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'Se Elza estivesse viva, me diria para ficar forte', fala diretora de filme

Cena do filme "Meu nome é agora" - Divulgação
Cena do filme "Meu nome é agora" Imagem: Divulgação

De Universa

21/01/2022 17h44

O corpo de Elza Soares foi velado na tarde desta sexta-feira (21) no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um dia depois de sua morte. O velório contou com a presença de famosos, amigos e familiares, mas Elizabete Martins —diretora de "My Name Is Now" ("Meu Nome É Agora"), filme que conta a história da artista— não pôde participar da última despedida da cantora.

Com covid, Elizabete (ou Bebete, como a própria Elza a apelidou) está se recuperando da doença em sua casa, em Minas Gerais. Por telefone, a diretora deu mais detalhes a Universa sobre os bastidores do filme e dos momentos fora do set, em que conheceu a "Elza de verdade". "Se ela ainda estivesse viva, com certeza me ligaria dizendo: 'Deixa de ser mole, fica forte, mulher'."

Lançado em 2014 ao público, o documentário levou cerca de cinco anos para ser produzido. As gravações começaram em 2008. Durante esse período, Elizabete conviveu com Elza quase que diariamente. "Ainda não estou acreditando que ela se foi. Para mim, ela era imortal. Ela sobreviveu a tanta coisa, chegou a cair do palco e sobreviver, como ela se vai assim, do nada?"

De acordo com a assessoria da cantora, Elza morreu de causas naturais em sua casa, na tarde desta quinta-feira (20). Pouco antes, a cantora publicou um tuíte em apoio a Linn da Quebrada, participante do "BBB 22". Elizabete conta que foi ela quem introduziu Elza ao mundo das redes sociais. Comprou um tablet para a amiga, criou um perfil no Facebook e disse que, a partir dali, ela podia se conectar com o Brasil inteiro com um clique só. "Ela era muito esperta. Adequava-se ao tempo em que estava vivendo."

E foi assim também com os movimentos e as pautas sociais. Mesmo sem nunca ter se declarado feminista, Elza não seguia os padrões do que se espera de uma mulher "tradicional". Elizabete concorda e, a seguir, relembra outras histórias que viveu ao lado da artista.

"Ela não precisava se declarar feminista"

Elizabete Martins, diretora do filme "Meu nome é agora", dá um selinho em Elza Soares - Divulgação - Divulgação
Elizabete Martins, diretora do filme "Meu nome é agora", dá um selinho em Elza Soares
Imagem: Divulgação

Elizabete afirma ter sido "abduzida" por Elza. Segundo a diretora, a relação das duas não era apenas de trabalho — mesmo que Elza adorasse trabalhar, estava "sempre feliz com a agenda cheia". Ela a descreve como uma pessoa alegre, brincalhona e, principalmente, produtiva.

"Ela era antenada e gostava de trabalhar com jovens. Se você me perguntasse em 2008 se a Elza era feminista, teria dúvidas sobre a resposta. Mas ela acompanhava o tempo em que vivia, portanto, com os protestos e revoluções sociais recentes, ela também foi adequando o próprio discurso e posicionamento. Era uma feminista na prática, não precisava se autointitular assim".

Para Elizabete, Elza gostava de provar o tempo todo que seu nome era "coragem". "Que mulher destemida! Por isso me acostumei à imagem dela imortal. Ela passou por tanta coisa e sempre deu a volta por cima", comenta.

"Elza me ensinou que, se me faltasse apoio de algum lugar, eu deveria procurar outro e chegar chutando a porta. Ela era tão poderosa e frágil ao mesmo tempo, nunca teve proteção de ninguém, sempre lutou sozinha. Imagina o quanto não sofreu ao ser uma cantora negra no Brasil na década de 60?", questiona Elizabete.

A mulher longe do palco

Elza Soares e Elizabete Martins durante gravação do filme "Meu nome é agora" - Divulgação - Divulgação
Elza Soares e Elizabete Martins durante gravação do filme "Meu nome é agora"
Imagem: Divulgação

Dos oito filhos da cantora, apenas quatro estão vivos. Ao ser questionada sobre a Elza mãe, Elizabete diz ter aprendido bastante com a artista. "Ela me falou que ninguém consegue ser artista e agradar a família o tempo todo. Sempre repetia que os filhos já eram adultos e, por isso, devia pensar na própria carreira e focar em si".

Quanto à parte amorosa da vida de Elza, Elizabete diz ter convivido com uma "mulher que vivia apaixonada". "O Garrincha foi marcante, é claro, mas Elza vivia apaixonada. Teve muitos amores depois dele. Ela era ousada", finaliza.

O filme "My Name Is Now" está disponível na Amazon Prime e narra a trajetória pessoal, profissional e artística de Elza.