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Antes de sugar clitóris, vibradores já funcionaram a vapor e manivela

Imagem: Arte UOL

Luciane Angelo

Colaboração para Universa, em São Paulo

04/07/2023 00h00

Com ar compenetrado, homens de terno e gravata zelavam pela segurança das peças do museu —no caso, uma porção de vibradores e imagens de objetos fálicos. Embora sérios, pareciam ligeiramente embaraçados diante dos comentários entusiasmados —e picantes— das visitantes do Museu do Vibrador, um dos espaços mais disputados da última edição do Universa Talks, ocorrido em 24 de junho em São Paulo.

A despeito do constrangimento que os vibradores ainda possam vir a causar em almas mais pudicas, o fato é que o uso do acessório está cada vez mais disseminado entre os que desejam incrementar a masturbação e apimentar a relação a dois (ou a três, a quatro...). A popularidade dos brinquedinhos eróticos faz com que a indústria invista forte em pesquisas para aprimorar os produtos.

Não à toa, os vibradores estão cada vez tecnológicos e eficientes —bem melhores do que quando surgiram, como mostra a linha do tempo a seguir:

3000 a 1000 a.C. O grande pênis de pedra

Arqueólogos descobriram por acidente, em 2019, uma grande pedra em formato de pênis durante escavações em um local destinado à construção industrial, na cidade de Rollsbo, na Suécia. A escultura, que tem aproximadamente 50 centímetros, pode ter sido utilizada para rituais de fertilidade na Idade do Bronze, entre 3000 a.C e 1000 a.C.

Sec. 2 d.C. O dildo de madeira

Em 1992, um pedaço de madeira de 16 centímetros em formato de pênis foi encontrado no forte de Vindolanda, na Inglaterra. Pesquisadores acreditam que a peça seja do século 2 d.C.

Há três teorias para o uso do artefato. Com 16 centímetros de comprimento, ele poderia ter sido usado como um pilão para moer ou triturar ingredientes.

Outra hipótese é que a escultura fosse um adorno colocado do lado de fora de uma habitação, sendo possivelmente acariciado por transeuntes para garantir boa sorte.

A terceira hipótese é a mais forte: de que seja um dildo altamente preservado. O falo pode não ter sido usado para penetração, já que o desgaste em seu exterior é mais coerente com a hipótese de estímulos clitorianos: as extremidades são mais gastas do que o meio.

1869. "The Manipulator", o primeiro vibrador a vapor

O primeiro vibrador, chamado "The Manipulator", era a vapor e foi criado por George Taylor, em 1869. Especula-se que tenha sido criado para aliviar o esforço físico dos médicos. Para levar as pacientes diagnosticadas com histeria a um estado de relaxamento total, chamado de "paroxismo"—ou orgasmo—, eles faziam uso dos dedos. O movimento constante estaria levando os profissionais a desenvolver lesões nas mãos, braços e ombros.

Outra hipótese é a de que "The Manipulator" tenha sido criado para tratar dores de cabeça, irritabilidade, indigestão e constipação, inclusive em homens.

Diversos modelos de vibradores foram expostos no Museu do Vibrador Imagem: Mariana Pekin

1883 - O primeiro vibrador elétrico

A versão elétrica do aparelho foi criada por um médico inglês, Joseph Mortimer Granville, em 1883.

1892 - Dilatador anal

Aquilo que, no futuro, seria conhecido como plug anal foi originalmente criado para tratar problemas como constipação. Os dilatadores anais eram anunciados em jornais médicos e revistas populares de saúde.

1902 - A manivela do prazer

Patenteado pelo medico norte-americano Gerald Macaura, o equipamento movido a manivela podia produzir até 5 mil vibrações por minuto. Vendido pela Sears, uma das maiores redes de departamento dos Estados Unidos, o dispositivo prometia ajudar as mulheres a soltar as articulações e fazer aumentar a circulação do sangue.

