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Deu Match!?

Eles são casados, mas usam um aplicativo de traição: por quê?

Ana Bardella

Colaboração para Universa

27/07/2019 04h00

Quem usa aplicativos tradicionais de relacionamento, tais como Tinder e o Happn, sabe que uma parte dos perfis é de pessoas comprometidas em busca de saídas casuais. Em geral, estes usuários ocultam o rosto ou o nome para evitar risco de serem pegos.

No entanto, apesar da grande adesão a essas plataformas, existem outras, mais segmentadas, para unir pessoas com este mesmo objetivo. No Brasil, um dos serviços mais famosos se chama Ashley Madison. Apesar da origem norte-americana, de acordo com informações divulgadas pela empresa, o Brasil é o país que mais utiliza os serviços para as puladas de cerca.

No site ou aplicativo, é possível criar o cadastro gratuitamente. Lá, existem instruções para manter seu uso o mais discreto possível: o recomendado é utilizar janelas anônimas de navegação e criar uma conta de e-mail sem identificação com o nome, para que ninguém mais tenha acesso. Ao fazer o cadastro, a pessoa informa se é solteira, comprometida e do que está em busca. Por exemplo: "mulher comprometida à procura de homens", "mulher procurando mulheres". Somente para os perfis de mulheres em busca de homens o site é gratuito. Para os perfis masculinos ou femininos que buscam conhecer outras mulheres, os pacotes são pagos e os valores variam de acordo com a quantidade e o tipo de mensagens enviadas (se deseja falar em tempo real ou não, por exemplo).

Conversamos com usuários da plataforma para entender por que escolheram trair e como lidam com isso no seu dia a dia. As entrevistas foram feitas por telefone e Whatsapp nos horários que os entrevistados escolhiam -- uma delas preferiu falar no domingo, às 8h da manhã, quando todos na casa estavam dormindo. As mulheres falavam sobre o assunto com mais timidez, em um tom baixo. Os dois homens entrevistados não tinham pudores: conversavam livremente sobre como agiam e contavam detalhes dessa jornada.

Para testar, a reportagem baixou o aplicativo: em 48 minutos foram 33 notificações de homens -- um número bem acima da média de notificações em aplicativos para solteiros.

"Estabeleço regras"

"Achei que estava sendo pouco desejada em casa. Por causa disso, quase tive um caso com um colega de trabalho, mas fiquei com medo de que a história vazasse e pudesse me trazer complicações na vida profissional. Comentei com algumas amigas e elas me indicaram o site. Até então, era fiel. Mas a maior parte das minhas experiências foi boa, acabou rolando de tudo e saciando as minhas expectativas. Marco os encontros longe de onde eu moro e trabalho, para ninguém descobrir.

Pretendo continuar com o meu relacionamento, pois meu marido é uma boa pessoa, que contribui para o lar e na educação dos nossos filhos. Também sinto medo que ele descubra por ser uma pessoa conservadora. Não sei como lidaria com a situação. Para manter o segredo, uso aplicativos de mensagens menos conhecidos e sempre estabeleço regras para o contato, como horários nos quais podemos nos falar e nos ver. Evito dar de cara o meu nome verdadeiro e não mando muitas fotos."

Marlene, 35 anos

"Desconfiei que ele era infiel"

"Estou com o meu marido há 17 anos. Antes de utilizar o site já havia tido algumas experiências extraconjugais com pessoas do meu convívio social: um da faculdade, outro do trabalho. Mas há três anos decidi usar e gostei muito. Nesse tempo, saí com mais de dez homens. De alguns gostei menos e por isso não saí novamente. Já com outros, acabou durando meses. A principal motivação para procurar novas pessoas foi a monotonia do casamento. Queria sentir coisas novas, aquele "frio na barriga".

Como já desconfiei que ele também pudesse ser infiel, tomei essa decisão. Apesar disso, não penso em terminar. Temos uma casa, uma filha e uma vida estruturada. Também o considero uma pessoa bacana, animada e nós conversamos bastante. Mas a parte sexual deixa a desejar. Por isso pretendo continuar usando: acho sigiloso e fácil. Como estudo à noite, tenho um pretexto para sair. Mas ajo sempre da forma mais natural possível, por isso nunca tive problemas em manter meus segredos."

