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Em live pré-Parada, artistas LGBTQIA+ falam de infância, internet e traumas

Gloria Groove, cantora e drag queen, participou do UOL Debate desta quinta (11) - Rodolfo Magalhães/Divulgação
Gloria Groove, cantora e drag queen, participou do UOL Debate desta quinta (11) Imagem: Rodolfo Magalhães/Divulgação

Nathália Geraldo

De Universa

11/06/2020 17h29

A experiência de ser uma "criança viada" ou "criança sapatona" interfere diretamente na construção da personalidade de uma pessoa LGBTQIA+. A drag queen e cantora Gloria Groove falou sobre o tema durante o UOL Debate promovido por conta do Mês do Orgulho LGBTQIA+, nesta quinta-feira (11).

"Quando a gente é diferente, cria mecanismos de defesa para conseguir viver as experiências com mínimo de conforto e passabilidade. Por isso, um adulto LGBT tem sempre a missão de conseguir separar o que realmente é das máscaras que construiu para sobreviver à infância e à adolescência."

Na live, a mediadora Angélica Morango, colunista de Universa, Gloria, Bruna Linzmeyer, os youtubers Fih e Edu, do canal Diva Depressão, e a drag queen Lorelay Fox dividiram relatos sobre suas vivências como produtores de conteúdo LGBTQIA+, militância, relação com a família e com os fãs.

Além disso, convidaram o público para a Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo que, neste domingo (14), será realizada virtualmente. O tema da edição é "Sejamos o pesadelo dos que querem roubar a nossa democracia". Fih e Edu, do canal Diva Depressão, serão os hosts do evento pela terceira vez consecutiva.

Confira a seguir trechos da conversa.

Artistas LGBTQIA+ falam de orgulho e experiências

Foi por conta dos haters, pessoas que atacam seu trabalho pela internet, que a drag queen Gloria Groove conseguiu avaliar como um comportamento da infância se refletia em sua vida adulta. "Eles me ajudaram a superar essa necessidade de ser validado por todos", pontua, explicando que durante toda a vida havia tentado "se encaixar" às regras sociais regidas pela heternormatividade.

Edu, do Diva Depressão, comentou sobre o trauma que carrega por ter sido uma criança afeminada. "'A coisa que eu mais ouvi na minha infância foi 'Fala grosso!'", diz. "Se as pessoas tivessem noção do quanto isso faz mal para a cabeça de uma criança, jamais falariam isso. E eu guardo com muita mágoa; é a minha voz, o que eu vou fazer?", disse. "A maior liberdade do ser humano é poder ser uma criança espontânea."

Fih destacou que, quando pequeno, gostava de brincar de bonecas, mas não podia. "Era um misto de sentimentos, porque eu não me identificava como uma 'criança viada', mas queria brincar com os meninos e com as meninas; e as pessoas falavam que aquilo é proibido."

Militância LGBT, exposição e internet

Os artistas falaram sobre como o meio digital é um lugar de reunir pessoas que nem sempre têm proximidade física para conversar sobre a vivência LGBT e que a Parada deste ano é uma oportunidade de fazer com que a mensagem de democracia, tema do evento, chegue a mais pessoas.

"Vamos estar unidos mesmo separados. O evento vai aproximar a gente de um jeito que nunca vimos. As pessoas LGBTs que estão em casa sem ninguém com quem se identifique terão um abraço, mesmo que virtualmente", comentou Fih, destacando que o diálogo na internet também deve ser de inclusão.

"Na parada, a gente acaba deixando umas siglas de lado. Neste ano, vamos aproximá-las ainda mais, principalmente pelo tema, em que vemos recortes: da sigla, da cor, das vivências". A dupla fará pela terceira vez a transmissão do evento.

Além de lugar de luta, Lorelay Foxa lembra que a web também pode ser uma forma para que a comunidade LGBTQIA+ não se reúna só pela dor. Ela destaca o fato de os produtores de conteúdo também precisarem valorizar a saúde mental frente a temas mais delicados.

"Há assuntos que disparam coisas em mim; casos de suicídio, por exemplo, mexem comigo. E aí, as pessoas pedem para eu falar", avalia. "É complicado lidar com a cobrança e com a saúde mental, porque as vezes a gente só quer dar risada, e não dar textão na internet."

Nas redes sociais, quem fala sobre diversidade acaba sofrendo com ataques, por vezes. Bruna Linzmeyer, que falou sobre ter se descoberto lésbica e sua experiência como uma "mulher padrão", diz que os comentários ofensivos se tornam termômetro da situação social do Brasil. "Eu leio como um sintoma do que está acontecendo no país."

Primeira parada LGBTQIA+ pela internet

parada lgbtqia+ - Getty Images - Getty Images
Evento virtual acontecerá em 11 canais do Youtube simultaneamente, neste domingo (14)
Imagem: Getty Images

Por conta da pandemia do novo coronavírus, a Parada do Orgulho LGBTQIA+ da Avenida Paulista, em São Paulo, será realizada na internet.

Pela primeira vez, ela será transmitida simultaneamente em 11 canais do YouTube no próximo domingo (14), a partir das 14h (horário de Brasília).

O evento terá o comando de Fih e Edu, ao lado de Lorelay Fox, Mandy Candy, Jean Luca, Nátaly Neri, Louie Ponto, Spartakus Santiago, e Herbertt e Fernanda, do Canal das Bee. Serão realizados shows de Gloria Groove e Daniela Mercury.

Em 2020, a Parada tem como slogan "Sejamos o pesadelo dos que querem roubar a nossa democracia".