1915 - Vibrador é uma "uma desilusão e uma cilada"

Em 1915, a Associação Médica Americana classificou vibradores de "uma desilusão e uma cilada". Para escapar do jugo da associação, fabricantes fizeram um reposicionamento de marca: passaram a anunciar os produtos como eletrodomésticos para homens e mulheres de todas as idades. A empresa americana Hamilton Beach patenteou o primeiro vibrador elétrico e ele passou a ser vendido como eletrodoméstico, com a finalidade de massagear os músculos.

1917 - Mais vibradores do que torradeiras

No ano da Revolução Russa, os americanos tinham mais vibradores do que torradeiras em casa. Nessa época, a masturbação era vista como vergonhosa e artigos tidos como "obscenos" eram ilegais nos Estados Unidos. Por isso, os vibradores não podiam ser anunciados como produtos sexuais. Assim, os fabricantes passaram a usar linguagem e imagens com eufemismos para sugerir o uso sexual de seus produtos.

1954 - Alfred kinsey e a masturbação feminina

Estudo produzido pelo biólogo norte-americano Alfred Kinsey revelou que 62% das mulheres avaliadas se masturbavam. Na mesma época, a agência "Food & Drug Administration" (FDA) passou a reprimir a utilização de vibradores pela promessa de cura para diversos males. Ao mesmo tempo, vibradores elétricos como o "The Polar Cub" passaram a ser anunciados como produto de Beleza.

1956 - Vibrador em massa

A loja de departamento Sears começou a produzir sua própria linha de vibradores.

1962 - A primeira sex shop

Na esteira da chamada Revolução Sexual, a alemã Beate Uhse inaugurou a primeira sex shop do mundo.

Em Nova York, no final dos anos 1960, a educadora sexual e artista Betty Dodson iniciou oficinas de masturbação só para mulheres, com o uso de vibradores. Utilizava os modelos "Oster" e "Panasonic Panabrator". A partir de meados dos anos 1970, Dodson começou a recomendar o "Hitachi Magic Wand", ajudando a torná-lo um dos vibradores mais populares de todos os tempos.

1970 - Bullet: meu primeiro vibrador

As marcas começam a apostar nos mini-vibradores, discretos e eficientes, conhecidos como bullets.

1973: "Lei do Dispositivo Obsceno" - Texas

A "Lei do Dispositivo Obsceno", introduzida no Texas em 1973, proibia qualquer dispositivo projetado ou comercializado principalmente para a estimulação de órgãos genitais humanos. Para driblar a lei, as empresas comercializavam os vibradores como massageadores pessoais.

Anos 1980 a 1990: O famoso rabbit

No início dos anos 1980, a empresa de brinquedos sexuais Vibratex passou a comercializar vibradores em cores brilhantes e em formato de animais para driblar as leis de obscenidade do Japão, onde os produtos eram fabricados. O vibrador em formato de coelho —o rabbit— ganhou fama ao aparecer no seriado "Sex and the City", em 1998. O produto continua popular até hoje, em versões mais modernas, com mais de 30 modos de vibração.

Sarah Jessica Parker em cena com o rabbit, em "Sex and the City" Imagem: Reprodução

2014 - O sugador de clitóris

A marca Womanizer lança o sugador de citóris: um produto instagramável, seguro e fácil de limpar, high-tech, bom para a saúde e ecológico. Já são mais de 4 milhões de exemplares vendidos no mundo.

2018 - Vibrador para casais

A empresa We-vibe revolucionou o prazer de casais com o Sync, uma espécie de clipe colocado no canal vaginal que estimula a um só tempo o ponto G e o clitóris.

O aparelho tem controle e manuseio à distância, via aplicativo. Os casais podem se divertir mesmo não estando fisicamente juntos.

2023: Mais fácil de comprar e mais popular do que nunca

As inovações tecnológicas são inúmeras: de vibradores recarregáveis a modelos de silicone que oferecem uma variedade de velocidades, ritmos e movimentos. Há vibradores que deixam as mãos livres, opções para casais, para a região anal e aparelhos que estimulam várias partes do corpo ao mesmo tempo. Os vibradores inteligentes podem ser programados, controlados remotamente e sincronizados com sua música favorita.

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