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Kalil diz que mulher tinha 'irritabilidade'; polícia faz perícia em ambos

Débora Miranda e Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

15/03/2022 04h00

O ginecologista Renato Kalil afirmou à polícia que a mulher, Ilana Kalil, encontrada morta na madrugada de segunda-feira (14) na residência do casal, localizada na bairro Jardim Guedala, na região do Morumbi, em São Paulo, tinha "irritabilidade frequente" e que contava com o acompanhamento regular de um psiquiatra.

A informação consta no boletim de ocorrência, registrado na 89ª DP de São Paulo, a que Universa teve acesso. O documento atesta que a morte foi causada por um disparo de arma de fogo e foi registrada na Polícia Civil como suicídio consumado.

De acordo com o BO, foi requisitado exame residuográfico em Ilana e também em Kalil, a fim de detectar vestígios que podem indicar uso de arma de fogo.

A polícia ainda pediu que um médico legista comparecesse à casa para "retirar qualquer dúvida quando do disparo" e também para avaliação da "possibilidade de constatação de manuseio da arma por outra pessoa". Foi pedido exame toxicológico da vítima.

Irritada por causa do Instagram

De acordo com a versão de Kalil à polícia, Ilana tomava medicamentos controlados. Ele afirmou também que os problemas passaram a ser mais constantes nos últimos dois anos e que eles haviam discutido na noite de domingo (13).

O médico contou que, na madrugada de segunda, Ilana estaria irritada por causa de seu Instagram. O último post dela, nos Stories, dizia: "Fui censurada de novo. E lá vai... Quem viu, viu. Quem não viu, não vai ver mais. E viva a ditadura". No boletim de ocorrência, há referência ao episódio de forma genérica: "Ilana estava revoltada por ter tido que apagar o seu Instagram por questões outras que o casal vinha enfrentando".

Os dois teriam se deitado por volta da uma da manhã. Kalil relatou à polícia que a mulher não teria conseguido dormir e, depois de uns 40 minutos, foi para a sala, no andar inferior da casa.

Ainda de acordo com a versão apresentada pelo médico, por volta de 3h40 da madrugada de segunda-feira, ele teria ouvido o tiro. A mulher teria enviado mensagens a ele se despedindo. Ele afirma que a encontrou na sala e que na mesa havia uma carta de despedida e uma garrafa de bebida. Segundo o ginecologista, ela já estava morta.

Kalil diz que acionou os seguranças da rua onde vive que, por sua vez, chamaram socorro e a polícia. Segundo sua versão, a arma pertencia a seu pai, estava escondida e em situação regular. Ele afirmou também que a mulher não sabia manusear armas.

Os policiais ainda vão analisar o laudo do IML (Instituto Médico Legal) e da perícia no local para confirmar o suicídio ou abrir outra linha de investigação.

Ilana, 40 anos, era formada em nutrição, mas trabalhava como instrumentadora cirúrgica de Renato. Eles tinham duas filhas.

O Ministério Público do estado de São Paulo designou o promotor do júri Fernando Bolque para acompanhar as investigações da morte, segundo informações da coluna Mônica Bergamo, da "Folha de S.Paulo".

Acusações de violência obstétrica

Ilana Kalil era nutricionista de formação, além de instrumentadora cirúrgica. Ela deixa duas filhas, ambas frutos de seu relacionamento de cerca de 15 anos com Renato Kalil.

Recentemente, ela saiu em defesa do marido nas redes sociais depois que ele foi acusado de violência obstétrica no parto da influenciadora digital Shantal Verdelho.

Em dezembro de 2021, Shantal compartilhou as filmagens do parto de sua segunda filha. No vídeo, Renato aparece ofendendo a paciente, chamando-a de "viadinha", realizando a manobra de Kristeller —desaconselhada pela OMS (Organização Mundial da Saúde)— e tentando convencê-la a tomar uma medicação que acelera o trabalho de parto, mas é contraindicada para mulheres que já realizaram cesárea anteriormente.

A influenciadora registrou um boletim de ocorrência contra o médico, o que permitiu que a Justiça abrisse um inquérito para investigar a atitude do ginecologista. Um mês depois, pelo menos outras três mulheres também foram à Justiça denunciar Kalil por violência obstétrica, assédio moral e abuso sexual.

Em janeiro deste ano, Shantal comentou sobre o assunto com Universa e afirmou que sua intenção era protocolar um projeto de lei que criminalizasse a violência obstétrica —o termo, que se refere a maus tratos antes, durante e depois do parto, não consta no Código Penal.

Na ocasião das acusações, por meio de seu advogado, o médico divulgou uma nota afirmando que "não praticou violência obstétrica" e que "a edição dos vídeos e das falas [dele durante o parto dela] induzem a erro de interpretação do que verdadeiramente ocorreu".

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