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Culpa, tristeza, vergonha, medo e raiva: o "quinteto" que acaba com o sexo

Sentimentos mal resolvidos podem afetar a sexualidade - Getty Images/iStockphoto
Sentimentos mal resolvidos podem afetar a sexualidade Imagem: Getty Images/iStockphoto

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

28/06/2019 04h00

Por mais que exista tesão, desejo, vontade de estar com alguém, nem sempre a mente age de maneira alinhada ao corpo. Alguns sentimentos mal resolvidos podem afetar a sexualidade, interferindo negativamente na forma de dar e receber prazer. A boa notícia é que, com boas doses de conscientização e autoconhecimento, é possível se livrar de todos eles. Veja cinco inimigos do sexo:

Culpa

Não conseguir gozar e não falar nada para o par, se masturbar e se achar "suja" por isso, ter fantasias sexuais e não realizar por causa de crenças e tabus e por aí vai. Não são poucas as razões envolvendo sexo que muitas mulheres encontram para se sentirem culpadas e afastarem o prazer de suas vidas. "Nesses casos, há uma repressão da sexualidade que geralmente vem da infância e adolescência, quando a menina estava descobrindo seu corpo. Isso acontece porque muitas famílias têm dificuldade de falar sobre sexo e orientar os filhos, daí acabam evitando falar no assunto ou passam a tratá-lo como algo feio", diz a psicóloga e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, de São Paulo (SP).

Essas repressões ficam registradas no inconsciente como coisas que não devem ser feitas, sob o risco de "punição", daí a culpa aparece. O ideal é repensar sua vida sexual e se permitir sentir prazer, falar sobre o assunto e sobre os sentimentos guardados e tentar elaborá-los de modo racional, sob a ótica da mulher que é hoje.

Muitas mulheres também ficam mal quando não atingem o orgasmo e fingem obtê-lo, evitando abrir o jogo com o parceiro. "Elas se sentem culpadas por não conseguirem, como se isso fosse uma regra básica. Nesse caso, o sentimento de culpa é muitas vezes gerado por uma autoexigência muito grande na performance sexual", fala a psicoterapeuta Mônica Pantarotto, de São Paulo (SP). Cobrar-se menos, cultivar expectativas realistas e curtir o caminho que conduz ao clímax, em vez de se concentrar só nele, são atitudes que podem ajudar.

Tristeza

Episódios pontuais de tristeza --por causa de um luto, uma perda ou quando algo não dá certo no dia a dia-- costumam se refletir na vida sexual. "Não há estímulo para o desejo nem para o prazer. A mulher não consegue valorizar-se, enxergar-se, encontrar forças emocionais e físicas para viver momentos na cama", observa a psicóloga e terapeuta de casal Sandra Samaritano, de São Paulo (SP), que avisa: "Se o quadro de melancolia e desânimo persistir por um tempo considerável é importante buscar ajuda profissional, pois pode ser sintoma de um problema mais complexo como a depressão."

De acordo com Mônica, em alguns casos, a tristeza pode ser originada dentro da própria relação. "Isso ocorre quando o relacionamento deixou de ser alimentado positivamente por causa de problemas, há pouco espaço para o namoro e preliminares, a rotina corrida do cotidiano e a dificuldade de expressar o amor. Daí, as pessoas acabam desistindo e se acomodando em um relacionamento pobre e infeliz", explica. Para mudar essa situação, sentem, conversem e pensem em soluções.

Vergonha

Trata-se de um sentimento bastante negativo e que impede qualquer pessoa de se entregar por completo e ser feliz no sexo. "Ela é comum entre mulheres que ainda não se assumiram plenamente como adultas e donas do próprio corpo. A vergonha inclui o medo do julgamento do outro, já que falta confiança em si mesma. Provavelmente, essas mulheres tiveram figuras parentais muito críticas, que a fizeram crescer e entender o mundo de forma muito rígida", segundo Carmen Cerqueira Cesar, psicoterapeuta e terapeuta de casais, da capital paulista.

Segundo Carmen, para que a mulher possa ser plena no sexo, ela tem que trabalhar sua rigidez interna e reavaliar o que introjetou dos pais e da sociedade --por causa da educação repressora ou religião, por exemplo--, para que possa dar mais espaço para o impulso. Ser você mesma faz ajuda a expressar seu potencial afetivo e sexual.

Medo

O medo é um dos sentimentos mais limitadores nos relacionamentos amorosos. A ansiedade excessiva em conseguir gozar e/ou ter um desempenho incrível na cama acaba causando o efeito rebote, deixando a mulher mais travada na cama. O receio de se expor também acaba se transformando em um impedimento na comunicação dos casais. "O desejo de agradar o parceiro faz parte da troca afetiva, mas muitas vezes se torna excessivo e bloqueia a expressão da verdade. O prazer sexual deve respeitar as necessidades de cada um e suas limitações. É importante ter claro para si mesma aquilo que lhe faz bem e proporciona prazer, para que a relação sexual seja fluída e prazerosa", salienta Mônica.

Raiva

Relacionamentos anteriores problemáticos, traições, abandonos ou até mesmo algum histórico de abuso são motivos genuínos para qualquer mulher sentir raiva, muita raiva. É algo perfeitamente normal. O problema, no entanto, é se tornar uma refém eterna dessa raiva, julgando de forma negativa toda nova possibilidade de experiência. Ninguém precisa deixar que uma dor do passado conduza todo o resto da vida. "Cada relacionamento é único, então é necessário evitar trazer conteúdos de outras relações para a atual", fala Priscila. Conversar sobre o que aconteceu com o parceiro é bom para que ele saiba sobre você.

Se houve algum abuso sexual na infância ou adolescência, é importante buscar ajuda especializada, para que consiga tratar esse acontecimento e ter uma vida sexual saudável, livre de defesas e bloqueios. "Não é reprimir a raiva, pois essa atitude também gera sintomas prejudiciais e até doenças psicossomáticas, mas de usá-la de forma positiva, impulsionando uma ação para mudar", completa Sandra.