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Casamento entrou em crise na pandemia? Terapia de casal pode ajudar

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Imagem: Getty Images

Ana Bardella

De Universa

11/04/2021 04h00

Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana: passando tanto tempo dentro de casa, as briguinhas de casal podem se transformar em discussões feias, os defeitos que antes eram bobos podem se tornar verdadeiros monstros e a relação, que antes parecia fluir, pode chegar gradativamente a um nível de desgaste difícil de ser recuperado.

Mesmo percebendo que as coisas não andam bem, há quem se arrepie só de pensar em recorrer à terapia de casal: para alguns, a ferramenta é vista como a última opção, o bote salva-vidas antes do divórcio. Uma espécie de atestado de que o casamento fracassou e agora precisa de "um milagre" para sobreviver. Profissionais da área, no entanto, discordam e fazem um alerta do quanto esse pensamento pode ser prejudicial.

"Certos pacientes esperam a união estar severamente prejudicada para procurar ajuda, tornando mais desafiador o processo. O ideal seria que os casais buscassem a terapia preventivamente, assim que percebessem que estão com dificuldades de se relacionar. Mesmo os casais mais jovens se beneficiam da prática", aponta a psicóloga Jarlem Magna da Cunha.

A seguir, explicamos como cinco situações estressantes da pandemia podem ser superadas através da terapia de casal (e por que não vale a pena deixar a ajuda para o último minuto):

Convívio excessivo

Sônia Estaquia, psicóloga e sexóloga, explica que toda relação se desenrola a partir de um encantamento. "Mesmo no casamento isso é mantido: os casais gostam de se reencontrar depois de um dia de trabalho, de uma viagem, pois se sentem atraídos um pelo outro", diz. No entanto, passar o tempo todo ao lado do parceiro evidencia mais seus defeitos. Sem o tesão e a saudade, perde-se a motivação para manter a relação harmoniosa. "É como se uma ou ambas as partes ficassem com preguiça de buscar a conciliação", explica.

A terapia pode ajudar o casal a identificar suas reais insatisfações e verbalizarem o que esperam da relação. "Alguns não se sentem confortáveis ou não querem fazer o esforço de dizerem o que esperam do outro, pois já estão acomodados. Mas ninguém é capaz de ler mentes, por isso as questões precisam ser ditas", aponta.

Casa transformada em ambiente de trabalho

O home office envolve perdas. "A pessoa que antes estava acostumada com o ambiente de trabalho tem que se adaptar a uma geografia diferente: amigos, rotinas e horários do antigo lugar ficam para trás", relembra Sônia. Além disso, a adaptação pode gerar insegurança com relação ao desempenho no trabalho. "Muitos se questionam se estão obtendo resultados satisfatórios, se estão cumprindo com o esperado", ressalta. Tudo isso é fonte de estresse.

"Na terapia, relembramos os pacientes sobre uma das maiores capacidades humanas: a de resiliência. Com isso, toda a raiva, indignação e irritabilidade que tendem a ser descontadas no parceiro se tornam mais fáceis de controlar. Logo, a convivência fica mais respeitosa e gostosa", resume.

Divisão de tarefas

Mesmo quem não dispensou o auxílio de uma faxineira para cuidar da casa notou que a lista de afazeres domésticos aumentou. Sem a alternativa de sair, pratos, talheres e copos sujos parecem se multiplicar na pia e pelo menos um dos cômodos vive bagunçado. "Muitas vezes, no consultório, percebo que a divisão de tarefas se torna uma questão porque os dois querem se esquivar de algo que precisa ser feito. Então começa a discussão sobre quem é o mais atarefado durante o dia ou qual dos serviços é o mais importante", exemplifica Sandra Baldacci, psicóloga especialista terapia de casal e família.

Quando isso se torna pauta de uma sessão, o terapeuta conduz o casal até a raiz do problema. "É preciso identificar quais mágoas estão por trás de cada argumento e questões culturais, como a forma como cada um foi educado. Em geral, questões pontuais ajudam a identificar problemas estruturais na forma como a relação foi construída e como ela se desenvolve", completa.

Convívio com os filhos

Casais com filhos pequenos enfrentam situações mais desafiadoras ainda: o tempo que antes era dividido entre escola, cursos extracurriculares e convivência com outros parentes, ficou concentrado apenas com os pais. "Isso desperta sensações de raiva e ansiedade tanto nos adultos como nas crianças", explica Sônia. Enquanto o filho pede prioridade de um lado, os chefes pedem prioridade do outro e cabe ao casal se organizar para dar conta de tudo.

"Na terapia, oferecemos as ferramentas para que ambos possam desenvolver ou aprimorar virtudes como a paciência, a gentileza e a colaboração. Muitas vezes, usamos de técnicas da psicologia cognitivo-comportamental para ajudar o casal com questões práticas, como a organização de horários na vida cotidiana", completa.

Estresse que afeta a libido

Há quem chegue ao consultório com uma queixa específica: a falta de vontade de transar. "É preciso entender, no entanto, o que está por trás desse incômodo. O que tirou a admiração? Qual mágoa está impedindo os dois de terem uma vida sexual satisfatória?", questiona Sandra. Na terapia, o casal aprende a enxergar o sexo como complemento e não como um assunto separado. "Ou seja: não adianta ter pressa para resolver, como se fosse apenas apertar um botão. É preciso ir mais fundo e entender como o outro está se sentindo para transformar o que esfriou", finaliza.