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OPINIÃO

Comparada à personagem bíblica, Michelle luta pelo voto feminino. Sozinha

Bolsonaro beija Michelle em discurso  - DU ANDRADE/Fatopress
Bolsonaro beija Michelle em discurso Imagem: DU ANDRADE/Fatopress

De Universa, em Novo Hamburgo (RS)

09/09/2022 10h38

Esta é a versão online da edição de 09/09 da newsletter de Universa, que repercute um evento da campanha à reeleição do presidente direcionado às mulheres de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Quer receber a próxima edição na semana que vem no seu email? Clique aqui e se cadastre. Assinantes UOL ainda podem ter dez newsletters exclusivas toda semana.

"Vocês conhecem a história da juíza e do capitão? Vocês conhecem a história de Barac e Débora? Conhecem, não é mesmo?", perguntou a cantora gospel Fernanda Brum, durante o evento Mulheres pela Vida e pela Família, que ocorreu em Novo Hamburgo, Porto Alegre, no último sábado (3), e reuniu o candidato à reeleição para presidente da República, Jair Bolsonaro, e sua esposa, Michelle. (O evento faz parte das inúmeras tentativas da campanha de conquistar o eleitorado feminino.)

Na plateia, não houve consenso, conforme testemunhou a repórter Franceli Stefani. Mas a cantora se referia a uma passagem bíblica em que uma mulher, de nome Débora, que era juíza, guerreira (literalmente) e dona de casa, se ergueu e, junto do líder Barac (que não era seu marido), libertou o povo de Israel dos cananeus. Aí ela cita como exemplo a primeira-dama Michelle: "luta ao lado do capitão pelo povo. E conclama outras mulheres a fazer o mesmo."

Universa pediu ajuda ao professor Sandro da Rosa, doutor em teologia pelas Faculdades EST de São Leopoldo e PhD pela Université Laval do Canadá para entender o significado dessa citação. Ele explicou que, nessa passagem bíblica, o que chama a atenção é que quem liderou e estabeleceu a estratégia para vencer o exército de Canaã foi mesmo a Débora, uma mulher. Considerada juíza do povo de Israel, convocada diretamente por Deus, era a ela a quem o povo recorria quando buscava aconselhamento ou um modelo de liderança.

Para o professor, os textos bíblicos permitem que suas passagens sejam contextualizadas e ressignificadas. É como se a cantora Fernanda quisesse dizer: "eis aqui uma legião de mulheres que, a exemplo de Débora, sejam elas juízas ou donas de casa, são chamadas por Deus a se levantar a lutar pelo seu povo". Ou, ainda: "eis aqui uma mulher, Michelle, que a exemplo de Débora, a juíza, foi convocada por Deus e se levantou pelo seu povo."

A cantora Gospel Fernanda Brum compara Michelle Bolsonaro a personagem bíblico em evento da campanha pela reeleição - Franceli Stefani - Franceli Stefani
A cantora Gospel Fernanda Brum compara Michelle Bolsonaro a personagem bíblico em evento da campanha pela reeleição
Imagem: Franceli Stefani

Michelle, aparentemente, tornou-se o único recurso de Bolsonaro para quebrar a resistência do eleitorado feminino.

Nos eventos religiosos, diz que o marido é um enviado de Deus e afirma, sem provas, que a esquerda vai fechar igrejas; nas redes, assume a defesa de causas dignas da outra Michelle, a Obama: voluntariado, maternidade atípica de crianças portadoras de doenças raras e o enfrentamento ao abuso sexual de crianças e adolescentes; em eventos com empresários, assume outro tom: num almoço em um evento da Caixa em 9 de agosto, por exemplo, a primeira-dama falou sobre iniciativas de combate à violência contra a mulher. (Lembrando que o ex-presidente Pedro Guimarães, próximo de seu marido, foi demitido por denúncias de assédio).

Bolsonaro, de seu lado, age (mesmo que involuntariamente) para destruir os esforços de Michelle. Ao contrário da Débora bíblica, que contava com Barac, a primeira-dama parece assumir sozinha a guerra pelas eleitoras mulheres.

O candidato não consegue se conter e, sempre que provocado, ataca mulheres, especialmente jornalistas. No 7 de setembro, em discurso desrespeitoso e agressivo, como descreveu a colunista Madeleine Lackso, o candidato do PL à reeleição puxou o coro de "imbrochável" após tascar um beijão em Michelle e compará-la a outras primeiras-damas.

No seu instagram, Michele postou um vídeo que reúne os melhores momentos do sete de setembro. O beijo de Bolsonaro não está entre eles.