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Como Selena Gomez ajudou ONG brasileira que combate violência contra mulher

Foto: Getty Images
Imagem: Foto: Getty Images

Franceli Stefani

Colaboração para Universa, de Porto Alegre

23/09/2022 15h12

A estudante de teatro, Julia Fernandes, 18 anos, foi até o Twitter para disseminar a notícia de que a pop star Selena Gomez havia confirmado a doação para a organização Movimento de Mulheres em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A instituição foi fundada pela mãe da jovem, a assistente social Marisa Chaves de Souza, mestre em Serviço Social e gestora de projetos do grupo.

A garota contou que o que a motivou ir até a rede social divulgar a notícia "foi verdadeiramente algo muito particular". "A Selena Gomez foi uma artista muito importante na minha infância, quando a minha mãe chegou até mim para contar a notícia, fiquei muito empolgada de ver até onde a ONG chegou.

"A organização já existe há 33 anos, mas chegar a níveis internacionais vivendo no mundo em que estamos vivendo (tempos de muita tecnologia) é de suma importância", explicou.

Júlia sempre acompanhou os esforços da mãe de perto. Quando viu que a postagem tinha quase 40 mil curtidas, nem acreditou. "Pensar que a notícia viralizou é muito emocionante. Ver causas tão importantes sendo apoiadas por uma pessoa do tamanho dela, é muito significativo, principalmente no ano em que notícias de feminicídio aumentam de forma avassaladora".

Ela relembrou que nasceu dentro do movimento. "Minha mãe trabalhou até a semana em que nasci, então pra mim sempre foi algo muito natural estar envolvida nos projetos e engajada nas questões da ONG". Toda essa vivência contribuiu para sua formação de senso crítico e, desde nova, a ter "uma visão mais política sobre a vida".

O apoio será destinado pela marca Rare Beauty, em parceria com a BrazilFoundation, através do Rare Impact Fund, entidade sem fins lucrativos associada à marca da artista. Duas entidades brasileiras foram beneficiadas, a outra é o Instituto Cactus, que atua no debate e no cuidado com a prevenção de doenças e promoção da saúde mental no Brasil.

De acordo com Marisa, serão R$ 120 mil para um projeto da ONG já existente há 16 anos, o Neaca (Núcleo Especial de Atendimento à Criança e ao Adolescente), que presta atendimento a crianças, jovens e adolescentes vítimas de violência doméstica e/ou sexual e a seus familiares.

Marisa Chaves, gestora de projetos da ONG Movimento de Mulheres em São Gonçalo - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Marisa Chaves, gestora de projetos da ONG Movimento de Mulheres em São Gonçalo
Imagem: Acervo pessoal

São ainda realizadas oficinas, palestras, seminários e cursos de capacitação destinados aos profissionais da rede de atendimento. A mestre em Serviço Social contou que toda vez que uma mãe procura auxílio, os profissionais notam que ela também foi vítima de violência. "Então, fazemos o acolhimento, atendimento psicossocial, realizamos roda de conversa, e damos todo suporte individual a essas mães".

Feliz com a notícia, conta que o montante será suficiente para fortalecer as ações por oito meses. Serão contratados psicólogo, psicopedagogo e um educador social para ações daquelas pessoas que já são atendidas e aquelas que chegam diariamente. "São 25 casos novos ao mês, especialmente de violência comprovada, sobretudo a sexual. Os casos aumentaram vertiginosamente, o que nos deixa preocupadas com a consequência das crianças e dessas famílias".

O projeto atende também os municípios de Itaboraí e Niterói, onde funcionam filiais. A doação foi uma excelente notícia, principalmente por Selena Gomez ser uma artista de relevância. "Fazemos um trabalho de formiguinha, muitas vezes inviabilizado, em defesa dos direitos humanos das mulheres mais periféricas.

Histórias de acolhimento

A associação sem fins lucrativos, fundada em 1989, em São Gonçalo, é classificada como dormitório, já que muitas mulheres saem de lá para trabalhar. Majoritariamente feminina, a população é de 52% formada por mulheres. "A ausência de políticas públicas para elas, que precisavam de atendimentos por viverem violência doméstica, relacionamentos abusivos e relações tóxicas, motivou o nascimento do nosso grupo".

Uma das pessoas que recebeu acolhimento foi a comunicadora Aline Mendes, 31 anos, moradora da cidade sede da ONG. Foi acolhida pela instituição em 2018, quando foi vítima de um relacionamento abusivo e buscou acompanhamento psicológico e assistência na instituição.

De acordo com ela, o Movimento de Mulheres mudou sua vida. "Fico muito feliz que a nossa instituição esteja ganhando visibilidade. O trabalho que fazemos é muito importante porque é praticamente o único equipamento na cidade que faz esse acompanhamento". Hoje, Aline conta que vive uma relação saudável. É casada, mãe de três meninas, e presta serviços de Comunicação e Designer Gráfico para a organização.

"Trabalho como voluntária depois de ter vivido uma das piores experiências da minha vida com aquele relacionamento abusivo", destacou. "Posso dar um futuro melhor para as minhas filhas graças ao trabalho da organização."

Entidade certificada pelo Ministério da Cidadania

A organização oferta todos os atendimentos gratuitos e possui Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social (Cebas), pelo Ministério da Cidadania. "É urgente erradicarmos a violência contra a mulher porque só assim podemos pensar em erradicar a desigualdade social".

Instaladas no Centro de São Gonçalo, atendendo em horário alternativo, justamente pela característica da cidade - de ser uma "cidade dormitório" - se tornaram uma espécie de pronto-socorro das vítimas. "Embora tenhamos mais de 60 funcionários, não damos conta. Esperamos que a divulgação do nosso nome atraia mais apoiadores e possibilidades de ampliação".

Hoje, o Neaca tem parceria com a prefeitura, que possibilita o pagamento de quatro colaboradores e que termina em 30 de outubro. A entidade aceita doações, que podem ser feitas através do chave PIX do Movimento de Mulheres de São Gonçalo, que é o CNPJ - 3925909800031.