Mari, 36 anos

"Gosto da minha vida dupla"

"Conheci a plataforma por indicação de uma amiga. Baixei, encontrei uma mulher bacana que também era casada e com a qual mantive um relacionamento por quase um ano. Recentemente ela se mudou para outro país e terminamos. Agora voltei a utilizá-lo. Não me relaciono fora de lá para evitar julgamentos. Se eu me insinuo na 'vida real' para alguém que vê a aliança no dedo, a pessoa pode ficar indignada. Ali está todo mundo no mesmo barco.

Minha motivação foi a rotina. Com 15 anos de casado e duas filhas, o sexo não é mais o mesmo. Acordar e dormir com a mesma pessoa é difícil. Amo a minha esposa e não pretendo me separar, mas sempre pensei: "Vou deixar o casamento acabar porque o sexo não está bom?". Havia muita cobrança da minha parte. Por causa disso, me cadastrei. Entrei achando que os homens gostavam muito mais de transar do que as mulheres, mas percebi que estava errado. A maioria delas também é comprometida e quer de volta a adrenalina. Confesso que da primeira vez senti remorso. Mas depois que passei dessa fase, só notei benefícios.

Sou empresário, tenho horários flexíveis e viajo muito a trabalho. Isso facilita os encontros e a verdade é que gosto dessa vida dupla. Mas faço de tudo para me resguardar porque acredito que uma exposição poderia constranger minha mulher. Já passei por saias justas, mas consegui sair de todas. Acredito que se descobrisse, ela não aceitaria. Tem uma personalidade "certinha", jamais toparia um relacionamento aberto. Também penso que é preciso uma certa evolução para ter esse tipo de compromisso. Se eu chegasse com essa ideia em casa, dormiria no sofá por três dias. Mas não sou machista, acho que se eu posso, ela também pode. Se fosse discretamente, dentro das normalidades, aceitaria."

Marcelo, 43 anos

"Quem trai se entrega"

"Aprendi uma coisa usando o aplicativo: a coisa tem que ser rápida. Comecei a usar porque meu casamento estava estranho, frio. Minha mulher sofre com depressão e tem dias bons, mas a maioria deles são ruins. Por causa disso passa meses sem transar. Eu tenho alguém, mas me sentia só. Então saí com duas pessoas, cinco vezes com cada. Mas percebi que estava ficando "sério": começaram a surgir ciúme e cobranças por parte delas, que também eram casadas. Uma era secretária e seu marido viajava a trabalho. Quando ficava sozinha de madrugada, queria me ligar. Mas eu não podia atender... Foi quando falei que não poderíamos continuar.

Percebo que o que faz as pessoas traírem é a carência. O que mais escutei das mulheres é que gostavam de ter relação todos os dias, mas seus maridos não ligavam. Por isso faziam tudo o que podiam no sexo, porque não tinham em casa. Mas é uma experiência estranha: quem trai se entrega muito. Por isso é fácil acontecer uma paixão, até um amor. Apesar de não sentir ciúmes, eu tive sentimentos. Tive saudade, queria ver com frequência. Fiquei triste quando acabou. Hoje vejo como um erro e entendo que isso não pode acontecer. Essa é a razão pela qual estou buscando apenas encontros únicos."

Walter, 49 anos

"Me soltei na cama"

"Depois de 22 anos de casada, me vi em uma relação desgastada na qual meu marido não sentia mais atração por mim. Sentia vontade de ser outra mulher na cama, mas me faltava coragem pois estou com ele desde que tenho 18 anos e me via muito fechada. Queria ser mais explosiva, mas tinha vergonha. Procurei o aplicativo para saber se com outro homem eu conseguiria. Foi assim que me soltei. Conheci várias pessoas e tenho um parceiro fixo desde outubro.

Realizei minhas fantasias e consegui colocar isso em prática no meu casamento. Antes meu esposo não ligava muito, agora até ciúmes de mim ele tem. Eu o amo e não penso em desfazer a união. Jamais contaria sobre as minhas experiências porque sei que ele não aceitaria -- mas também não penso em deixar de usar o app. Consigo separar bem as coisas. Tenho um telefone só para as paqueras, que deixo no trabalho. Como sou contadora, meus encontros são sempre em horários comerciais."

Adélia, 46 anos

Deu Match!?