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Enfermeira acusa Renato Kalil de assédio e abuso sexual, diz advogado

O obstetra Renato Kalil, acusado de violência obstétrica contra a influencer Shantal Verdelho - Reprodução/Todo Seu no YouTube
O obstetra Renato Kalil, acusado de violência obstétrica contra a influencer Shantal Verdelho Imagem: Reprodução/Todo Seu no YouTube

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

29/01/2022 15h59

Além de responder pela acusação de violência obstétrica contra a influenciadora Shantal Verdelho, o médico Renato Kalil terá que lidar, ainda, com acusações de assédio moral e abuso sexual. De acordo com o advogado Sergei Cobra Arbex, que representa Shantal, uma nova testemunha ouvida na 27ª DP, em São Paulo, narrou outros casos de violência obstétrica contra pacientes, além de episódios de assédio moral e abuso sexual envolvendo pacientes e funcionárias. O ginecologista nega todas as acusações.

A testemunha, segundo o advogado, é uma enfermeira que trabalhou durante alguns anos com o médico e que também afirma ter sido vítima de abuso sexual.

Ela teria relatado que, por mais de uma vez teria sido apalpada nos seios e nas nádegas por Kalil, sem consentimento, e que teria sido chamada em seu consultório e recebida pelo médico completamente nu. Ele teria insistido para ter relações sexuais com ela, que sempre recusou.

Além disso, a mulher contou que o médico tinha o hábito de xingar pacientes durante o parto —como aparece fazendo com Shantal, em vídeo gravado pelo marido dela— e que mentia para as pacientes na tentativa de acelerar os nascimentos, dizendo que não poderiam ter partos normais e que teriam que fazer cesáreas, especialmente quando ele tinha viagem ou outro compromisso programado.

Segundo a enfermeira, ainda de acordo com informações obtidas por Universa, o médico mantinha relações sexuais com pacientes durante as consultas e pedia a ela que vigiasse a porta, para garantir que ninguém entrasse. Nesses episódios, a testemunha não soube informar se isso acontecia com o consentimento delas.

Até agora, 15 pessoas foram à delegacia prestar depoimentos sobre o caso.

Renato Kalil nega as alegações de Shantal e afirma nunca ter praticado violência obstétrica. O advogado do médico, Celso Vilardi, divulgou hoje uma nota desmentindo também as acusações da nova testemunha.

"O médico Renato Kalil, ginecologista e obstetra, em seus 30 anos de profissão, jamais recebeu nenhum tipo de reclamação no CRM [Conselho Regional de Medicina] ou em qualquer hospital que tenha atuado. Ele repudia e nega veementemente relatos mentirosos que aludem a atos com conotação sexual. O médico enfatiza que, como sabem suas pacientes, os atendimentos ginecológicos e obstétricos, em consultório, clínica ou hospital, são sempre acompanhados por uma equipe de enfermagem. Dr. Renato Kalil segue à disposição das autoridades e colaborará com todas as investigações para demonstrar sua inocência."

Entenda o caso

Em dezembro, áudios da influenciadora Shantal Verdelho relatando fatos ocorridos no parto de sua segunda filha, em setembro, tornaram-se públicos. Em um grupo de WhatsApp, ela contou que tinha sido xingada por Kalil enquanto tentava dar à luz e que ele teria empurrado sua barriga com força para apressar o nascimento —a prática, conhecida como manobra de Kristeller, é contraindicada pelo Ministério da Saúde e desaconselhada pela Organização Mundial da Saúde.

Após o vazamento dos áudios, Shantal denunciou o médico na 27ª DP e agora estuda a possibilidade de protocolar um projeto de lei que criminalize a violência obstétrica, em conjunto com seu advogado. Hoje, violência obstétrica não é crime e, se for condenado, Kalil responderá por crimes relacionados, como lesão corporal e violência psicológica.

Na última semana, em entrevista a Universa, ela contou que eles aguardam a conclusão do inquérito para formalizar a proposta e apresentá-la a parlamentares.

"Não quero que outras mulheres passem pelo que eu passei. Por isso, agora, vou até o fim dessa história."

"Quanto mais denúncias forem feitas por violência obstétrica, principalmente neste momento, mais rápido faremos com que ela seja criminalizada. O Estado precisa ver que é muito sofrido para a mulher passar por isso, e ninguém vai ver se a gente não falar", disse a influenciadora.