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Quebrada Queer, 1º grupo de rap LGBT do Brasil: "Fomos ameaçados de morte"

Da esq. para dir.: Tchelo, Guigo, Lucas, Murillo e Harlley se conheceram pela internet  - Reprodução/Instagram/@quebradaqueer
Da esq. para dir.: Tchelo, Guigo, Lucas, Murillo e Harlley se conheceram pela internet Imagem: Reprodução/Instagram/@quebradaqueer

Natália Eiras

Da Universa

22/01/2019 04h00

Tchelo Gomes, 26, de Barueri (SP), não se considera um rapper, apesar de considerar um cantor e compositor que rima e de sempre ter gostado do gênero musical. "Nunca me identifiquei com ele por conta das letras e das músicas, então não me vejo na posição de me considerar um rapper", diz à Universa. Foi desta falta de identificação que ele decidiu juntar artistas que, assim como ele, fossem negros e gays para formar a Quebrada Queer, primeiro grupo de rap LGBT do Brasil. 

Tchelo Gomes, 26, quis fazer uma cypher com temática gay - Reprodução/Instagram/@quebradaqueer - Reprodução/Instagram/@quebradaqueer
Tchelo Gomes, 26, quis fazer uma cypher com temática gay
Imagem: Reprodução/Instagram/@quebradaqueer

Apontado como um dos 20 artistas para ficar de olho pelo YouTube Music, o grupo, formado por Tchelo, Murillo Zyess, Guigo, Harlley, Apuke e Lucas Boombeat, estreou com a música "Quebrada Queer" em junho de 2018, que mistura trechos como "você trombou com as bichas errada e agora vai ter que escutar" com pajubá, gíria usada pela população LGBT. No vídeo, o sexteto veste roupas coloridas, maquiagem e top cropped. O som, cujo clipe tem mais de 2,3 milhões de visualizações no YouTube, fez barulho. Para o bem e para o mal. "Fomos ameaçados de morte quando ele saiu. Falavam que iam botar fogo na gente se nos vissem na rua", comenta Tchelo, em entrevista por telefone.

Segundo o artista, os ataques vieram não só dos costumeiros haters de internet, mas também porque a cena do gênero musical é "estruturalmente preconceituosa". "Tem muita gente que ainda fala que não tem lugar para gay no rap. A gente ficou com bastante medo", lamenta. Em contrapartida, eles receberam mensagens de gratidão de pessoas que haviam tentado se matar ou tinham sido expulsos de casa e que se sentiram representados pelo vídeo. "Foi o que fez a gente segurar a barra. Teve gente que dizia que começou a gostar de rap por causa da gente, porque começaram a se identificar com o estilo". 

A DJ Apuke entrou para as picapes da Quebrada Queer em junho - Reprodução/Instagram/@quebradaqueer - Reprodução/Instagram/@quebradaqueer
A DJ Apuke entrou para as picapes da Quebrada Queer em junho
Imagem: Reprodução/Instagram/@quebradaqueer


União faz a força 

A Quebrada Queer surgiu, inicialmente, como uma cypher, quando rappers com carreira solo se unem para se apresentar juntos. "Mas percebi que não tinha nada com temática gay. Então, chamei o Murillo para fazer acontecer", explica Tchelo. Logo, um foi indicando o outro até chegar à formação atual. No início, Rico Dalasam cogitou participar do grupo. "Mas ele tinha outros projetos e não deu certo", fala. A DJ Apuke entrou para o grupo no primeiro show deles. 

Os seis artistas têm as suas próprias carreiras solo, mas decidiram começar a se apresentar juntos porque poderiam "causar" mais juntos. Apesar de serem o promeiro grupo abertamente gay, Tchelo diz que eles não são os primeiros. "Tem muita gente LGBT boa fazendo rap, não somos pioneiros. Mas eles ficam com medo e vão mais para o pop, porque esses artistas acham que vão sofrer tudo aquilo que a gente já sofre na rua, a homofobia, a agressão, mas em cima do palco", fala. 

E esta homofobia pode vir de diversas formas, uma delas sendo o descaso. Tchelo conta que é comum o sexteto ser subestimado pouco antes de fazer um show. "Desde o contato com o contratante, que não quer pagar o cachê que pedimos apesar de termos público, números para mostrar, até o técnico que não nos leva a sério na passagem de som", diz. No entanto, é com o microfone na mão e a rima na ponta da língua que todo esse preonceito cai por terra. "No fim, eles pedem foto com a gente, porque veem que somos bons. Mas é foda, a gente tem que ficar provando", narra. 

A homofobia não para nos bastidores. "Tem gente do rap que finge que não nos viu", comenta Tchelo. Eles encontram parceria, porém, com as mulheres rappers. "Elas criaram essa abertura com a faca nos dentes", agradece o cantor. Karol Conká e as integrantes do grupo Rimas e Melodias são algumas dessas artistas que os apoiam. "Também recebemos um supercarinho do Criolo", pontua. Tanto que a Quebrada Queer vai abrir o show do artista no Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ), em fevereiro. No ano passado, eles fizeram uma parceria com a drag Gloria Groove em "Sem Terror". 

Groove e Pabllo Vittar são, inclusive, referência para Quebrada Queer. "A gente quer seguir os passos das drags", afirma Tchelo. Por terem sido os desbravadores, o sexteto pretende "arrombar" portas para outros rappers LGBT. "Queremos dar visibilidade para essas pessoas. Meu maior sonho é ver LGBT ocupando outros segmentos, como o sertanejo e o reggae".