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Dante Senra

Sintomas da esclerose múltipla podem ser diversos; conheça-os melhor

Esclerose múltipla fita laranja - iStock
Esclerose múltipla fita laranja Imagem: iStock

Colunista do UOL

17/08/2019 04h00

Fadiga intensa que costuma ser desproporcional ao esforço físico realizado e alterações de sensibilidade são queixas frequentes de quem tem essa doença. Estas são situações difíceis de compreender que ocorrem no início da doença chamada esclerose múltipla (EM), muitas vezes como primeira manifestação, que sem causa aparente pode se manifestar subitamente com sintomas de natureza variada.

É uma doença auto-imune, crônica e inflamatória, que afeta o sistema nervoso central principalmente de pessoas jovens, ao contrário da esclerose lateral amiotrófica, outra doença neurológica que geralmente se inicia em torno dos 60 anos de idade.

Por que a esclerose múltipla aparece?

Chamamos uma doença de autoimune quando o sistema imunológico do próprio organismo ou sistema de defesa não tem a capacidade de diferenciar as células do próprio corpo com e estranhas e as agride. É o caso da esclerose múltipla, onde essa agressão causada pelo sistema imunológico destrói a barreira protetora do neurônio, denominada bainha de mielina, removendo a capacidade de comunicação entre as células nervosas do cérebro e da medula espinhal.

É possível que exista uma predisposição genética para esta doença, mas fatores ambientais como a falta de exposição ao sol e infecções virais possam contribuir para o seu aparecimento. A falta do sol faz com que a vitamina D se mantenha em níveis muito baixos o que alteraria o sistema imune. Do mesmo modo, a infecção viral (principalmente pelo vírus Epstein-Barr, que é o causador de mononucleose infecciosa) também pode alterar a maneira de agir do sistema de defesa, fazendo com que ele passe a combater estruturas do sistema nervoso central.

Quem essa doença acomete?

Ao contrário do que se imagina, a esclerose múltipla atinge principalmente jovens, a maioria entre 20 e 40 anos, na proporção de três mulheres para cada homem.

No Brasil, estima-se que existam 40.000 casos da doença conforme a ultima atualização da MSIF (sigla inglesa para Federação Internacional de Esclerose Múltipla) e OMS (Organização Mundial da Saúde). Acredita-se que existam atualmente cerca de 2,5 milhões de pessoas com esclerose múltipla no mundo.

Quanto à predisposição, já foram identificados alguns genes que regulam o sistema imunológico e é sabido que filhos de pais com EM têm chance pouco maior do que a população geral de desenvolver a doença --de 2 a 3% apenas, mas pode chegar a 20% se ambos os pais têm EM. Apesar de não ser fatal, o paciente irá apresentar a doença por toda sua vida, mas é possível manter a qualidade por muitos anos.

Sintomas da esclerose múltipla

Os sintomas da esclerose múltipla costumam ser variados e comuns a outras doenças. Daí a importância do preparo e da atenção dos médicos de diversas especialidades para reconhecerem o problema. Por exemplo, as alterações visuais são muitas vezes a primeira manifestação e o oftalmologista deve estar atento e encaminhar o paciente ao neurologista.

Tamanha pode ser a dificuldade do diagnóstico, que a MSIF para chamar a atenção sobre essa doença criou o Dia Mundial de Conscientização da Esclerose Múltipla, tendo sido escolhido a última quarta-feira do mês de maio.

O objetivo é destacar para os sintomas chamados de "invisíveis" da esclerose múltipla bem como o seu impacto na qualidade de vida, integrando pessoas portadoras em todo o mundo.

Dentre os sintomas mais comuns estão:

  • Fadiga, relatada como intensa e desproporcional ao esforço físico, sobretudo em temperaturas mais altas;
  • Sensibilidade ao frio e ao calor: ambos ocorrem com bastante frequência na EM. Importante lembrar que outras doenças como a fibromialgia também aumentam a sensibilidade ao frio;
  • Alterações na fala, que se torna arrastada ou tremula
  • Disfagia, dificuldade para engolir;
  • Alterações no equilíbrio e instabilidade para caminhar;
  • Alterações cognitivas, principalmente da memória
  • Rigidez dos membros, principalmente inferiores com sensações de formigamento, queimação e sensibilidade (inclusive a chamada Nevralgia do Trigemio pode ter como causa a EM);
  • Transtornos visuais como visão dupla ou embaçada;
  • A doença também pode desencadear quadros de depressão, ansiedade e irritabilidade.

No entanto, essas manifestações só são consideradas sintomas se perdurarem por mais de 24 horas seguidas.

É possível continuar exercendo a atividade profissional quando surgem os sintomas?

Muitas vezes parar de trabalhar não é uma opção ou desejo das pessoas acometidas pela esclerose múltipla. Entretanto, indevidamente, o diagnóstico impacta na empregabilidade de quem têm a doença. Um estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em parceria com a associação AME (Amigos Múltiplos pela Esclerose) indica que a taxa de desemprego quase duplica durante o curso da doença. No mesmo estudo, evidenciou-se que apenas 58,9% dos indivíduos convivendo com a esclerose múltipla estavam empregadas no momento da entrevista. Em contrapartida, no ato do diagnóstico, o índice era de 79%.

Óbvio que alguns sintomas comuns da doença podem significar um grande obstáculo para executar as tarefas como deficiência visual, desequilíbrio, tremores, problemas de memória dentre outros. Todas estas restrições são importantes, mas não intransponíveis.

Pequenos intervalos no período de trabalho já podem ser suficientes para melhorar a fadiga, por exemplo, ou um horário mais flexível oferecido pelo empregador amenizam muito ou até resolvem o problema. Talvez, o maior obstáculo seja a falta de conhecimento desse empregador sobre a doença, bem como a má vontade em realizar eventuais ajustes no local de trabalho para permitir que o paciente continue trabalhando.

Embora seja pouco divulgado, esses pacientes gozam de proteção legal em caso de discriminação no emprego ou demissão ilegal. A adaptação do local de trabalho também é um direito desses pacientes.

Valorizemos cada momento como a vida deve ser, lembrando da frase vencedora do concurso da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM): "Há maratonas de 100 metros e quem passa a vida com Esclerose Múltipla sabe que são as pequenas vitórias que nos levam até à meta".