etária.”
Casa também deve ser adaptada conforme a idade do morador
Para o arquiteto alemão Matthias Hollwich, um dos convidados do 12º Fórum da Longevidade, que ocorreu neste mês em São Paulo, a arquitetura e o design têm papeis importantes na garantia do bem-estar na terceira idade. Autor do livro “New Aging - Live Smarter Now to Live Better Forever”, Hollwich acredita que a solução para envelhecer com saúde e segurança é uma cidade mais ativa e integrada, e isso só é possível com o apoio da arquitetura.
As construções devem fazer parte da comunidade, sendo mais sociáveis, mais saudáveis e engajadas. Com a ajuda do design, as obras podem nos incentivar a sermos mais ativos e a buscarmos nosso bem-estar. Começando por sua casa.
Matthias Hollwich
Hollwich acredita que existem muitos prédios com problemas de infraestrutura (escadas demais, espaços mal integrados), mas as pessoas jovens e saudáveis conseguem compensar todos esses entraves. O problema é quando ficamos velhos e surgem mais desafios de mobilidade. “De repente, a arquitetura já não te serve mais. Então o que conta é ver por meio das lentes dos idosos e reinventar as construções, para que as pessoas possam realmente chamar esses lugares de casa.”
Lugares da casa que estão separados por um ou dois degraus devem trocá-los por uma rampa, e tenha certeza de que todos os espaços-chave de sua casa estejam no mesmo andar como a cozinha, o banheiro e o quarto. “Escadas são os lugares mais perigosos para quedas. Instale uma boa iluminação e corrimãos em ambos os lados da escada, e garanta que não haja superfícies escorregadias”, recomenda o alemão.
Fontes: Eva Bettine e Thais Bento Lima da Silva, conselheiras executivas da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG), também foram consultadas na apuração a reportagem.
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