Mudar hábitos pode ser mais simples do que você imagina
O meu primo Thiago se contorcia de dor, gritando no banco de trás do carro. A esposa, ao lado dele, tentava acalmá-lo, dizendo frases tranquilizadoras e afirmando que todo aquele sofrimento se resolveria quando chegássemos ao hospital.
E pensar que tudo isso aconteceu devido à sustentação prolongada de um mal hábito, algo muito comum na maioria da população: se esquecer de tomar água. Dizem que o cálculo renal é uma das piores dores que podemos sentir, mais intensa até do que as dores do parto.
Pelo que presenciei, deve ser verdade, ao socorrê-lo em sua casa, ele estava debaixo do chuveiro, tentando aliviar os espasmos de dor com água quente.
Como diria sua esposa, mais tarde, é impressionante como os homens têm pouca escuta corporal. O Thiago havia perdido tempo, na dúvida sobre o que estava acontecendo, incapaz de reconhecer a diferença entre uma indigestão e algo mais grave. As mulheres têm muito mais intimidade com as reações e sinais enviados pelo seu corpo. No fim, tudo acabou bem.
Conto essa história para ilustrar aquilo que chamo de desafio da água, o símbolo mais eloquente do processo de mudança de hábito.
Antes de lançar esse desafio, vou resumir, rapidamente, a importância da água em nosso sistema orgânico.
Não é novidade que 70% da nossa massa corporal é constituída de líquidos, dessa forma encharcar as nossas células, e manter esse fluxo, será responsável pelo bom funcionamento do nosso organismo, como um todo.
No entanto, muitas pessoas se esquecem de beber água na quantidade necessária, embora não se esqueçam de cuidar com todo carinho de seus carros. Digo isso apenas para acentuar esse desatino.
Cada vez mais o mundo moderno tem nos levado ao esquecimento e à alienação daquilo que é mais essencial: cuidar do nosso próprio corpo.
Nesse processo, um organismo pode se acostumar a ingerir quantidades ínfimas de água, o que irá, a longo prazo, alimentar uma insensibilidade e um parcial amortecimento desse sistema primordial, avisando o corpo da quantidade ideal a ser ingerida, diariamente.
Quanto mais esse sistema se atrofia, menos vontade teremos de tomar água, o que dispara um círculo vicioso extremamente negativo. O contrário também se prova verdadeiro, quanto mais água tomamos, mais água queremos tomar, provendo nosso organismo desse líquido sagrado, vital e milagroso.
O nosso organismo é um sistema extremamente inteligente e adaptativo. Por exemplo, quando paramos de consumir leite, nosso organismo para de fabricar a lactase, a enzima responsável pela quebra e absorção desse alimento.
O desafio da água
Mudar hábitos é um paradoxo, ou seja, algo extremamente simples e complexo ao mesmo tempo, assim como a própria vida.
O problema é que mudar hábitos depende basicamente de foco, uma certa atenção e disciplina (nada que a maioria de nós já não tenha), somado à estratégia de elevar o tema escolhido a um lugar de destaque em sua lista de prioridades, durante algumas semanas.
Ou seja, no fim, mudar hábitos é só uma questão de estratégia correta e esforço concentrado nas 3 primeiras semanas. Após esse período, esse esforço irá se reduzir, gradativamente, até praticamente desaparecer após 8 semanas, tornando-se um comportamento automático.
Aliás, essa é a função do hábito, facilitar a vida e automatizar tarefas necessárias, evitando um desgaste energético para escolher e decidir o que faremos, a cada instante, durante o dia.
Então, vamos lá, hoje vou ensinar um grande segredo da nossa metodologia, algo muito simples e funcional. Para atingir bons resultados, o ideal é começar com uma tarefa acessível, um desafio fácil, e, aos poucos, ao ganhar confiança, você poderá incrementar, progressivamente, o grau de dificuldade.
Essa regra geral se aplica a qualquer meta a ser atingida, desde o treinamento físico ao crescimento de uma empresa, estimulando estratégias evolutivas orgânicas e sustentáveis.
Lembre-se, o mais importante é estabelecer um novo hábito e não a intensidade e a dificuldade da tarefa em questão.
O desafio da água foi estrategicamente escolhido como um primeiro passo, um divisor de águas na forma de entender a mudança de hábitos, devido ao fato de ser algo de fácil aplicação, sem grandes exigências e empecilhos.
Ele funciona da seguinte maneira:
- Ao acordar, antes do café da manhã, tome um copo e meio de água.
- Durante a manhã, coloque um despertador, a cada duas horas, como um lembrete para tomar essa mesma quantidade, pelo menos em 3 períodos.
- Repita o mesmo processo à tarde, fazendo a última ingestão d'água até as 19h, evitando assim prejudicar a qualidade do sono, ou se ver obrigado a levantar no meio da noite para ir até o banheiro.
Muitos alunos conseguem cumprir essa meta, mesmo sem um despertador, ou acionando uma outra estratégia eficiente: usar da antiga pausa do cafezinho para esse fim, parando um pouco entre reuniões. Outra dica seria colocar uma garrafa d'água ao lado do computador, em um local bem visível e se acostumar a encher o copo, frequentemente, até atingir a quantidade diária de 2 a 3 litros ao dia. Para se adaptar, comece com quantidades menores e vá aumentando gradativamente.
É curioso: os alunos que usam o despertador me dizem que, após a primeira semana, já seriam capazes de interiorizar essa rotina sem qualquer ajuda exterior, apenas pela força desse novo hábito. Para as pessoas mais atarefadas, sugiro manter esse foco por até 5 semanas, período após o qual se tornará cada vez mais fácil se atentar a essa rotina.
Trabalhe menos e produza mais
E aqui surge a dica adicional: aproveite as pausas para checar suas necessidades corporais básicas, como fome, alongamento, descomprimir a coluna lombar, se refrescar e lavar o rosto ou apenas fazer uma breve meditação ou relaxamento, por exemplo.
Fazer uma pausa estratégica a cada duas ou três horas é a forma mais efetiva de combater o estresse e evitar chegar ao fim do dia com o organismo totalmente debilitado e esgotado, o que alimentará um círculo vicioso perigoso e improdutivo, prejudicando seu sono, aumentando o cortisol e estimulando o ganho de peso, entre diversos outros fatores. A soma deles irá minar a sua saúde física e mental, diariamente, a conta-gotas.
Na realidade, precisamos de muito pouco para termos saúde e vitalidade, dessa forma, ao invés de fórmulas complicadas e exigentes, podemos fazer apenas o essencial, o que já seria muito. Sem encaixar pequenas rotinas de autocuidado durante o dia, entremeadas às pausas necessárias, a sua produtividade irá, fatalmente, entrar em processo contínuo e gradativo de encolhimento e degradação no médio e longo prazo.
Na realidade, todas as dicas de produtividade se veem subordinadas a um princípio fundamental. Aqui fica a dica: para produzir e trabalhar melhor, com muito mais lucidez e qualidade, cuide com consciência e carinho da sua casa primordial, o seu próprio corpo.
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