Dani Calabresa após Melhem ser denunciado ao TJ: 'Justiça está sendo feita'

Após a denúncia oferecida pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) por assédio sexual contra o ex-diretor da TV Globo Marcius Melhem, a atriz Dani Calabresa afirmou acreditar que a "justiça está sendo feita".

"A denúncia do MP é uma prova de que nossa voz foi ouvida e levada a sério. O assédio foi reconhecido e o assediador vai responder pelo que fez. É um alento depois de tudo o que passamos, seja com o assédio, seja com a campanha de ataques e mentiras contra as vítimas", afirmou Dani à coluna.

Sobre o arquivamento de seu caso, ela lamentou a prescrição, mas disse que denunciou pensando no problema do assédio no ambiente de trabalho. "É uma pena que o meu e outros casos não possam ser julgados porque prescreveram, mas nunca foi sobre mim. É sobre a coragem de muitas mulheres de contar o que passaram e lutar por um ambiente de trabalho sem assédio", completou.

"Exposição da genitália"

A atriz Renata Ricci também lamentou o prazo curto de quatro anos para prescrição dos crimes. "Ele (Melhem) não se tornou réu nos outros oito casos citados pelo MP e, nas palavras do próprio MP, não por falta de provas. Foi por causa da prescrição", afirmou Ricci. Ela disse que seguirá apoiando as vítimas que embasaram a denúncia. "Estamos juntas nessa. Continuamos apoiando a Carol, a Georgiana e a M.T [terceira vítima, que pediu para não ser identificada] com a esperança de que isso abra a discussão e crie um novo marco normativo em relação à prescrição nos crimes sexuais.

Quatro anos é um período muito curto e há uma grande demora em reconhecer esses crimes

Renata Ricci

Melhem foi denunciado na sexta-feira(4) por assédio a duas atrizes e uma editora de vídeo. Na terça-feira (7), a juíza Juliana Benevides Barros Araújo, da 20ª Vara Criminal do TJ-RJ, decidiu abrir um processo criminal e tornou o ex-diretor réu.

"Após estabelecer estrategicamente relação de proximidade e falsa amizade/intimidade e da verbalização de sua lascívia, o denunciado também mantinha aproximação física inadequada com abraços e carinhos excessivos disfarçados de brincadeiras que evoluíam igualmente, para apalpações, tentativas de beijos forçados, propostas de sexo, tapinhas nas nádegas, apertões nos seios e até mesmo, em algumas situações, exposição de sua genitália, orgulhoso da situação de ereção", informa a denúncia.

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Além disso, no documento, consta que Melhem "demostrava não respeitar as mulheres que lhe eram subordinadas nem o próprio ambiente de trabalho e utilizava-se de forma contumaz da qualidade de superior hierárquico para obter vantagem ou favorecimento sexual".

Segundo a promotoria, o ex-diretor realizava "abordagem sexual em meio a conversas acerca do roteiro, do elenco, do papel a ser atribuído à personagem das vítimas, de forma que restava a mensagem velada, porém clara, de que o destino profissional das vítimas estava em suas mãos e que estava deveria retribuir os "cuidados e favores" do chefe".

Melhem nega as acusações e disse, por nota, que a denúncia é "absurda" e irá contestá-la no momento oportuno.

Uma das vítimas apontadas na denúncia é a atriz Carol Portes. Em entrevista exclusiva ao UOL, em abril, ela contou que foi assediada sexualmente por Melhem, então idealizador, ator e redator final do programa "Tá no Ar", exibido pela TV Globo e onde ela trabalhava na ocasião. A atriz também prestou depoimento na Deam (Delegacia da Mulher), do centro do Rio, em abril.

Além de Carol Portes, a denúncia é baseada nos depoimentos da atriz Georgiana Góes e de outra funcionária, M.T.C.L. A pedido da vítima, a identidade dela será preservada.

O MP-RJ (Ministério Público do Rio) informou que a investigação sobre crime de importunação sexual cometido contra uma das vítimas foi arquivada em razão da prescrição dos fatos. Já em relação a outras cinco vítimas de assédio sexual, também foi proposto o arquivamento em razão da prescrição.

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Nota da defesa:
"A escolha ilegal de uma promotora que não teve nenhum contato com as investigações, em evidente violação ao princípio do promotor natural, fato gravíssimo já levado à apreciação do Supremo Tribunal Federal, resultou, como se esperava, em uma denúncia confusa e inteiramente alheia aos fatos e às provas. Ignorando totalmente os elementos de informação do Inquérito Policial, a denúncia acusa Marcius Melhem do crime de assédio sexual contra três das oito supostas vítimas. No momento oportuno, esta absurda acusação será veementemente contestada pela defesa do ex-diretor, que segue confiante na Justiça, esperando que a magistrada não dê prosseguimento ao processo, como lhe faculta a lei", informam Ana Carolina Piovesana, José Luis Oliveira Lima, Letícia Lins e Silva e Técio Lins e Silva.

Nota dos advogados das vítimas:
"A acusação do Ministério Público no caso Marcius Melhem, prontamente aceita pela Justiça, demonstra que a investigação confirmou os fatos corajosamente denunciados pelas vítimas. Em outras palavras: para o Ministério Público, Marcius Melhem cometeu reiteradamente assédio sexual. Mais que isso, a concretização da denúncia mostra que a campanha de intimidação levantada pelo assediador contra as atrizes e profissionais envolvidos nas apurações não surtiu efeito, tendo os órgãos de persecução penal cumprido seu papel. A defesa ainda não teve acesso ao conteúdo da denúncia e, por esse motivo, não pode comentar dados específicos neste momento. Confiamos no Judiciário brasileiro para que uma resposta justa e exemplar para os episódios denunciados venha com celeridade, à altura do que um caso emblemático e grave como esse exige para as vítimas e para a sociedade", informam Antônio Carlos de Almeida Castro, Mayra Cotta, Marcelo Turbay e Davi Tangerino.

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