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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sangramento uterino anormal deve ser um sinal de alerta

pepifoto/Getty Images/iStockphoto
Imagem: pepifoto/Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

23/03/2022 04h00

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O sangramento uterino anormal (SUA) é o fluxo menstrual excessivo em que existe um sangramento com pelo menos um dos seguintes aspectos alterados: volume, duração ou frequência.

O sangramento anormal pode causar diversas alterações no dia a dia, trabalho e na qualidade de vida, assim como: cólica, náusea, vômito, dor para urinar, fraqueza, tontura e desmaio. Motivos que não devem ser ignorados e devem ser um alerta para busca de auxílio médico.

Para reconhecer um fluxo anormal é importante reconhecer um fluxo esperado:

  • Frequência: mais de 24 a menos de 38 dias;
  • Regularidade: variação entre o ciclo mais curto e o mais longo de 7 a 9 dias;
  • Volume: 20 a 80 ml por ciclo.

As causas para o SUA, podem ser:

Causas Orgânicas Locais: traumas genitais após relação sexual, infecções, pólipos, adenomiose e miomas, hiperplasias endometriais, câncer vaginal, do colo do útero, endométrio, ovário, presença de corpo estranho e uso do DIU.

Causas Sistêmicas: relacionada a questões sanguíneas (hemofilias), doença de Von Wiellebrandt, Plaquetopenias, CIVD, anemia aplástica, leucemias, linfomas, hepatopatias, nefropatias e uso de anticoagulantes (heparinas e cumarínicos).

Causas Disfuncionais: uso de medicações, alterações que modifiquem a regulação do sistema reprodutor feminino e que podem estar relacionadas com questões do ovário, tireoide, adrenais, diabetes mellitus, distúrbios nutricionais, uso de medicações e alterações que frequentemente ocorrem próximas à menarca e menopausa.

Após avaliação e diagnóstico, é possível chegar a uma definição de qual melhor conduta seguir, sabemos que SUA não é normal, mas em alguns casos, se não houver impacto para saúde, não haverá a necessidade de tratamento, como, por exemplo, no caso da irregularidade que ocorre após as primeiras menstruações.

Para muitas pessoas, esse fluxo, ora mais intenso ou mais irregular, pode ser um motivo para preocupação, mas em muitos casos não existe a necessidade de nenhum tratamento e nem o início do uso de anticoncepcionais como uma forma de deixar o ciclo regular.

Essa irregularidade tende a passar espontaneamente nos dois primeiros anos do início da menstruação, assim como na perimenopausa, em que o fluxo volta a ter períodos de irregularidade até finalmente parar por completo.

Entre os exames para o diagnóstico, é possível recorrer em primeiro lugar a uma boa avaliação clínica, com exames de sangue para avaliação da parte hormonal, hematológica, funcional, ultrassom pélvico ou transvaginal, ressonância, histeroscopia, biópsia de endométrio e teste de gravidez.

Com diagnóstico, pensando nas opções de tratamento ginecológica, temos a possibilidade de utilizar anti-inflamatórios que agem na vascularização da camada interna do útero, auxiliando na hemostasia; DIU hormonal, que também age na camada interna do útero, causando um bloqueio na menstruação; ablação endometrial, um procedimento realizado em ambiente cirúrgico para cauterizar a camada interna do útero, histerectomia, a cirurgia para retirada do útero, ou cirurgia para retirada dos pólipos ou miomas, se forem a causa; embolização das artérias uterinas e dos miomas, para quem deseja engravidar; medicações hormonais, tanto anticoncepcionais com estrogênio e progesterona quanto apenas com progesterona e só com progesterona, utilizadas em fases específicas do ciclo; ácido tranexâmico, que age nas enzimas ligadas a coagulação.

Sem esquecer do tratamento para as causas não ginecológicas, que devem ser pesquisadas com as ginecológicas para evitar atrasos no seguimento e resposta clínica.

Nem todo caso de SUA irá precisar de medicação, mas nenhum caso de SUA deve ser ignorado, pois sangramentos alterados podem trazer alterações clínicas importantes.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para: dralarissacassiano@uol.com.br.

Referências:

Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Sangramento uterino anormal. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO-Ginecologia, n. 28/ Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina).