Topo

CEO do Grupo Voto diz que evento no DF era para 'falar com homens do poder'

Mulheres participaram de encontro com Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (10) - Divulgação
Mulheres participaram de encontro com Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (10) Imagem: Divulgação

Franceli Stefani

Colaboração para Universa, de Porto Alegre (RS)

12/03/2022 14h38Atualizada em 12/03/2022 16h38

Um grupo de lideranças femininas se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro (PL) na manhã desta quinta-feira (10) em Brasília. Esse foi o momento mais esperado do Ciclo Brasil de Ideias - Mulher, que reúne, segundo o anunciado, algumas das "mais importantes executivas do país" para romper ciclos de poder masculino.

A série de debates iniciada na semana do Dia Internacional da Mulher causou polêmica por ser voltada para o público feminino, mas não ter nenhuma mulher entre os convidados. No card onde era anunciado o evento, via-se cinco homens, entre eles, o ministro da Economia Paulo Guedes e o presidente da Câmara Arthur Lira.

A empresária Karim Miskulin, CEO do Grupo Voto, plataforma que se define como "o principal hub de interlocução entre o alto empresariado e os mais elevados escalões da política brasileira", diz que a ideia era justamente "levar mulheres para falar com os homens que estão no poder". "A ideia do card foi mal interpretada. Ele foi criado para mostrar a força que movimentamos para que essas mulheres fossem ouvidas. Qual grupo consegue, em 24 horas, ser escutado de forma exclusiva por ministros, pelo presidente da república? Isso é muito difícil".

Por outro lado, Karim admite que deveria ter divulgado o evento de outra forma. "Poderíamos ter colocado uma foto minha, que participo como painelista, dos membros da direção ou de uma das 100 funcionárias que trabalham na empresa. Todas nós fazemos parte do processo, somos as protagonistas. Mas não nos atentamos a isso."

Segundo a empresária, desde o início o intuito do projeto era dar voz ao público feminino. "As mulheres têm menos oportunidades de estarem aqui, têm menos acesso aos núcleos de influenciadores. Buscamos provocar e fazer com que esses líderes escutem as nossas demandas".

"A política ainda é muito masculina"

Mulheres em encontro com Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (10) - Divulgação - Divulgação
Mulheres em encontro com Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (10)
Imagem: Divulgação

A CEO do Grupo Voto diz que a conversa de quase três horas com o presidente Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu. "É uma vitória para as mulheres. Pedimos para que pudéssemos ter mais acesso à presidência e ele se comprometeu a cada dois meses, ter uma manhã inteira na agenda para ouvir pautas das nossas cidades", frisou.

Empresárias, lideranças de entidades e empreendedoras de diversos estados do país —entre eles Rio Grande do Sul, Ceará e Roraima—, estão em Brasília. O encontro não foi transmitido por nenhuma rede social.

A polêmica

No início da semana, o Grupo Voto publicou em seu perfil no Instagram o anúncio do Ciclo Brasil de Ideias - Mulher, em que apareciam apenas participantes homens, como o presidente Jair Bolsonaro e o vice-governador de São Paulo Rodrigo Garcia, fato que gerou críticas da sociedade, tanto que muitos comentários da postagem foram apagados e, posteriormente, limitados. O questionamento era o porquê uma atividade voltada às mulheres divulgava apenas o protagonismo masculino, já que muitas mulheres da política não foram sequer convidadas. Cenário foi tido como "amostra de submissão política e de interesses eleitoreiros".

Pelo Brasil, vários políticos criticaram a atividade. O vereador paulista Toninho Vespoli (PSOL) disse que o evento é "misógino" e "machista". As deputadas Tabata Amaral (PSB-SP) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP) criticaram a programação e a imagem divulgada para o evento no Twitter. Tabata usou a imagem de um palhaço na publicação.

Post da Tabata Amaral - Reprodução Twitter - Reprodução Twitter
Post da Tabata Amaral
Imagem: Reprodução Twitter

Karim ponderou que sempre que a mulher se envolve na pauta política acaba exposta, independentemente da sigla partidária. "É muito triste que o mundo esteja tão imaturo do ponto de vista da inserção, da diversidade, que mulheres ainda sejam vistas com tanto preconceito ao tentar romper essa barreira. Temos vários exemplos de mulheres que fizeram encontros com políticos e foram carimbadas."