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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que nova lei que inclui ecocardiograma fetal no pré-natal é importante

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

21/06/2023 04h00

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No dia 14 de junho de 2023, o presidente sancionou a lei que inclui no protocolo de assistência às gestantes a realização do exame ecocardiograma fetal no pré-natal.

O ecocardiograma fetal é um exame fundamental para avaliar a estrutura e o funcionamento do coração do feto. O coração é um órgão vital e seu desenvolvimento adequado é essencial para o bem-estar e a saúde do bebê. Ele visualiza defeitos estruturais no coração fetal, anormalidades do ritmo e outros aspectos funcionais do coração fetal.

É um exame seguro e não invasivo, realizado por profissionais especializados. Ele pode ser realizado a partir da 18ª semana de gestação, mas o ideal é entre a 24ª e a 28ª semana.

A cardiopatia congênita é uma das alterações mais frequentes entre os recém-nascidos. Com o diagnóstico precoce, um bom atendimento durante o pré-natal e nascimento pode mudar a história do bebê. A incidência é de 8 a cada 1.000 nascidos vivos. No entanto, muitos óbitos fetais, abortamentos também podem ocorrer antes do diagnóstico, permitindo concluir que essa incidência pode ser ainda maior.

Realizar o ecocardiograma fetal oferece uma série de benefícios para a gestante e para o bebê. Veja só alguns deles:

Detecção precoce de malformações cardíacas: o exame permite identificar precocemente possíveis alterações no coração do feto, possibilitando um diagnóstico precoce e a intervenção adequada, caso necessário. Quanto antes uma possível malformação cardíaca for detectada, maiores são as chances de um tratamento eficaz e melhores são as perspectivas de saúde para o bebê.

Planejamento e preparação: caso seja identificada alguma malformação cardíaca durante o ecocardiograma fetal, a gestante e sua equipe médica poderão se preparar adequadamente para o cuidado especial que o bebê irá necessitar após o nascimento. Isso inclui o planejamento de possíveis intervenções cirúrgicas ou tratamentos específicos, proporcionando um melhor suporte ao recém-nascido.

A maioria das gestantes que possuem bebês com alterações cardíacas não possui nenhuma alteração ou antecede, motivo pelo qual é importante que o exame seja disponível para todas.

Mesmo realizando o ultrassom morfológico, o ecocardiograma fetal é um aliado, pois consegue avaliar com mais sensibilidade alterações cardíacas.

Embora a lei tenha sido sancionada pelo governo no dia 14 de junho, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) se posicionou argumentando que a oferta de ecocardiografia fetal sistemática no pré-natal, como determina a lei em questão, não encontra efetivo amparo nas melhores diretrizes científicas da atualidade.

Dessa forma, é difícil afirmar que a oferta do ecocardiografia fetal como exame de rotina do pré-natal possa reduzir a mortalidade neonatal. O argumento é baseado em custos e na mortalidade associada, pois eles consideram que as taxas de recém-nascidos com cardiopatia são baixas.

Entre uma parcela de profissionais e pacientes que conhecem pessoas acometidas ou que possuem cardiopatia, a importância do exame na gestação para todas as gestantes é algo difundido, sem selecionar apenas gestantes de alto risco, pois o impacto da cardiopatia na vida de pessoas acometidas não possui estimativa financeira.

Conversando com Larissa Mendes e Janaina Souto, do Instagram @cardiopatia_congenita2, elas contam que tinham 24 e 28 anos durante a gestação, sem qualquer doença que as colocasse no grupo de risco para que o ecocardiograma fetal fosse indicado, fazendo parte das 90% das gestantes que são surpreendidas com o diagnóstico, mesmo tendo feito mais de um ultrassom ao longo do pré-natal.

Dar mais acesso à realização do ecocardiograma fetal permitirá a identificação de alterações cardíacas no bebê, oferecendo a possibilidade de tratamento durante a gestação ou logo após o parto, reduzindo a mortalidade de uma alteração que, entre as malformações que podem acometer o feto, é mais frequente.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para: dralarissacassiano@uol.com.br e veja mais no meu Instagram @dralarissacassiano.

Referências:

Chaubal NG, Chaubal J. Fetal echocardiography. Indian J Radiol Imaging. 2009 Feb;19(1):60-8. doi: 10.4103/0971-3026.44524. PMID: 19774143; PMCID: PMC2747399.

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