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Nuno Cobra Jr

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Esqueça quase tudo o que você aprendeu sobre treinamento físico

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

05/07/2022 04h00

O modelo do fitness, da malhação, tem origem na escola militar de treinamento, e defende o "sem dor, sem ganho", sendo um modelo hegemônico e dominante atualmente no mundo. No entanto, seguir esse modelo representa estar alinhado aos conceitos mais arcaicos do treinamento físico, algo que remonta há mais de 5.000 anos, quando o general e imperador chinês Hong TI realiza aquilo que é conhecido como o primeiro registro histórico de um treinamento físico sendo organizado.

Como pode ter ocorrido esse desastre conceitual, e, em pleno século 21, retrocedemos vários séculos em relação a recomendar para a população conceitos saudáveis de atividade corporal?

No século 18, as principais escolas do treinamento físico, a escola germânica e a francesa, tinham princípios infinitamente mais saudáveis do que qualquer moda atual.

Responder plenamente a essa pergunta me tomou 12 anos de pesquisa e se transformou em um livro, aquilo que é reconhecido atualmente como o principal guia do treinamento consciente. Para saber mais, veja: https://nunocobrajr.com.br/livro/ (O músculo da alma, a chave para a sabedoria corporal).

Resumindo bastante o assunto, o modelo globalizado que seguimos é fruto de um sistema eficiente e agressivo de exportar produtos em escala: a máquina norte americana de consumo. Ou seja, tudo o que é criado na matriz, se repete em todo o mundo.

Dessa forma, como o pessoal do bodybuilding (os marombeiros) já dominavam o ambiente de treinamento, foi esse modelo radical que se espalhou por todo o mundo.

Há algumas décadas, as principais modas do treinamento são compradas pelas principais marcas esportivas do planeta, gerando receitas bilionárias, por mais que estejam fundamentadas em conceitos arcaicos, distorcidos e superficiais.

Se o público quer comprar o fast-training, investir no modelo de treinamento estético e ficar mais forte e bonito, se é isso que vende, é nessa vertente que vamos investir, pensa o mercado.

A musculação só faz sentido para um perfil muito específico: os apaixonados pelo fisiculturismo e pelo culto ao fortalecimento muscular.

Esse grupo era uma ínfima parcela da população, em um passado recente. Como essa minoria encontrou, no ambiente da academia, um meio cultural fértil de desenvolvimento, proliferou-se de uma forma assustadora e criou os modelos atuais de beleza.

A grande população, que não tem "nada a ver com isso", é impelida e condicionada, através do marketing agressivo desta indústria do bodybuilding, a seguir esse modelo de beleza artificial.

Na década de 1990, o cinema de Hollywood assumiu um papel determinante na fixação desse modelo no inconsciente coletivo, por meio da glamourização de heróis com corpos extremamente "bombados", em blockbusters protagonizados por grandes astros, como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone.

O "corpo perfeito" virou um bem de consumo a ser conquistado. Há, também, um marketing poderoso inserido de maneira subliminar nos realities shows, nas propagandas, nas novelas, nas revistas e nos programas de maior audiência da TV.

Hoje, vemos nas academias, rotineiramente, milhões de jovens entre 14 e 35 anos levantando cargas pesadas, seguindo fórmulas radicais de treinamento, tomando anabolizantes e destruindo de forma precoce a própria coluna e as articulações. Tudo isso para estar em conformidade com o padrão vendido por essa indústria.

Se você, assim como muitas pessoas, sempre achou estranho e sem sentido ter que passar por sofrimentos indescritíveis para ter bons resultados no treinamento, saiba que o seu raciocínio estava correto.

Segundo os maiores estudiosos do assunto, apesar de agradar uma pequena parcela da população, esse modelo dificulta enormemente a adesão da maioria dos alunos ao treinamento. Esse modelo não é recomendado para mais de 90% da população, somando os sedentários, obesos, alunos com sobrepeso, alunos sem regularidade e alunos sem adaptação a formas radicais de treinamento.

Tudo mudou!

Gradativamente, os conceitos do treinamento consciente começam a influenciar profissionais em todo o mundo, invertendo a regra na qual tudo o que consumimos vem da matriz. Para saber mais, conheça o Movimento Treinamento Consciente: https://nunocobrajr.com.br/movimento/.

Veja se o seu treino está alinhado com as novas diretrizes. O maior segredo do treinamento físico, algo ainda inacessível a imensa maioria dos alunos, é adotar uma abordagem cuidadosa e consciente que se divide em diversos princípios. Resumo abaixo os principais conceitos:

1 - Treinamento Humanizado - Sem sofrimento, na medida exata, sem exagero. A moderação como o princípio mais fundamental do treinamento físico;
2 -Treinamento Sustentável - É equilibrado, extremamente gradativo, lúdico e prazeroso. Colaborar na sustentabilidade de um treinamento significa respeitar todos os princípios fundamentais presentes nessa lista;
3 - Treinamento Inclusivo - Adapta-se a todos os tipos físicos. Não é você que tem que se adaptar aos modelos radicais de treinamento, é o treinamento que tem que se adaptar à realidade de cada aluno;
4 - Treinamento Orgânico - Respeita o ritmo de evolução e o "momentum corporal" de cada aluno. Você não joga uma semente ao chão e dela nasce uma árvore adulta em poucos meses;
5 - Treinamento Integral - Uni corpo, mente, emoção e espírito e integra todas a áreas do conhecimento corporal, como a cardiologia, a fisioterapia, a fisiologia, a osteopatia e as técnicas somáticas;
6 - Moving Meditation - Um retorno ao treinamento natural, low-tec, sem equipamentos complexos e artificiais, formas de treinamento que estimulem a consciência, a inteligência do movimento e sejam funcionais, resultando em uma estrutura corporal harmônica, flexível e equilibrada.

Esses princípios orientam a nova geração de profissionais do treinamento físico consciente realizado sob medida, visando a saúde e não apenas a estética corporal.

Como você pode notar, a minha pesquisa me coloca à margem da cultura do treinamento atual, repetindo, à exaustão, conceitos que não chegam ao público em geral devido ao amplo domínio mercadológico do universo fitness.