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Taise Spolti

Baratas e larvas são mais nutritivas do que você imagina

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Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

18/07/2021 04h00

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Depois da tão esperada Prova da Comida, no reality No Limite, novamente a discussão sobre o consumo de insetos e alimentos incomuns vieram à tona.

Após 20 anos se passarem da primeira vez que assistimos essa prova pela primeira vez, o ícone Olho de Cabra hoje voltou com tudo, mas em uma sociedade que procura estar mais aberta a discutir sobre alimentação e nutrição.

Creio que você aí de casa também, deve ter sentido a aflição que os próprios participantes passaram ao ter que enfrentar a prova. No entanto, alguns questionamento podem ter surgido, como: será que faz bem? É nutritivo? Serve pra quê?

Estamos mais abertos a discutir novas possibilidades na alimentação, sabemos da grande procura e dos benefícios que uma alimentação baseada em plantas está provocando na sociedade, por exemplo, e sabemos que novas possibilidades podem causar impactos gigantes ao meio ambiente, sendo assim temos que ficar de olho em tudo que pode ser benéfico tanto para o nosso organismo individualmente, sem esquecer do impacto que isso poderá trazer ao ambiente em que vivemos e prosperamos.

Aí é que entra a Entomofagia, ou seja, o consumo de insetos ou de produtos a base de insetos pelo homem, e o ramo de estudos e pesquisas com base nisso que está crescendo muito nas ultimas décadas, a Antropoentomofagia, afirmando o que muitas culturas e povos já sabiam: são nutritivos, são importantes na estrutura alimentar, podem ser saborosos e não possuem impacto negativo nos biomas, como no caso da produção de gado por exemplo.

Estima-se que para uma vaca ganhar 1 kg de peso (que reverterá em pouco menos de 1 kg de carne para venda e consumo), ela tenha que se alimentar de 8 kg de ração, esta ração vem muitas vezes de controle industrial, mão de obra cara, produção com aditivos químicos e toda uma cadeia direta e indireta de impacto ambiental. Financeiramente ela acaba se tornando cara, nutricionalmente muito positiva - oferecendo em média 23 g de proteína por porção de 100g de produto - porém muitas vezes uma fonte inalcançável de nutrientes para populações mais pobres.

Em contrapartida, espécies de gafanhoto e grilos, usados como insetos para alimentação humana, podem ser cultivados em biofábricas, com baixo impacto ambiental ou de forma artesanal, pois a disponibilidade deles na natureza é muito maior, sua vida é relativamente curta, precisam menos terras para reprodução e cultivo, e possuem uma grande e significativa importância para a vida humana, servindo de decompositores, recicladores de matéria orgânica e polinizadores.

Para comparar com os valores que mencionei anteriormente pelo consumo bovino, a conversão pelo inseto é muito mais vantajosa: para ganhar 1 g de peso, é necessário menos que 2 g de consumo de alimentos (para converter em kg, como na vaca, porém em valores muito menores, para 1 kg de ganho de peso de inseto, é basicamente menos que 2 kg de comida necessária, diferente da vaca que é mais que 8 kg). ]

Em valores nutricionais, o grilo, que é o mais comumente usado, oferece mais da metade do seu peso em porção em proteínas, ou seja, 100 g de grilo, seja farinha ou inteiro, oferece 53 g de proteína. Vale ressaltar que essa proteína é de alto valor biológico, ou melhor, de boa qualidade nutricional e oferta de aminoácidos que são essenciais a vida.

Se tratando de aminograma, todos os grupos de insetos superam alimentos tradicionais como a lentilha, ovos, carnes, peixes, soja, feijão e, claro, a carne bovina, com destaque para os grupos: Hemipteras (cigarras), Lepidópteras (borboletas e maripozas) e Ortópteros (grilos e gafanhotos), este que se compara e supera a aminograma do ovo, que até hoje é reconhecido como o alimento completo em aminoácidos.

Outra curiosidade sobre o consumo dos insetos é que 1 a cada 3 pessoas no mundo já consome ou consumiu sem saber, alimentos com ingredientes a base de insetos.

A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) já considera a utilização e implantação do consumo de insetos como de grande necessidade para garantir a melhora da qualidade nutricional em crianças subnutridas e, principalmente, em países que sofrem de desnutrição, além de que, a expectativa de crescimento populacional até 2050 é que ultrapassemos o marco de 10 bilhões de pessoas vivendo e consumindo alimentos em larga escala.

A produção terá que se adaptar a outras necessidades e velocidade de produção de fontes alimentares, a população, muito provavelmente e com o incentivo que estamos fazendo as novas gerações, não aceitarão grandes ataques ao meio ambiente, e esse movimento pela exigência de melhoras e compromissos, como no caso da emissão de carbono, será cada vez maior e mais potente na nossa sociedade.

Querendo ou não, as grandes indústrias terão que se adaptar, mas mantendo qualidade nutricional para atender a necessidade alimentar de toda essa população.

Para tentar imaginar sua alimentação com mais insetos, saiba que muitos snacks, proteínas em pós para substituir os mais conhecidos como whey protein (que tem potencial alergênico, e as proteínas de insetos não), hambúrgueres e muitos outros itens industrializados podem tomar conta das prateleiras dos mercados muito em breve, em muitos países, como já mencionei, o consumo já é algo cultivado na cultura há muito tempo, como nos casos listados a seguir:

  • Witchetty grub: larvas de mariposas geralmente fritas, são grandes e brancas, tipico na Austrália;
  • Farofa de içá: aqui do Brasil, feita com a barriga da formiga Tanajura;
  • Insetos fritos da tailândia (e outros países orientais)

Então, afinal, é bom, ou vai ser indicado, o consumo de insetos?

Bom, já sabemos que alguns grupos são sim excelentes para a alimentação humana, podem nos salvar de um colapso ambiental e populacional, indicado pelas maiores organizações de saúde do mundo, e que em níveis nutricionais são extremamente positivos.

O que ainda nos separa do consumo em maior escala é a segurança alimentar, isto é, a garantia dos bons protocolos de manejo, manipulação, treinamento e produção garantida pelas empresas, assessoradas pela vigilância sanitária e profissionais da saúde.

As boas práticas, neste caso, são os manejos, transporte, manipulação dos insetos, aplicabilidade em produtos e tecnologia para manter a segurança alimentar, sem riscos de intoxicação por agentes usados no cultivo, por exemplo.

Mas uma coisa é fato: eles logo logo estarão na mesa de muitos de nós, não somente como iguarias.

Fontes: The Food Insects Newsletter/ FAO/Revista Brasileira de Entomologia/Instituto Akatu