Ana Amélia, sobre ser presidente: complicação arrumar cabelo, roupa, sapato
Vice de Geraldo Alckmin, a senadora Ana Amélia (PP-RS) é vista pelo partido como uma das principais - e últimas - estratégias para tentar alavancar a candidatura do tucano, estacada entre 7% e 9% das intenções de voto. A avaliação interna é que Ana Amélia tem amealhado votos no Sul e que sua boa comunicação, ela é jornalista, ajuda na de Alckmin. "Ele não pode usar nomes técnicos como spread. Tem que falar em taxa de juros!".
Nesta entrevista, ela garante que não se arrepende de ter preterido a reeleição, praticamente certa, ao Senado, que não tem vontade de ser presidente "porque para mulher é uma complicação" e crava o ferro da lei na mulher que faz aborto: "tem que ser criminalizada".
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A senhora desistiu de uma campanha ao Senado praticamente ganha para ser vice de Alckmin. Se arrepende?
Posso me arrepender de minha omissão, mas nunca da minha decisão. Estou convencida de ter tomado a decisão correta para ajudar o país; modestamente, dentro da minha contribuição, trabalhar para que o Brasil se veja em condições de oferecer oportunidades aos jovens que estão saindo daqui e a recuperação da credibilidade do país, para que se torne um porto seguro para investimentos, e não, um país que está à deriva.
Pesquisa Datafolha aponta que 59% dos brasileiros são contrários a mudanças na atual lei do aborto, ante 67% que pensavam assim em 2015. As pessoas estão mudando de ideia. A senhora também se diz contra. Nenhuma possibilidade de mudar de ideia?
Não. É preciso compreender que a legislação é adequada. A mulher que chegou a esse ponto tem que ser criminalizada, mas não pode ir à prisão. Sugiro uma pena alternativa, como trabalhar numa creche ou na educação de meninas. Essa é a minha posição. Mas respeito quem pensa o contrário. Você precisa insistir na educação das jovens e no entendimento de que não podem descuidar da prevenção. As meninas perdem a juventude e a escola por conta de gravidez precoce.
Mesmo com mais tempo, mais dinheiro e ataques a Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a campanha do PSDB não decola, dizem as pesquisas. O que deu errado?
Às vezes uma eleição se decide dois dias antes do pleito. A pesquisa é um sinalizador, um orientador. Mas percebo uma sensibilidade do eleitorado contrária à política, contaminada por processos como o Mensalão e o Petrolão, e que joga todos na vala comum, como se fossem iguais. É uma incoerência alguém que está há 27 anos na política (a senadora se refere a Bolsonaro) fazer ataques ao sistema a que pertence e não ter nunca se insurgido contra ele. Vê-se também um governo que saiu por conta de graves erros cometidos, depois de 13 anos de administração (aqui, ao PT), e agora está numa posição de competitividade no processo eleitoral. Por qual motivo o eleitor está se submetendo a isso?
Alckmin registrou queda entre as eleitoras de 11% para 8%, enquanto Haddad aumentou de 8% para 19%, segundo o Ibope. Qual o motivo, na sua opinião?
O mesmo candidato que não conseguiu a reeleição em São Paulo como prefeito agora é levado a ser o poste do ex-presidente Lula para repetir o que foi a administração de Dilma Rousseff. Esse é o quadro que temos.
Gostaria de ter sido a candidata à presidência?
Não me considero habilitada para um desafio desse tamanho. A área política é uma questão muito delicada. Você se expõe demais. Mulheres não aceitam muito essa superexposição. E não dá para se planejar. Saí na semana passada para ficar três dias fora e estou há uma semana. E tem as malas de viagem. Para a mulher é uma complicação. Tem que arrumar o cabelo, ir ao salão, cuidar da roupa, sapato que combine com não sei o quê, estar minimamente cuidada. Tudo isso nos exige mais tempo.
A senhora defende que os agricultores possam ter armas dentro de casa para se defenderem. Não é melhor levar a polícia para o campo?
Não. Muitas propriedades não têm telefonia celular, outras, não têm sequer energia e ficam a mais de 100 quilômetros de um posto policial. O agricultor não pode ficar desprotegido dessa maneira. Tem que defender seu patrimônio, mas, sobretudo, seu bem maior, a família.
Em que a senhora, senadora de primeiro mandato, está ajudando na campanha de Geraldo Alckmin, um político profissional?
Ele me repassa o que tem feito, sinaliza sobre os próximos dias. Como sou jornalista, dou dicas sobre as melhores formas de se comunicar com as pessoas. Ele precisa ter uma linguagem clara, não pode usar siglas e nomes técnicos como spread. Tem que falar em taxa de juros! Não adianta falar de crise fiscal. O que a pessoa comum entende?
Nesses dias de campanha na rua, o que a surpreendeu nele?
Dia desses, em São Paulo, estávamos no carro, e ele pediu para parar numa farmácia para comprar um barbeador. Imaginei que o motorista ia buscar, mas ele desceu do carro sozinho e veio com saquinho. Isso, para mim, é simplicidade. Descobri que um dos hobbies dele é abrir uma caixinha com pastinha de engraxar e lustrar o sapato.
Qual a importância de uma vice mulher?
Podemos fazer uma permanente vigilância sobre a implementação de políticas para as mulheres; estar em todos os momentos como uma espécie de Sininho, a dos desenhos. A narrativa de dar o empoderamento das mulheres não deve ficar apenas no discurso. Apenas 12% do Senado é composto por mulher, e, na Câmara, 10%. Um dos pedidos que fiz a Alckmin foi que os ministérios tenham mais mulheres, e que elas não sejam só da área política, mas médicas e professoras, por exemplo.
De que forma, objetiva, a senhora pode atuar nas decisões referentes a feminicídio e mais vagas de emprego para mulheres?
Fui relatora do projeto que ampliou os direitos trabalhistas para as domésticas, e quero incentivar no país um programa da ONU Mulheres para promover a igualdade salarial entre os gêneros nas empresas. Também farei uma espécie de patrulha da Lei Maria da Penha. Vamos dar suporte aos Estados para que ampliem o número de delegacias de atendimento às mulheres vítimas de agressão.
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