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Depois de levar cantada, ela criou empresa para atender mulheres e LGBTs

Rebeca Nevares, da Ella"s Investimentos - Divulgação
Rebeca Nevares, da Ella's Investimentos Imagem: Divulgação

Paulo Moreira

Colaboração para Universa

20/01/2020 04h00

A empresária Rebeca Nevares, 33, sempre esteve atenta às diferenças de tratamento entre mulheres e homens. Até que um dia, depois de levar uma cantada em uma entrevista de emprego, resolveu dar um basta e criar algo para, de alguma forma, tentar mudar essa desigualdade. Com 13 anos de experiência no mercado financeiro, ela sabia bem que ter controle sobre o próprio dinheiro é uma das formas mais bem-sucedidas de conquistar autonomia.

Assim, juntou-se a duas amigas — Carol Barros, 33 e Carolina Sandler, 35 — e fundou a Ella's Investimentos. Trata-se de uma assessoria financeira especializada mulheres e pessoas LGBTs, Em pouco mais de dois meses de operação, o trio já conquistou 400 clientes e tem o objetivo de chegar a 3 mil em seis meses, com R$ 2 bilhões sob custódia em dois anos.

Tratamento especial

A diferença entre a Ella's e outras assessorias do tipo está principalmente no atendimento, que é todo feito por mulheres e tem uma abordagem peculiar. A clientela é incentivada, por exemplo, a falar sobre seus sonhos, metas e limitações. Além disso, não há uma carteira de investimentos pronta, concebida de acordo apenas com o perfil financeiro da pessoa. A operação é customizada individualmente e inclui uma espécie de educação financeira, que visa ajudar as pessoas a aprender a lidar com o próprio dinheiro e conquistar a independência financeira.

Priscila Carvalho, 37, é uma das primeiras clientes da assessoria. Há quatro anos ela vem investindo seu dinheiro, mas a forma como era atendida a incomodava. "O que sentia falta era de alguém que buscasse me entender como indivíduo, com minhas peculiaridades. Sentia que todos os investidores eram vistos de forma igual, lucro pelo lucro. Agora é diferente", diz.

Parceria com Parada do Orgulho LGBT

Para se aproximar da comunidade LGBT, a Ella's estabeleceu uma parceria com a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Em dezembro, chegaram a realizar um evento para falar de economia e finanças pessoais para todos.

"É importante dizer que, às vezes, temos a mania de pensar no homem gay e na mulher lésbica, mas existem, por exemplo, as pessoas trans que são altamente marginalizadas, principalmente quando vão a uma agência bancária ou tentam falar sobre investimentos. É um público que está totalmente desassistido. O nosso objetivo é incluir sem excluir", diz Rebeca.

Desigualdade histórica

Rebeca explica que as mulheres ainda têm muito medo de investir, porque o próprio contato com bancos é recente — elas só conquistaram o direito a abrir uma conta bancária sem autorização do pai ou marido em 1962. "A mulher acabou delegando esta função para algum homem do contexto social no qual ela estava inserida", diz.

Pela falta de preparo de gerentes e corretoras para entender esses medos e inseguranças, Rebeca vê que há um grande potencial de mercado desperdiçado. O número de mulheres na bolsa de valores representa 22% do total de investidores de acordo com dados da B3. No Tesouro Direto, a participação representa menos de 30% do total.

"A falta de educação financeira faz com que as estatísticas não sejam muito favoráveis para este público. A insegurança vem por uma questão de falta de representatividade, de conexão, no atendimento de um assessor ou gerente. Isso vale tanto para mulher quanto para as pessoas LGBT e gera insegurança para que ele ou ela possa falar sobre objetivos e sonhos. É um combo de fatores", diz Rebeca.